Sinopse

As desventuras de Pai Tomás, um escravo negro, de bom coração, que vai passando de mãos em mãos, enfrentando senhores de engenho cada vez mais cruéis.

A trama aborda a luta política, social e econômica entre escravos e latifundiários no sul dos Estados Unidos, à época da Guerra da Secessão, focalizando a vida de Pai Tomás e sua mulher, Cloé.

Globo – 19h e 19h30
de 7 de julho de 1969 a 1º de março de 1970 (Rio)
de 9 de julho de 1969 a 28 de fevereiro de 1970 (SP)
205 capítulos

novela de Hedy Maia
escrita por Hedy Maia, Péricles Leal e Walther Negrão
baseada no romance homônimo de Harriet Beecher Stowe
direção de Fábio Sabag, Daniel Filho, Wálter Campos e Régis Cardoso

Novela anterior
A Grande Mentira

Novela posterior
Pigmalião 70

SÉRGIO CARDOSO – Pai Tomás / Dimitrius / Abraham Lincoln
RUTH DE SOUZA – Cloé
MÍRIAM MEHLER – Bárbara
MARIA LUIZA CASTELLI – Ofélia
JACYRA SILVA – Cassie
ISAURA BRUNO – Bessie
GÉSIO AMADEU – Sam
DALMO FERREIRA – Sambo
EDNEY GIOVENAZZI – Mr. Simon Legris
FELIPE CARONE – Arquibaldo Morrison
IVETE BONFÁ – Marie-Claire
RENATO MASTER – David
NORAH FONTES – Jessica
JONAS MELLO
PAULO GOULART – Piérre St. Clair
LUIZ AMÉRICO – Mr. George St. Clair
LOLA BRAH – Condessa
TURÍBIO RUIZ – Mr. Shelby
ELOÍSA MAFALDA – Emily
GERMANO FILHO – Natanice
JORGE COUTINHO – Angelus
TERESINHA CUBANA – Piggy
HAROLDO DE OLIVEIRA – Jonas
ÉRICO FREITAS – George
ISABELA CAMPOS – Eleonora
RACHEL MARTINS – Marta
MILTON GONÇALVES
RUTH MOTA
REGINA MACEDO

Fim da Era Magadan

Última novela da chamada “Era Magadan” (1966-1969), conhecida como o período em que o núcleo de dramaturgia da TV Globo era comandado com mãos de ferro pela cubana Glória Magadan, que escolhia textos, autores e elencos e mandava e desmandava nas novelas da emissora.

Transposição do romance de Harriet Beecher Stowe (publicado em 1852), acrescido de marcantes passagens de “…E o Vento Levou”, de Margareth Mitchell (de 1936) – o que levou o elenco a declarar: “Este fracasso fez com que o vento levasse a cabana do Pai Tomás para bem longe”. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Black face

Vindo do sucesso de Antônio Maria, na TV Tupi, e conhecido por encarnar “tipos” (como o monstruoso médico Dr. Valcourt), Sérgio Cardoso viveu o negro Pai Tomás – contra a vontade de Glória Magadan – em um papel sob encomenda para ele. Sua escalação foi uma imposição da agência de publicidade Colgate-Palmolive, uma das subsidiárias norte-americanas que patrocinavam a produção de novelas nacionais nos anos 1960.

Outra razão foi a tentativa da Globo carioca de cativar o público paulista, que gostava do ator das novelas O Cara Suja, O Preço de uma Vida, Somos Todos Irmãos, O Anjo e o Vagabundo e Antônio Maria, todas da TV Tupi de São Paulo, exibidas entre 1965 e 1969. A Globo não poupou esforços (e dinheiro): o resto do elenco também era paulista e a novela começou a ser gravada nos estúdios da filial da emissora em São Paulo.

Para a caracterização de seu personagem, Sérgio Cardoso pintou o corpo e usou peruca e rolhas no nariz, em um ostensivo caso de black face, o que acabou gerando revolta no meio artístico. A estreia da novela foi tumultuada com um movimento liderado pelo ator Plínio Marcos, que comandava uma coluna diária no jornal Última Hora, e que não concordava com o fato de um ator branco interpretar personagens negros. Todos achavam que o personagem deveria ser de Milton Gonçalves, que conta que, todas as vezes que se encontravam, Sérgio tinha sempre a preocupação de se justificar.

A Cabana do Pai Tomás causou tanto mal-estar que o próprio Sérgio Cardoso se adiantou à possível pecha de racista. No período, o ator fez declarações do tipo: “Tenho vários amigos de cor que são como meus irmãos. Tenho afilhados pretinhos que amo como se fossem meus filhos.”

Incêndio

Todos os números referentes a gastos foram superados na época, quando a Globo começou as gravações. No município de Poá (SP), um rio foi congelado para melhor obedecer a narrativa. Um barco do século 19 foi inteiramente reconstruído para andar pelo Rio São Francisco, imitando as barcaças do Rio Mississippi. A colheita de algodão, em uma fazenda em Campinas, foi antecipada em um mês para ser retratada na novela. Dois novos estúdios foram montados em São Paulo. Havia uma verba de 200 mil cruzeiros novos (moeda corrente na ocasião) mensais – quantia astronômica para a época.

Porém, um incêndio, em junho de 1969, duas semanas antes da estreia, destruiu parcialmente os estúdios da TV Globo em São Paulo, causando um grande transtorno e prejuízo e obrigando a continuidade dos trabalhos no Rio de Janeiro. De acordo com o livro “Almanaque da TV” (Bia Braune e Rixa), os vinte capítulos iniciais de A Cabana do Pai Tomás foram perdidos.

Sobre o incêndio em São Paulo, narrou Daniel Filho em seu livro “Antes que me Esqueçam”:
“A única saída era apertar um pouquinho mais os estúdios do Rio, onde já estavam sendo gravadas duas novelas, Rosa Rebelde e A Ponte dos Suspiros, e trazer todo o elenco paulista para cá. Foi um desacerto para os atores, que vieram como numa caravana cigana. Os cenários tiveram de ser produzidos de novo, porque muitas cenas já haviam sido gravadas.”

Fracasso

Por causa dessa realocação, a novela Rosa Rebelde, que estava sendo finalizada, teve de ser espichada em mais cem capítulos, porque não havia condições que gravar a sua substituta com os estúdios ocupados pela Cabana do Pai Tomás.

Com a ida da produção para o Rio de Janeiro, Daniel Filho acumulou a função de diretor da novela que já estava gravando, Rosa Rebelde, com a de A Cabana do Pai Tomás, ajudando o então diretor Fábio Sabag a “apagar esse incêndio”. Daniel narrou em seu livro “Antes que me Esqueçam”:
“Às segundas, terças e quartas, eu dirigia uma história desenrolada no sul dos Estados Unidos. Quintas, sextas e sábados eram meus dias de dirigir uma história cujo enredo se desenvolvia na Espanha. (…) Dirigi A Cabana do Pai Tomás até tirá-la do buraco. Era muito ruim. O texto era inverossímil, as cenas absurdas.”

Além de todos os problemas pelos quais passou a produção, a concorrência no horário, com o sucesso da novela Nino, o Italianinho, da TV Tupi, também contribuiu para o retumbante fracasso de A Cabana do Pai Tomás.

Elenco

Além do Pai Tomás, Sérgio Cardoso vivia ainda mais dois personagens, que não existiam no romance original: Dimitrius, um galã ao estilo de Clark Gable em “…E o Vento Levou”, e o presidente norte-americano Abraham Lincoln – apesar de o romance original ter sido publicado antes (em 1852) da Guerra da Secessão (1861-1865).

Segundo o diretor Régis Cardoso (em seu livro “No Princípio Era o Som”), como na época não havia recursos para gravar os três personagens contracenando, a lente da câmera foi dividida em três partes. Assim, captava-se um personagem de cada vez e depois montava-se a cena com três imagens.

Primeira novela na Globo das atrizes Maria Luiza Castelli, Norah Fontes e Rachel Martins, e dos atores Paulo Goulart, Gésio Amadeu e Haroldo de Oliveira.

Busca por um autor

Oficialmente, A Cabana do Pai Tomás é uma novela de autoria de Hedy Maia, mas chegou a ter cinco roteiristas. O próprio Sérgio Cardoso pôs a mão na massa e escreveu alguns capítulos. O ator ainda implicou com o diretor inicial da novela (Fábio Sabag) e sugeriu o nome de Régis Cardoso. (“No Princípio Era o Som”, Régis Cardoso)

Estreando na Globo, Walther Negrão, a convite de Sérgio Cardoso (que o conhecia de Antônio Maria, da Tupi), terminou de escrever A Cabana do Pai Tomás (os 19 capítulos finais), sem sequer ter visto a novela ou lido o livro, transformando tudo em um alucinado bang-bang – para o sossego de Sérgio Cardoso.
O autor declarou: “Li os últimos capítulos e vi que havia um bando de brancos e negros brigando. Fiz com que os negros subissem em árvores e transformei no maior faroeste!”

Negrão inventou essa batalha entre negros e brancos para ter tempo de inteirar-se um pouco da trama: “Fui levando aquilo para dar tempo de ler um pedaço do livro. Li aos tropeços, inclui coisas e terminei”, disse ele ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo).

Sobre sua entrada na novela, Walther Negrão declarou ao livro “Autores”: “Ele [Sérgio Cardoso] perguntou se eu aceitava fazer, que ele iria me pagar do salário dele. Na verdade, era meio por baixo do pano, pois eu estava acabando de escrever Nino, o Italianinho [na TV Tupi].”

Walther Negrão contou ao livro “Autores” que, pela trama, o personagem de Gésio Amadeu, um escravo que estava no tronco, deveria morrer logo no primeiro capítulo que escreveria quando assumiu o texto da novela. Porém, o ator, seu amigo pessoal, pediu para que ele não o matasse, pois precisava ganhar seu salário por mais um mês. E, apesar de a história depender um pouco da morte desse personagem, Negrão acabou salvando-o.
“Salvei a vida dele no começo do capítulo. Só que a história dependia um pouco da morte dele, então tive que fazer malabarismo.”

Mudança de horário

Com dois meses da exibição de A Cabana do Pai Tomás, seu horário mudou das 19h30 para as 19h, com a reformulação da grade noturna ocorrida com a estreia do Jornal Nacional (em 01/09/1969) e a transferência da novela A Ponte dos Suspiros das 19h para as 22h, inaugurando esse horário de novelas e tentando assim fugir da censura do Regime Militar. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)

E mais

Lamentavelmente não existem mais registros dessa novela, apagados porque as fitas foram reutilizadas (prática comum na época) ou porque perderam-se em outro dos incêndios na TV Globo (de 1971 ou de 1976).

LP Panicali e as Novelas
panicalit
01. PONTE DOS SUSPIROS – Lyrio Panicali
02. A ÚLTIMA VALSA – Lyrio Panicali
03. A GRANDE MENTIRA – Lyrio Panicali
04. A GATA DE VISON – Lyrio Panicali
05. O HOMEM PROIBIDO – Lyrio Panicali (tema de Demian)
06. TEMA DE AMOR EM FORMA DE PRELÚDIUO – Manuel Marques (da novela Antônio Maria)
07. A RAINHA LOUCA – Lyrio Panicali
08. O PASSO DOS VENTOS – Lyrio Panicali
09. CABANA DO PAI TOMÁS – Lyrio Panicali
10. A ROSA REBELDE – Lyrio Panicali
11. A SOMBRA DE REBECA – Lyrio Panicali
12. UM DIA SABERÁS (SOMEDAY YOU´LL KNOW) – Erlon Chaves (da novela O Sheik de Agadir)
13. SANGUE E AREIA – Lyrio Panicali
14. MAGIA – Lyrio Panicali e Raymundo Lopes

Veja também

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