Sinopse

Aritana é um forte e sensível rapaz que vive no Xingu, filho de um branco e uma indígena. Seu tio, o rico fazendeiro Nhonhô, não quer dividir com ele a herança: as terras que pretende negociar com um grupo americano. Idoso, praticamente surdo, Nhonhô não enxerga o oportunismo de Yara, bem mais jovem que ele, que o enreda em um noivado sonhando levar algum proveito da relação.

Quando Aritana começa a sentir que não só as suas terras, mas também a existência de sua tribo estão sendo ameaçadas pela ambição e prepotência do homem branco, procura resolver os problemas pelos meios que tem ao seu alcance. Ele confia no ser humano, é puro, incorruptível, e, mesmo quando passa a viver na cidade, não se deixa vencer pelas tentações.

Do lado dos interessados nas terras do Xingu, estão os irmãos Danilo e Estela Bezerra. Ele incita a irmã, médica veterinária, a se aproximar de Aritana na tentativa de convencê-lo a aceitar sua negociação. Aritana acaba apaixonado por Estela, que, a princípio, zomba dele, pois, desiludida, teve um noivado frustrado com o mau-caráter Lalau. Com o convívio, Estela acaba arrebatada pelo indígena e passa a lutar pela causa do amado.

Também a história de Lígia, ex-miss desligada das responsabilidades domésticas, fútil e infeliz no casamento com o Professor Homero, com quem leva uma vida pacata que não lhe satisfaz. Ela abandona a família para viver ao lado de um marginal, Julião. Antes, Lígia e sua irmã Ana Maria internam a mãe, Dona Elza, em um asilo. O fazendeiro Boaventura, amigo de Nhonhô, interessado em Elza, faz o possível para resgatá-la.

Tupi – 20h / 21h
de 13 de novembro de 1978
a 30 de abril de 1979
120 capítulos

novela de Ivani Ribeiro
direção de Luiz Gallon, Antonino Seabra, Álvaro Fugulin e Atílio Riccó

Novela anterior no horário
Roda de Fogo

Novela posterior
Como Salvar Meu Casamento

CARLOS ALBERTO RICCELLI – Aritana
BRUNA LOMBARDI – Estela Bezerra
JAIME BARCELOS – Nhonhô Correia
TONY CORREIA – Lalau Seabra
JOHN HERBERT – Danilo Bezerra
MARIA ESTELA – Inês Bezerra
CARLOS VEREZA – Julião
GEÓRGIA GOMIDE – Lígia Ferraz
FRANCISCO MILANI – Homero Ferraz
JORGE DÓRIA – Boaventura
CLEYDE YÁCONIS – Elza
MÁRCIA REAL – Guiomar Correia
WANDA STEFÂNIA – Yara
OTHON BASTOS – Mateus
ARLETE MONTENEGRO – Violeta
ANA ROSA – Ana Maria
SERAFIM GONZALEZ – Comendador Seabra
CARMINHA BRANDÃO – Fani
AMILTON MONTEIRO – Ademar
CRISTINA MULLINS – Paula
DENIS DERKIAN – Tuta (Otávio Ferraz)
SUZY CAMACHO – Magali
HAROLDO BOTTA – Marquito
MARCOS CARUSO – Marcelino
ROBERTO ROCCO – Alaor
WÁLTER SANTOS – Ramalho
MARIA VIANA – Celina
HILKIAS DE OLIVEIRA – Pagano
EUNICE MENDES – Margarida
JOÃO FRANCISCO GARCIA – Walter
VERA PAXIE – Verinha
WILSON RABELO – Pinguim

os meninos
MARCELO PINDORF – Zoca
PAULO MAIA – Bidu

e
CARLOS ARENA – Dr. Caruso
DINÁ RIBEIRO
ELAINE FONZARA – prostituta do bordel de Fani
JANETE SOARES – diretora do asilo onde Elza é internada
MARCOS LANDER – inspetor do Xingu
RILDO GONÇALVES – delegado
RUTH PEREZ – prostituta do bordel de Fani
VERA LIMA – Taís
WILMA GUERREIRO – prostituta do bordel de Fani
YARA GREY – Lola
YARA IGNÁCIO – Fátima (prostituta do bordel de Fani)

ARITANA (Carlos Alberto Riccelli), rapaz forte e sensível, filho de um branco e uma indígena, que luta pelo seu povo e pelas terras de sua tribo, os Kamaiurás, às margens do rio Xingu.

– núcleo de NHONHÔ CORREIA (Jaime Barcelos), o tio rico de Aritana, um fazendeiro que não quer dividir com o sobrinho indígena a sua herança: as terras que pretende negociar com um grupo americano:
a irmã GUIOMAR (Márcia Real)
a sobrinha MAGALI (Suzy Camacho), órfã
a oportunista YARA (Wanda Stefânia), que aproveita de sua surdez e ingenuidade e torna-se sua noiva – para o desagrado de Guiomar
o capataz MATEUS (Othon Bastos), que se perde de amores por Yara e não vê sua maldade – os dois têm um caso
a empregada VIOLETA (Arlete Montenegro), que ama Mateus e resolve lutar contra Yara.

– núcleo de ESTELA BEZERRA (Bruna Lombardi), médica veterinária interessada na negociata que envolve as terras da tribo de Aritana. O indígena se apaixona por ela e, a princípio, Estela resiste a esse amor, mas aos poucos vai se rendendo:
o irmão DANILO (John Herbert), maior interessado nas terras do Xingu, incita Estela a se aproximar de Aritana
a cunhada INÊS (Maria Estela), mulher de Danilo
o sobrinho MARQUITO (Haroldo Botta), filho de Danilo e Inês, deficiente mental, desprezado pelo pai
a empregada MARGARIDA (Eunice Mendes).

– núcleo de LALAU (Tony Correia), noivo de Estela no início, passa a disputá-la com Aritana quando descobre que ela apaixonou-se pelo indígena:
o pai COMENDADOR SEABRA (Serafim Gonzalez), dono do hotel que o filho gerencia.

– núcleo de LÍGIA (Geóriga Gomide), ex-miss São Paulo inconformada de viver numa cidade pequena e da vida pacata que leva ao lado de sua família:
o marido HOMERO (Francisco Milani), professor
os filhos TUTA (Denis Derkian), playboy inconsequente, e PAULA (Cristina Mullins)
a mãe ELZA (Cleyde Yáconis), que toma conta da casa da filha e é praticamente uma empregada em casa. Acaba sendo internada no asilo por acharem que ela está velha
a assistente de Homero, CELINA (Maria Viana), apaixonada por ele.

– núcleo de JULIÃO (Carlos Vereza) um mau-caráter que seduz Lígia lhe prometendo uma vida melhor e a leva embora para São Paulo, onde ela sofrerá em suas mãos:
o amigo e cúmplice RAMALHO (Wálter Santos).

– núcleo de BOAVENTURA (Jorge Dória), fazendeiro bon-vivant amigo de Nhonhô. Gosta de uma paquera e vive cantando Dona Elza, que morre de vergonha. Ao final ela se rende aos seus encantos:
o funcionário ALAOR (Roberto Rocco), apaixonado por Magali, mas o amor dos dois é proibido por causa de sua condição social.

– núcleo de ANA MARIA (Ana Rosa), a outra filha de Elza, irmã de Lígia, viúva:
os filhos ZOCA (Marcelo Pindorf) e BIDU (Paulo Maia)
o pretendente ADEMAR (Amilton Monteiro), farmacêutico que Ana Maria custa a aceitar como namorado, pois sua sobrinha Paula é apaixonada por ele e passa a disputá-lo com a tia.

– núcleo da cafetina FANI (Carminha Brandão), dona de um bordel, irmã de Yara:
o empregado PAGANO (Hilkias de Oliveira)
as prostitutas FÁTIMA (Yara Ignácio), (Elaine Fonzara), (Ruth Perez) e (Wilma Guerreiro).

– demais personagens:
MARCELINO (Marcos Caruso), dono da lanchonete
PINGUIM (Wilson Rabelo), funcionário da lanchonete
WÁLTER (João Francisco Garcia), funcionário do cartório
VERINHA (Vera Paxie), funcionária do cartório.

Apoio da Funai e Irmãos Villas Boas

A diferença social entre o indígena e a sociedade dita civilizada era o centro das atenções da novela. A autora, Ivani Ribeiro, foi assessorada pelos irmãos indigenistas Cláudio, Orlando e Álvaro Villas Boas e contou com a colaboração do professor Olympio Serra, administrador do Parque Indígena do Xingu (MT) na época.

As gravações foram feitas no Posto Leonardo Villas Boas, em plena selva (onde só foram possíveis com o apoio da Funai); na localidade de Embu, na Grande São Paulo; e nos estúdios da TV Tupi, na Vila Guilherme.
Dentre as diversas tribos do Xingu, duas, especialmente, ajudaram nas gravações: os Yawalapitis e os Kamaiurás. (*)

A autora esclareceu que, antes de enviar os capítulos para a emissora, as falas do protagonista Aritana eram revistas por Cláudio Villas Boas.
“Ele vem à minha casa, lê as perguntas e respostas de Aritana e, muitas vezes, me alerta a certas palavras que uso, advertindo ‘Aritana não reagiria assim’. Essas orientações tenho seguido à risca”, disse Ivani à revista Amiga, edição de 27/12/1978. (**)

Aritana foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o melhor “tema de novela” de 1978. Carlos Alberto Riccelli e Jaime Barcelos levaram o prêmio de melhores atores, e Cleyde Yáconis a melhor atriz (juntamente com Joana Fomm, Yara Amaral e Gracinda Freire, por Dancin’ Days).

Críticas

Entretanto, a autora enfrentou uma série de problemas com sua novela, vindos de dentro e de fora da produção.

A princípio, Ivani Ribeiro foi mal interpretada, por um lado, por aqueles que condenavam a exposição dos indígenas e, pelo outro, pelos que sentiam seus interesses ameaçados com as reivindicações dos indígenas. Por causa de críticas recebidas, a Tupi levou ao ar o especial O Caso Aritana, uma Novela à Parte, onde atores do elenco, o diretor artístico da emissora, Carlos Zara, e representantes de órgãos ligados aos direitos dos indígenas, como os irmãos Villas Boas, defenderam as intenções da autora. O especial também apresentou depoimentos de populares e de povos originários.

Por sua temática, a novela foi criticada pela Censura Federal antes mesmo de estrear. O pesquisador Cláudio Ferreira narrou no livro Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar:
Aritana, novela que abordava o universo indígena, foi acusada de tratar o tema levianamente. A crítica é do censor Dalmo Paixão, ironicamente mais de um mês antes da estreia. ‘Deve-se aí observar o caráter nitidamente ingênuo de quem pretende focar um tema sem conhecê-lo devidamente: o caminho está aberto, portanto, à desinformação e à deturpação.’ (…) ele sugere que se ouça a posição da Funai sobre a questão indígena e a política governamental adotada para inserir o conteúdo na trama de Ivani Ribeiro.”

A colunista Cinira Arruda criticou duramente a novela na revista Amiga (edição de 21/02/1979):
“Se a proposta é alertar e defender o índio, por que essa rede de televisão invade o Parque do Xingu, com equipes técnicas, atores, máquinas e máquinas conturbando o sossego dessa gente tão tumultuada? (…) Aplaudo a linha sutil na qual, inteligentemente, Ivani mostra que nós civilizados somos muitas vezes mais selvagens. Entretanto, abomino vê-los transformados em extras de TV. A Tupi mostra claramente, com o apoio da Funai, que os índios, mais uma vez, estão sendo desrespeitados. E agora via Embratel.” (**)

Porém, em nenhum momento Ivani Ribeiro deixou de reivindicar os direitos do indígena brasileiro. Principalmente no tema central, em que Aritana deseja a posse total das terras para abrigar a sua tribo.

Crise na Tupi

Outro problema enfrentado pela produção foi o atraso no pagamento dos atores, em um momento em que a TV Tupi passava por sua pior crise (a emissora fechou as portas pouco mais de um ano após a novela, em 18/07/1980). Atores fizeram greve e pararam as gravações.

O diretor Luiz Gallon lembrou: “Chegou ao ponto de eles não gravarem para não deixar fechar o capítulo. Aí eu combinei com o [Carlos] Zara [então diretor artístico da emissora]: não pode deixar de ir capítulo para o ar. Não importa se o capítulo vai ter 45 minutos ou só 15. Então, em vez de eu gravar um capítulo inteiro, gravo quatro partes, não fecho capítulo. A gente na segunda-feira passa uma parte, e na terça passa outra, sem nada, sem intervalo.”

Assim, houve capítulos de 15 minutos. A novela chegou ao fim com algumas imagens colhidas pelo diretor no início das gravações. As cenas com indígenas ganharam mais espaço.
“Como o casal Bruna e Riccelli não quis gravar, tive que virar a história. Fui na casa da Ivani convencê-la a mudar a história para ficar em cima de outros personagens. Então nós criamos uma outra história e largamos o índio lá. Inventei um negócio de sarampo e o índio ficou na rede”, completou Gallon. (**)

Na lauda do último capítulo da novela, Ivani desabafou em uma mensagem:
“Da batalha, entre mortos e feridos, salvaram-se todos, segundo se espera. Apesar de tudo, chegamos ao final. Reitero que a minha intenção ao escrever Aritana foi a melhor possível – pretendendo um trabalho sério, pesquisado, verdadeiro, dependendo muito da cooperação e boa vontade. Talvez o voo fosse mais alto que as nossas forças. Mas valeu a pena tentar, com o exemplo da obstinação do índio.” (**)

Elenco

Excelente criação de Carlos Alberto Riccelli, transformado em um perfeito indígena do Xingu. Em entrevista à revista Sétimo Céu, o ator relatou detalhes de sua preparação para o papel: instalado no posto de apoio da Funai no Xingu, ele seguia a pé todos os dias em direção à tribo onde vivia o cacique que inspirou seu personagem. No primeiro contato com os indígenas, Riccelli se despiu, permitiu que pintassem seu corpo e cortassem seu cabelo (com uma faca de dentes de piranha), dançou o jacuí e quarup e provou do mingau de mandioca. Ele ainda aprendeu a cavalgar, com o auxílio de Jorge Dória, também no elenco. (pesquisa: Duh Secco)

Saída do papel de protagonista na novela Sem Lenço Sem Documento (da Globo) – sua estreia na televisão -, Bruna Lombardi custou a aceitar o convite para estrelar Aritana, inclusive vindo da própria Ivani Ribeiro.
“Bruna, estou escrevendo essa novela pensando em você. Não consigo imaginar outra pessoa!”, teria dito a autora à atriz.

Quando Ivani informou que conseguiu uma viagem ao Xingu, Bruna aceitou. A viagem só foi possível por intermédio dos irmãos Villas Boas, então responsáveis pela reserva.
“Ir para o Xingu era impossível. Ninguém podia ir. O objetivo era preservar os índios para não virarem atração turística, nem se misturarem e terem uma miscigenação com o mundo contemporâneo e branco”, informou Bruna. (**)

Em Aritana, Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi se conheceram e viveram o par romântico dentro e fora dos estúdios. Nunca mais se separaram.
“Seguimos para o Xingu, em um aviãozinho particular, de bandeirante. Eu conheci o Ri no avião. Nos vimos de relance na Tupi. E, no avião, pela primeira vez, sentamos um ao lado do outro e nos conhecemos. E aí mudou a história da minha vida!”, disse a atriz.
Os atores gravaram durante um mês o Xingu. (**)

Trabalho memorável do ator Jaime Barcelos, como o velho Nhonhô Correia – que nada tem a ver com outro famoso personagem de Ivani Ribeiro com nome muito parecido: Nonô Correia, vivido por Ary Fontoura em Amor com Amor se Paga (Globo, 1984).

O descaso com idosos foi tratado na novela por meio da personagem Elza (Cleyde Yáconis), senhora que é abandonada pelas filhas em um asilo para idosos.

Autora emprestada

Para escrever Aritana para a Tupi, Ivani Ribeiro foi “emprestada” à emissora por Silvio Santos. Em 1976, a novelista assinou contrato com os Estúdios Silvio Santos e escreveu a novela O Espantalho. Seu compromisso com o homem do baú só terminou em 1980.

Entre 1977 e 1979, Ivani foi emprestada à Tupi – onde Silvio tinha seu programa dominical, na fase anterior ao SBT – e escreveu duas novelas: O Profeta e Aritana.

Mudança de horário

No início de dezembro de 1978, a TV Tupi, percebendo o interesse do público pela trama de Aritana, mudou o seu horário de exibição para evitar um confronto direto com o sucesso da novela concorrente na Globo, Dancin’ Days. A novela da Tupi passou a ser apresentada depois da exibição da trama global, e, com o fim desta, voltou ao seu horário original.

Em janeiro de 1979, com o encerramento de Dancin’ Days, a Tupi publicou um anúncio nos jornais e revistas conclamando o público a sintonizar nela: “Agora que acabou Dancin’ Days, você pode assistir Aritana às oito da noite.”

(*) “De Noite Tem… Um Show de Teledramaturgia na TV Pioneira”, Mauro Gianfrancesco e Eurico Neiva.
(**) “Ivani Ribeiro, a Dama das Emoções”, Carolline Rodrigues.

01. INDAUÊ TUPÃ – Fafá de Belém
02. MAIS SELVAGEM QUE VOCÊ – Iranfe e César Augusto
03. KRAHÔ – Marlui Miranda (tema de abertura)
04. PACARÁ – Paulo André Barata
05. AMÉLIA DE VOCÊ – Ângela Maria (tema de Lígia)
06. PEGADAS – Neuber
07. CARA DE ÍNDIO – Djavan (tema de Aritana)
08. NATIVO – Paulo André Barata (participação especial Fafá de Belém) (tema de Aritana e Estela)
09. FAMA DE HERÓI – Iranfe e César Augusto
10. QUANTO MAIS TE VEJO – Marizinha
11. COISAS DA VIDA – Lula Carvalho
12. MEU DESTINO É VOCÊ – José Augusto

Seleção de repertório: José Moura
Coordenação geral: Roberto Corte Real

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O Profeta (1977)

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