Sinopse

O bicheiro Artur do Amor Divino, o Tucão, domina o bairro de Ramos, Zona Norte do Rio de Janeiro. Seu braço direito é Quidoca, candidato a herdeiro de seu império. Tucão trava uma luta contra seu maior rival, Jovelino Sabonete, pela supremacia nos negócios do jogo do bicho. Os dois inimigos, a princípio, não sabem que seus filhos se amam: Márcio, filho de Jovelino, e Taís, filha de Tucão, que vivem um romance proibido com tudo para dar errado.

Entre a briga dos bicheiros está Noeli, mulher independente, motorista de táxi desquitada do apático Tavinho e amiga de Zé Catimba, figura folclórica na escola de samba Imperatriz Leopoldinense. Quem se interessa por Noeli é Zelito, o filho problemático de Tucão, que vive recluso em seu quarto em um mundo particular, tendo a pintura como forma de extrapolar sua solidão. Tucão incentiva a aproximação de Zelito e Noeli, pois não vê com bons olhos o comportamento solitário do filho.

Globo – 22h
de 28 de outubro de 1971 a 15 de julho de 1972 (Rio)
de 1º de novembro de 1971 a 18 de julho de 1972 (SP)
179 capítulos

novela de Dias Gomes
direção de Daniel Filho e Wálter Campos

Novela anterior no horário
O Cafona

Novela posterior
O Bofe

PAULO GRACINDO – Tucão (Artur do Amor Divino)
MARÍLIA PÊRA – Noeli
JOSÉ WILKER – Zelito
MILTON MORAES – Quidoca
GRANDE OTELO – Zé Catimba
FELIPE CARONE – Jovelino Sabonete
ILKA SOARES – Valéria
STEPAN NERCESSIAN – Márcio
ELIZÂNGELA – Taís
MIRIAN PIRES – Célia
ZIEMBINSKI – Irmão Ludovico
ARY FONTOURA – Comandante Apolinário Gusmão
ELOÍSA MAFALDA – Zulmira
ADRIANO LISBOA – Delegado Paixão
OSMAR PRADO – Mingo
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – Tavinho
MARGARIDA REY – Anunciata
SEBASTIÃO VASCONCELOS – Severino
ILVA NIÑO – Santa
ANTERO DE OLIVEIRA – Quincas
ANECY ROCHA – Licinha
FRANCISCO DI FRANCO – Galileu
OSWALDO LOUZADA – Lulu Papa-Defunto
JACYRA SILVA – Lena (Marilena)
PAULO GONÇALVES – Neneco
GRACINDA FREIRE – Miloca Boca de Cano
LAJAR MUZURIS – Mudinho
JOÃO PAULO ADOUR – João Cláudio
SÔNIA CLARA – Leda
HENRIQUETA BRIEBA – Filó
SUZY KIRBI – Belinha
ANGELITO MELLO – Cardoso
ROBERTO BONFIM – Balalaika
EDSON ANANIAS – Marraio
PAULO RESENDE – Carijó
IVAN DE ALMEIDA – Bento
CLÉA SIMÕES – Chica
JOÃO LOREDO – Paguá
NANAI – Corre-Corre
ROGÉRIO FRÓES – Dr. Freitas
LEDA LÚCIA – Camila
VERA MANHÃES – Gracinha
MÁRCIA RODRIGUES – Ângela

a menina MARIA ISABEL AGUIAR – Aninha

e
CELSO CARDOSO – bicheiro amigo de Tucão
CLÁUDIA BARROSO como ela mesma
ELOÁ DIAS – dançarina
JORGE CALDAS – jornalista
JOSE MOURA – capanga de Jovelino
MARLENE como ela mesma
MILTON GONÇALVES – Caldas
MÍRIAM APARECIDA – Sula (sobrinha de Tucão)
MÍRIAM TEIXEIRA – secretária de Tavinho
PLÍNIO MARCOS – Bem-Te-Vi
YARA JATI – mãe de Jovelino

– núcleo de ARTUR DO AMOR DIVINO, conhecido popularmente como TUCÃO (Paulo Gracindo), dono de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos, adquirida após enriquecer com o dinheiro do jogo do bicho. É o benfeitor da comunidade de Ramos, Zona Norte do Rio de Janeiro, presidente de honra da escola de samba Imperatriz Leopoldinense e padrinho do Olaria Atlético Clube, o time de futebol do bairro:
a mulher CÉLIA (Mírian Pires)
os filhos ZELITO (José Wilker), rapaz introspectivo que vive trancado em seu quarto, pintando, e TAÍS (Elizângela), de espírito rebelde
o braço direito em seus negócios QUIDOCA (Milton Moraes)
o jogador de futebol MINGO (Osmar Prado), apadrinhado por ele.

– núcleo de JOVELINO SABONETE (Felipe Carone), bicheiro rival de Tucão:
a mulher VALÉRIA (Ilka Soares), fútil, tem um amante mais jovem
o filho MÁRCIO (Stepan Nercessian), apaixona-se por Taís e os dois vivem um romance proibido, já que seus pais são inimigos.

– núcleo de NOELI (Marília Pêra), taxista desquitada e independente por quem Zelito se apaixona:
o ex-marido TAVINHO (José Augusto Branco), submisso à mãe
a ex-sogra ANUNCIATA (Margarida Rey), com quem vivia às turras
o amigo ZÉ CATIMBA (Grande Otelo), compositor da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, patrocinada por Tucão
a parceira de Zé Catimba, LENA (Jacyra Silva).

– núcleo do COMANDANTE APOLINÁRIO GUSMÃO (Ary Fontoura), oficial reformado da Marinha Mercante, síndico do prédio onde mora Noeli e outros personagens. Inventa fantasias sexuais com a mulher para apimentar o casamento:
a mulher ZULMIRA (Eloísa Mafalda), mandona.

– núcleo da família de retirantes nordestinos que vêm tentar a sorte no Rio de Janeiro. Instalam-se em Ramos, mais precisamente na garagem do prédio onde Apolinário é síndico. Ele luta para despejar a família de lá:
o pai SEVERINO (Sebastião Vasconcelos)
a mãe SANTA (Ilva Niño)
os filhos QUINCAS (Antero de Oliveira), LÍCIA (Anecy Rocha) e a menina ANINHA (Maria Isabel Aguiar).

Novela condenada

Bandeira Dois entrou no ar condenada. Em entrevista à revista Playboy (edição 125, de dezembro de 1985), Dias Gomes afirmou que o departamento de pesquisas e opinião da TV Globo, à época, avisou: Bandeira Dois não vai dar certo!” Eles acreditavam no herói jovem, idealizado e belo e duvidavam que a Zona Sul do Rio se identificaria com o protagonista mau-caráter, bicheiro velho e safado vivido por Paulo Gracindo em uma trama ambientada no subúrbio.

Porém, as previsões não se concretizaram. Tucão caiu no gosto popular, em todas as classes sociais. Bandeira Dois foi um sucesso e marcou a TV brasileira. Por seus trabalhos na novela, Dias Gomes e Paulo Gracindo foram premiados pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o melhor novelista e o melhor ator de TV do ano de 1972.

Dias Gomes utilizou elementos de seu texto teatral “A Invasão”, proibido pela Censura Federal, na figura dos retirantes nordestinos Severino, Santa e Licinha (Sebastião Vasconcelos, Ilva Niño e Anecy Rocha), que invadem a garagem do prédio em que morava Noeli (Marília Pêra) e fixam moradia.

Bandeira Dois fez grande sucesso entre os bicheiros, que gostaram de se ver retratados. Paulo Gracindo ganhou a simpatia dos contraventores. Tanto que, quando souberam que uma peça encenada pelo ator tinha pouco público, os banqueiros do bicho resolveram comprar 120 lugares para uma única apresentação.

Troca de atores

Em 1971, Sérgio Cardoso, ator de grande prestígio no cenário artístico brasileiro, queria protagonizar uma novela de Dias Gomes. Dias apresentou então a sinopse de Bandeira Dois, na qual Sérgio viveria o bicheiro Tucão. Porém, o astro não gostou do personagem e pediu para que ele fosse mudado. Dias Gomes bateu o pé e disse que Tucão seria dele se o aceitasse incondicionalmente.
Foi quando o autor sugeriu ao diretor Daniel Filho o nome de Paulo Gracindo para o papel, um ator que, até então, sempre interpretara na televisão personagens coadjuvantes e grã-finos. Azar de Sérgio Cardoso. Bandeira Dois foi um sucesso e Tucão consagrou Paulo Gracindo, que foi elevado à categoria de grande astro de nossa TV.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho narrou em seu “Livro do Boni” sobre a troca de Sérgio Cardoso por Paulo Gracindo:
“Sérgio foi me visitar com uma caracterização de bicheiro, que ele mesmo imaginara. Um ridículo sem limites. Convidei-o para almoçar e falei que era melhor pensarmos bem sobre a hipótese de ele fazer esse papel, deixando o assunto em aberto. Foi a minha salvação. Depois do almoço, o Daniel e o Dias foram me dizer que queriam o Paulo Gracindo para o Tucão e que seria impossível fazer a novela com o Sérgio Cardoso. Estavam preparados para pedir demissão se eu insistisse no Sérgio. Mas como já havia resolvido o problema, concordei: ‘Ótimo. O Paulo é perfeito.’ Eles se entreolharam e foram embora felizes.”

Elenco

Marília Pêra, que no início estava prometida para ser a estrela da novela, teve sua personagem, a taxista Noeli, suplantada por Tucão. Aborrecida, pediu para sair do elenco. Não foi atendida. Ainda que a novela tenha sido uma das mais importantes, a atriz não gostava de sua personagem. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Embora escalada para fazer uma taxista, Marília Pêra revelou ao projeto Memória Globo que nunca havia dirigido antes.

De acordo com entrevista de Dias Gomes à revista Playboy (edição 125, de dezembro de 1985), o ator Sebastião Vasconcelos “se desentendeu violentamente com o diretor” (Daniel Filho? Walter Campos?), o que fez com que ele saísse da novela, obrigando o autor a matar o seu personagem. Para a sequência da morte do pedreiro Severino, Dias inspirou-se na música “Construção”, de Chico Buarque: caiu do andaime, impedindo o trânsito na contramão (“… flutuou no ar como se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido / Agonizou no meio do passeio público / Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”).

O lado cômico ficou por conta do Comandante Apolinário e sua mulher Zulmira (Ary Fontoura e Eloísa Mafalda), um casal maduro com fantasias sexuais ousadas para a época. Dias Gomes praticamente reeditou o casal em 1990, na novela Araponga, com os mesmos atores, mas outros nomes: General Perácio e Zuleide.

Osmar Prado, que interpretava o jogador de futebol Mingo, compôs seu personagem com a assessoria técnica do jogador Mané Garrincha.

Estreia de José Wilker, Grande Otelo, Ilva Niño e Francisco Di Franco em novelas. Também o primeiro trabalho na Globo do ator Milton Moraes.

Ficção x Realidade

Ficção e realidade se misturaram: na trama, Tucão era presidente de honra da escola de samba Imperatriz Leopoldinense e o samba-enredo para o carnaval de 1972 – “Martim Cererê” – apareceu na novela, composto por Zé Catimba (compositor paraibano que participou da fundação da escola, em 1959) e Gibi (sambista da Imperatriz). Zé Catimba era, inclusive, personagem de Bandeira Dois, vivido por Grande Otelo.

Todas as escolas de samba do Rio de Janeiro se candidataram para participar de Bandeira Dois. A escolhida foi a Imperatriz Leopoldinense, na época apenas uma pequena escola sediada em Ramos, subúrbio do Rio, onde se passava a trama. A Imperatriz se tornou, com os anos, uma das grandes agremiações do carnaval carioca. (Site Memória Globo)

No capítulo exibido em 22/05/1972, o personagem Jovelino Sabonete (Felipe Carone) deu seu palpite para uma fezinha no jogo do bicho. No dia seguinte, na vida real, não deu outra: macaco na cabeça! Era a segunda vez que a novela quebrava a banca dos bicheiros, que tiveram de pagar a dezenas de apostadores cariocas que seguiram a sugestão da ficção. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

A censura do Regime Militar exigiu que o autor matasse o protagonista Tucão, personagem que tinha grande aceitação do público. Durante a gravação de seu enterro, foi necessário reforçar o número de figurantes para conter cerca de três mil pessoas que compareceram ao cemitério. A comoção foi produzida por um boato de que Paulo Gracindo havia morrido de verdade. O jornal carioca Luta Democrática estampou a manchete em letras garrafais: “MORREU TUCÃO”.
Por coincidência, no dia em que o último capítulo foi ao ar, no jogo do bicho deu macaco: foi sorteado 66, o número correspondente ao da sepultura fictícia de Tucão. (“Livro do Boni”)

A atriz Ilka Soares, que interpretava Valéria, mulher do bicheiro Jovelino Sabonete (Felipe Carone), contou que, em um dos diálogos da novela, a palavra “coronel” era usada em uma de suas acepções mais populares: como sinônimo de um amante rico, geralmente mais velho, que sustenta uma mulher jovem. Os militares da Censura Federal interpretaram a cena como uma tentativa de depreciar a patente das Forças Armadas e a palavra “coronel” acabou proibida de ser pronunciada em Bandeira Dois. (Site Memória Globo)

Abertura e trilha sonora

A abertura da novela foi feita com a câmera em um caminhão em movimento, voltada para o chão, captando as linhas brancas no asfalto. Daniel Filho explicou no livro “O Circo Eletrônico”:
“Com a câmera de externa no caminhão, aquela câmera imensa, eu sai gravando o chão da Lagoa, entrando pelo túnel Rebouças [na cidade do Rio de Janeiro].”

A novela iniciou com o “Tema de Tucão” musicando a abertura – que lembrava (na melodia e arranjos) o tema do filme Shaft (1971, de Gordon Parks), com o qual o músico Isaac Hayes ganhou o Oscar de melhor canção original.
Durante o carnaval de 1972, o tema de abertura foi substituído por outra música da trilha, “Martim Cererê”, mas uma versão diferente da que foi lançada no disco da novela.

Em 2001, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Bandeira Dois, em CD, na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

A trilha internacional de Bandeira Dois é a segunda mais vendida entre as trilhas de novelas das dez da Globo, 120.741 cópias, perdendo apenas para o disco O Grito Internacional.

Repetecos

Em 1987, chegou às bancas a versão romanceada de Bandeira Dois, lançada na coleção “Campeões de Audiência”, da Editora Globo, 12 adaptações de novelas em livretos.

Inspirado em Bandeira Dois, Dias Gomes escreveu a peça e o livro “O Rei de Ramos”. Encenada pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 1979, a peça tinha partitura musical de Chico Buarque e Francis Hime, com os próprios Paulo Gracindo e Felipe Carone nos papeis principais, vivendo os bicheiros rivais.
Em 1985, chegou aos cinemas o filme baseado na novela e na peça: O Rei do Rio, de Fábio Barreto, que contava a história de Tucão desde a juventude, com Nuno Leal Maia e Nelson Xavier como os protagonistas.

Lamentavelmente não existem mais imagens de Bandeira Dois (a não ser algumas chamadas). A hipótese mais provável é que as fitas tenham-se perdido em um dos incêndios que ocorreram na TV Globo (em 1971 ou em 1976).

Trilha sonora nacional

01. MARTIN CERERÊ – Zé Catimba e Brasil Ritmo (tema de Zé Catimba)
02. PALAVRAS PERDIDAS – Maysa
03. EM CADA VERSO EM CADA SAMBA – Juan de Bourbon (tema de Tavinho)
04. MURALHAS DA ADOLESCÊNCIA – Sandra (tema de Zelito)
05. TEMA DE TUCÃO – Orquestra Som Livre (tema de Tucão e tema de abertura)
06. DESACATO – Cláudia
07. NÃO NASCI PRÁ JOGADOR – Betinho (tema de Mingo)
08. BANDEIRA DOIS – Marília Pêra (tema de Noeli)
09. RAINHA DA GAFIERA – Jacyra Silva (tema de Lena)
10. PAGO PRÁ VER – Orquestra Som Livre (tema de Jovelino Sabonete)
11. RETIRANTE – Catulo de Paula (tema da família de retirantes nordestinos)
12. VOCÊ NÃO TÁ COM NADA – Marlene
13. SEM VOLTA – Jacks Wu (tema de Taís)
14. NAVEGANTE APOLINÁRIO – Pedrinho Rodrigues (tema de Apolinário)

Sonoplastia: Paulo Ribeiro
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Nonato Buzar

Trilha sonora internacional

01. MAMY BLUE – Ricky Shayne (tema de Zelito e Noeli)
02. I JUST WANT TO CELEBRATE – Rare Earth
03. LOVE’S WHISTLE – Free Sound Orchestra (tema de Taís e Márcio)
04. GOT TO BE THERE – Michael Jackson
05. ADIOS AMOR – Sheila
06. MERCY, MERCY ME – Marvin Gaye
07. STRUNG OUT – Gordon Staples & The Motown Strings
08. REMEMBER ME – Diana Ross
09. YOU GOTTA HAVE LOVE IN YOUR HEART – The Supremes & Four Tops
10. THINK OF ME AS YOUR SOLDIER – Stevie Wonder
11. GOING BACK TO INDIANA – Jackson Five
12. ACROPOLIS ADIEU – Mireille Mathieu
13. HOW CAN I BELIEVE – Eivets Rednow
14. CERCA DE TI – Los Hermanos Castro

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