Sinopse

O dia a dia de um grupo ligado ao meio artístico, em todos os seus níveis. Celebridades que, no fundo, são como quaisquer pessoas, com problemas pessoais, crises, sucessos e fracassos. Diogo Maia e Leila Lombardi formam um casal de atores famoso por seus trabalhos na TV. Porém, sua relação tem que enfrentar a oposição de Beatriz, filha adolescente do primeiro casamento de Leila, que quer a mãe ao lado do pai, o dramaturgo Jordão Amaral.

Diogo e Leila são os astros da novela Coquetel de Amor, dirigida por João Gabriel e escrita por Jordão, em sua estréia como novelista. No elenco, também está a atual mulher de Jordão, a veterana atriz Nora Pelegrine, que já não se contenta mais em ser uma coadjuvante. Nora voltava à carreira, interrompida desde o casamento com Jordão. Ela, que no passado sempre ganhara papéis de protagonista, retornava em uma personagem secundária e não estava contente com isso.

Enquanto muitos brilham, outros lutam por um lugar nesse disputado universo. Como a jovem e ambiciosa atriz Cynthia Levy, que vale-se de todos os recursos para se projetar; a ex-miss Brasil Diana Queiroz, que iniciou a carreira de atriz em pornochanchadas do cinema nacional e quer dar uma guinada em sua trajetória; os jovens atores Nestor Rey, vindo do interior para tentar a sorte no Rio de Janeiro, e Paulo Morel, que ganha impulso ao ser escalado para a peça “Cyrano de Bergerac“, adaptada pelo dramaturgo Gastão Cortez e protagonizada por Diogo Maia.

Outros trocam a vida artística por um casamento tranquilo, como Bruna Maria, que abandonou a carreira de atriz ao casar-se com o empresário Nelson Novaes, mas não suportava a vida doméstica. Há os que ainda insistem em velhas fórmulas de sucesso, como Carijó, comediante popular da época das companhias de teatro de revista que perdeu o lugar com a chegada da televisão, mas que ainda mantinha uma dupla cômica com a filha Lenita em espetáculos simplórios.

Outras profissões ligadas à classe artística são abordadas: a bailarina Luiza Barbosa, irmã de Cynthia, mas menos ambiciosa que ela; o dublador Vicente Drumond, ator experiente que, pressionado pelas dificuldades em conseguir bons papéis, direciona sua carreira para a dublagem de filmes; e o radialista e jornalista Edgar Rabelo, colunista da revista Magia, especializado em cobertura do mundo artístico, que usa de vários artifícios para entrevistar os atores, conseguir furos e escrever matérias bombásticas sobre televisão.

Globo – 20h
de 14 de junho a 5 de dezembro de 1977
150 capítulos

novela de Lauro César Muniz
direção de Daniel Filho, Gonzaga Blota e Marco Aurélio Bagno
direção geral de Daniel Filho

Novela anterior no horário
Duas Vidas

Novela posterior
O Astro

* os nomes entre parêntesis são os personagens dos atores na novela Coquetel de Amor

TARCÍSIO MEIRA – Diogo Maia / Diogo Moreira (Ciro)
GLÓRIA MENEZES – Leila Lombardi / Maria Aparecida Assunção (Rosana)
JUCA DE OLIVEIRA – Jordão Amaral
YONÁ MAGALHÃES – Nora Pelegrini (Assunta)
LIMA DUARTE – Carijó / Bartolomeu Esperança
SÔNIA BRAGA – Cynthia Levy / Maria Jacinta Barbosa (Camila)
TONY RAMOS – Paulo Morel (Cristiano)
LÍDIA BRONDI – Bia / Beatriz Assunção Amaral
DANIEL FILHO – João Gabriel
PEPITA RODRIGUES – Bruna Maria (Kátia)
MAURO MENDONÇA – Nelson Novaes
CARLOS EDUARDO DOLABELLA – Edgar Rabelo
VERA FISCHER – Diana Queiroz / Veridiana Queiroz (Débora)
MILTON MORAES – Vicente Drumond
SÉRGIO BRITTO – Gastão Cortez (Benito)
DJENANE MACHADO – Lenita / Helena Ésper (Neide)
KITO JUNQUEIRA – Nestor Rey / Nestor Trajano
HELOÍSA MILET – Luiza Barbosa
JORGE CHERQUES – Alfredo Barbosa
SOLANGE FRANÇA – Nair Barbosa
MYRIAN RIOS – Morena
MARGOT BRITO – repórter
Antônio
Nereu
Camilo
Maurício

o menino FREDERICO RAMOS – Diogo Jr. (filho de Diogo e Leila)

e
AGNALDO ROCHA – Durval (gerente do teatro de revista onde Carijó se apresentava)
BIBI VOGEL como ela mesma
CLÁUDIA CELESTE – corista do teatro de revista de Carijó
EMILIANO QUEIROZ
JORGE BOTELHO como ele mesmo (Eduardo)
MARIA LÚCIA DAHL como ela mesma (Paula)
NELSON CARUSO como ele mesmo (Roberto)
OTÁVIO AUGUSTO como ele mesmo, ator da peça assistida pelo elenco da novela
REJANE SCHUMANN – empregada de Ciro em Coquetel de Amor
SUSANA VIEIRA como ela mesma, atriz da peça assistida pelo elenco da novela
SYLVIA KRISTEL como ela mesma
VANDA LACERDA como ela mesma, atriz da peça assistida pelo elenco da novela

– núcleo de DIOGO MAIA (Tarcísio Meira) e LEILA LOMBARDI (Glória Menezes), um famoso casal de atores, astros da novela Coquetel de Amor, em que interpretam o casal protagonista CIRO e ROSANA. Diogo, disposto a romper com a imagem de galã, parte para a produção da peça teatral “Cyrano de Bergerac”, em que vive o protagonista, um personagem feioso e romântico:
a filha de Leila, BEATRIZ (Lídia Brondi), do primeiro casamento. Garota problemática muito apegada ao pai, que não aceita Diogo e vive em conflito com a mãe, prejudicando o casamento deles. Faz de tudo para reaproximar a mãe de seu pai.
o filho pequeno do casal DIOGO JR. (Frederico Ramos)

– núcleo do romancista e dramaturgo JORDÃO AMARAL (Juca de Oliveira), que enfrenta dificuldades financeiras que o obrigam a diversificar suas atividades profissionais no jornalismo e na publicidade. É contratado pela emissora de televisão para escrever a novela Coquetel de Amor, estrelada por Diogo e Leila. Primeiro marido de Leila, mas ainda apaixonado por ela, declara seu amor pela atriz por meio do texto que escreve para a personagem dela na novela, Rosana:
a segunda mulher, NORA PELEGRINI (Yoná Magalhães), atriz em decadência que não se contenta com papeis menores. Vive das lembranças do sucesso do passado, quando foi estrela de um filme premiado internacionalmente. Afastada do trabalho desde o casamento, planeja voltar à ativa como protagonista. Por isso fica furiosa quando é escalada para interpretar ASSUNTA, uma governanta, personagem coadjuvante em Coquetel de Amor. Aceita o papel, mas na metade do trabalho, insatisfeita, pede para sair.

– núcleo do artista CARIJÓ (Lima Duarte), que já fora famoso no passado com shows de teatros de revista. Hoje esquecido, luta para sobreviver em apresentações simplórias, com pouco público. Vai trabalhar na televisão mas não consegue adaptar-se:
a filha LENITA (Djenane Machado), também atriz, sempre se apresentou com o pai, desde criança. É escalada para o papel de NEIDE na novela Coquetel de Amor, em que usa o nome artístico de HELENA ÉSPER. Consegue trabalho para o pai na televisão.

– núcleo da jovem e ambiciosa atriz CYNTHIA LEVY, nome artístico de MARIA JACINTA BARBOSA (Sônia Braga), que luta para subir profissionalmente, capaz de tudo para alavancar sua carreira. Consegue um papel em Coquetel de Amor, em que interpreta a personagem CAMILA. Acaba envolvendo-se com Diogo, seu colega na novela, acirrando a crise no casamento dele com Leila:
a irmã bailarina LUIZA (Heloísa Milet), menos ambiciosa que ela, é contra os seus métodos para alcançar o estrelato
os pais ALFREDO BARBOSA (Jorge Cherques), homem simples e rude, contra a escolha das filhas pela carreira artística, e NAIR (Solange França), submissa ao marido, embora nem sempre concorde com ele.

– núcleo da atriz BRUNA MARIA (Pepita Rodrigues), que trocou a carreira por um casamento tranquilo. Porém, com o tempo, passou a sentir falta do ambiente artístico. A princípio, recusa um convite para atuar em Coquetel de Amor, mas, diante de desentendimentos com o marido, decide aceitar. Entra na novela para viver a personagem KÁTIA:
o marido NELSON NOVAES (Mauro Mendonça), rico industrial, é contra a mulher voltar a atuar. Diante da insistência dela, o casamento entra em crise.

– núcleo de DIANA QUEIROZ, nome artístico de VERIDIANA QUEIROZ (Vera Fischer), ex-miss Brasil e atriz de pornochanchada. Tem como meta mudar o rumo de sua carreira. Interpreta DÉBORA na novela Coquetel de Amor. Amiga de Bruna, acaba tendo um caso com o marido dela, Nelson, quando o casamento dos dois entra em crise:
os pretendentes, com quem se envolve EDGAR RABELO (Carlos Eduardo Dolabella), jornalista e colunista ligado ao meio artístico e produtor de um programa de rádio,
e VICENTE DRUMOND (Milton Moraes), ator experiente que, pressionado pelas dificuldades em conseguir bons papéis, direciona sua carreira para a dublagem de filmes.

– demais personagens:
os jovens atores amigos: PAULO MOREL (Tony Ramos), vive o personagem CRISTIANO em Coquetel de Amor e é chamado às pressas para substituir um dos protagonistas da peça “Cyrano de Bergerac”. Alvo do amor de Beatriz, ela sente ciúmes da mãe quando ele e Leila têm cenas românticas na novela,
e NESTOR REY (Kito Junqueira), que divide um apartamento com Vicente, é amigo e confidente de Nora Pelegrini. Apaixona-se por Cynthia mas não é correspondido
o diretor de televisão JOÃO GABRIEL (Daniel Filho), dirige a novela Coquetel de Amor
o dramaturgo GASTÃO CORTEZ (Sérgio Britto), renomado diretor de teatro, é convidado por Diogo para dirigir o espetáculo “Cyrano de Bergerac”. Também atua em Coquetel de Amor, como o personagem BENITO.

Metalinguagem

A fim de interromper o processo de que os artistas são mitos inalcançáveis, Espelho Mágico tinha como proposta mostrar o outro lado de cada astro ou estrela – ou seja, que eles são pessoas comuns no dia a dia. Ainda: a interdependência entre o artista e a arte e o universo dos espetáculos, que esses artistas levam ao público.

As chamadas de estreia já deixavam claras as intenções do autor, Lauro César Muniz:
Espelho Mágico – revelando a você a vida de um famoso casal de televisão, o aparecimento de um novo autor de novelas, de um velho cômico do teatro de revista, a ambição de uma jovem atriz, o fracasso de uma outra, e daquela que abandonou a carreira por um bom casamento. Você vai conhecer a verdade de uma bailarina, de um jornalista, de uma vedete de teatro. Tudo o que você sempre quis saber sobre a vida no teatro, cinema e TV. Espelho Mágico, onde a vida imita a arte!”

Com sua metalinguagem, Espelho Mágico resultou em uma das mais controversas novelas da história de nossa televisão, ganhando destaque mais pelos comentários que suscitou do que pela audiência conseguida. Seu ponto de partida foi de criação ilimitada, uma vez que era enriquecida com depoimentos dos artistas escalados, que falaram da sua vida profissional, problemas de trabalho, de relacionamento, etc.

Espelho Mágico foi premiada pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) como a melhor novela de 1977. Lídia Brondi ganhou o prêmio de revelação na TV e Lima Duarte foi o melhor ator (juntamente com Mário Lago e Antônio Fagundes, pela novela Nina, e Carlos Augusto Strazzer, por O Profeta).

A novela dentro da novela

Para expor a ideia, a história foi dividida em dois níveis distintos: a realidade cotidiana e a arte e os espetáculos. A peça “Cyrano de Bergerac”, de Edmond Rostand, tendo Diogo Maia (Tarcísio Meira) no papel-título; o teatro de revista, representado pelo palhaço Carijó (Lima Duarte) e sua filha Lenita (Djenane Machado); e a grande magia, a novela dentro da novela: a curiosa Coquetel de Amor, produzida, encenada e levada ao ar pelos personagens de Espelho Mágico.

A produção de Coquetel de Amor demandou todos os preparativos que envolvem a produção de uma novela de verdade, com cenários, figurinos, locações externas e escalação de elenco. Todo o processo foi mostrado ao público dentro de Espelho Mágico.

O ápice da metalinguagem: a partir do capítulo 36 de Espelho Mágico (no ar em 25/07/1977), com a estreia de Coquetel de Amor, a exibição das duas novelas passou a ser alternada. Espelho Mágico era interrompida para mostrar o capítulo da noite de Coquetel de Amor, inclusive com abertura própria. (O Globo, 25/07/1977)

Incompreendida

Com esse material, Lauro César Muniz fundiu na novela alguns aspectos intimamente ligados entre ator e personagem de sua história, por exemplo, a representação de Glória Menezes e Tarcísio Meira como um casal famoso pelos trabalhos na TV. Todavia, assim que a narrativa aborreceu determinada parte dos espectadores, a trama voltou-se quase que exclusivamente aos problemas particulares de cada um, distanciando-se da proposta inicial. A crise conjugal dos protagonistas, motivada por Beatriz (Lídia Brondi), filha de Leila (Glória Menezes), chegou a ser o centro da novela. Sorte de Lídia, que, com o destaque de sua personagem, revelou-se uma ótima atriz.

Infelizmente, apesar dos esforços e da tentativa artística inovadora, o grande público não assimilou a metalinguagem proposta por Lauro César Muniz e o baque na audiência foi grande. O telespectador preferiu a fantasia à realidade: a trama folhetinesca de Coquetel de Amor interessou mais do que a vida dos artistas abordada em Espelho Mágico.

Sobre isso, declarou Daniel Filho em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Hoje, para mim, é claro que, para fazer uma paródia revelando os truques a que recorríamos para fazer as novelas, devíamos utilizar outros gêneros que não a própria novela. Foi uma queda de quase 20 pontos na audiência, numa época em que a TV Globo era a dona absoluta no horário. (…) Possivelmente, se tivéssemos feito uma novela sobre os heróis da televisão sem expor os seus defeitos, o resultado não tivesse sido tão repudiado. (…) Às vezes a novela não tem solução, fica se arrastando até o final. Espelho Mágico não tinha solução, a não ser terminar o mais breve possível.”

Lauro César Muniz revelou a André Bernardo e Cíntia Lopes para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“Na última semana, o Boni me chamou na sala dele e perguntou: ‘Lauro, como é que você vai acabar essa novela?’
‘Olha Boni, o que eu acho que o público quer…’, tentei argumentar.
‘O que o público quer é que essa novela termine logo!’, esbravejou o Boni [rs]
Só não fui exilado da Globo porque a novela me deu prestígio e muitos prêmios da crítica”.

Plágio

Em Espelho Mágico, Lauro César Muniz exibiu um protesto em relação aos problemas enfrentados pelos autores de novela, retratando os que tivera ao escrever Carinhoso (1973-1974). Por outro lado, houve quem enxergasse plágio na trama de Coquetel de Amor, principalmente em seu entrecho central, que lembrava nitidamente O Semideus (1973-1974), novela de Janete Clair.

O acidente de iate forjado para eliminar o protagonista de O Semideus foi recriado em Coquetel de Amor, inclusive com o mesmo ator, Tarcísio Meira. Com sua trama metalinguística, Lauro quis fazer referências a cenas marcantes de tramas de seus colegas. Janete Clair, por sua vez, não gostou dessa citação à sua novela.

Entretanto, não foi intenção criticar a obra de Janete. A ideia do autor era brincar com as repetitivas tramas de novelas.
“É um coquetel carinhoso de todas as novelas”, explicou Lauro César Muniz, referenciando sua obra Carinhoso. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Protestos

Alguns jornalistas desaprovaram os métodos do personagem Edgar Rabelo (Carlos Eduardo Dolabella), especializado em cobertura jornalística do mundo artístico, por usar artifícios pouco nobres para entrevistar os atores, conseguir furos de reportagem e escrever matérias bombásticas sobre televisão.

Ainda: na trama, Edgar era colunista da fictícia revista Magia e, rapidamente, a revista real Amiga, uma das pioneiras sobre televisão, considerou que tanto o jornalista quanto a revista da ficção eram uma provocação à revista da realidade. A palavra “magia” é um anagrama de “amiga”.

Antecedentes

Lauro César Muniz já havia esboçado a ideia de Espelho Mágico dez anos antes, em 1967, na novela Estrelas no Chão, na TV Tupi. A protagonista era Telma, interpretada por Geórgia Gomide, uma aspirante ao estrelato, personagem muito próxima a Cynthia Levy (Sônia Braga) de Espelho Mágico.

Lauro assinou Estrelas no Chão sob o pseudônimo Jordão Amaral, nome replicado em Espelho Mágico, desta vez para o personagem vivido por Juca Oliveira, o autor de Coquetel de Amor. De acordo com sua descrição, Jordão era o alter ego de Lauro, pelo menos no âmbito profissional: na trama, o personagem havia escrito dez anos antes uma novela que foi um grande fracasso. Lauro se autorreferenciou. A novela era justamente Estrelas no Chão, que não fez sucesso, escrita por Lauro como Jordão Amaral.

Outro detalhe: Jordão era o nome do avô de Lauro César Muniz.

Elenco

Juca de Oliveira voltava a fazer o papel de um escritor de novelas. No ano anterior, ele atuara no filme À Flor da Pele, de Francisco Ramalho Jr. (que partia de uma peça teatral de Consuelo de Castro), no qual interpretou um autor de telenovelas casado e pai de uma filha, como seu personagem Jordão em Espelho Mágico, pai de Beatriz (Lídia Brondi).

No decorrer da novela não faltaram acontecimentos pertinentes ao universo novelístico. A exemplo da atriz Nora Pelegrini, sua intérprete, Yoná Magalhães, pediu ao autor e diretor para matarem sua personagem (a governanta Assunta de Coquetel de Amor) a fim de que ela pudesse participar de um filme.
Nora Pelegrini era uma atriz veterana que fizera sucesso no passado, mas estava ressentida por não ter mais prestígio e não contentava-se com papeis coadjuvantes. Vivendo de lembranças, Nora não se cansava de assistir ao filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha (lançado em 1964), do qual havia sido a estrela. Yoná Magalhães, de fato, participou do longa que, na novela, era exibido com suas cenas.

Além de Tarcísio e Glória, que viviam na ficção um famoso casal de atores de televisão (como na vida real), outros atores do elenco também tiveram suas trajetórias retratadas ou usadas como inspiração. Enquanto dirigia a “novela real” Espelho Mágico, Daniel Filho também atuava, como o diretor de novelas João Gabriel, que dirigia a “novela fictícia” Coquetel de Amor. O nome João Gabriel é próximo de João Daniel – nome do filho de Daniel Filho (com a atriz Betty Faria).

O diretor de teatro e ator Sérgio Britto interpretava na novela o diretor de teatro e ator Gastão Cortez, que montou peça “Cyrano de Bergerac” e atuava em Coquetel de Amor.

Vera Fischer, estreando em novelas, vivia Diana Queiroz, uma personagem baseada nela mesma: ex-miss que tentava a carreira de atriz, que já havia participado de alguns filmes (pornochanchadas) e era convidada a estrelar sua primeira novela.

Além da abordagem a atores de teatro, cinema e televisão, profissionais de espetáculos de revista e circo, de rádio e mídia especializada, havia a bailarina Luiza Barbosa, personagem da atriz Heloísa Milet, que também era bailarina; e o dublador Vicente Drumond, vivido por Milton Moraes, ator que já havia trabalhado com dublagem.

Na trama da novela, o personagem de Lima Duarte, Carijó, participou do programa humorístico A Praça da Alegria, na época exibido na Globo. Carijó era um produtor e ator de circo e espetáculos de revista resistente à mudança dos tempos. Seus shows não atraíam mais o público, restando-lhe render-se à televisão, veículo com o qual não conseguia se adaptar.

Djenane Machado interpretava Lenita, atriz de teatro de revista, como o pai, Carijó (Lima Duarte), que queria se modernizar e crescer na carreira. Djenane conhecia bem esse universo, já que era filha de Carlos Machado (1908-1992), considerado o “rei da noite carioca” nos anos 1950 e 1960. A atriz cresceu no auge da era dos teatros de revista, entre a produção de shows e espetáculos de teatro produzidos e dirigidos pelo pai, tal qual sua personagem na novela.

As cenas da peça de revista que envolviam Carijó (Lima Duarte) e sua filha Lenita (Djenane Machado) contaram com a participação da ex-vedete Brigite Blair e de integrantes de sua companhia. (Site Memória Globo)

Espelho Mágico foi a primeira novela de Tony Ramos na Globo, vindo de uma carreira de sucesso na TV Tupi. O ator emendou esta novela com a seguinte no horário, O Astro, que o consagrou definitivamente como o mais novo galã da Globo.

Também a estreia na emissora carioca do ator Kito Junqueira.

No elenco, atores-personagens de Espelho Mágico, como Diogo Maia e Leila Lombardi, misturavam-se a atores reais vivendo eles mesmos, como Bibi Vogel, que atuava na peça “Cyrano de Bergerac”, encenada dentro da novela, e Nelson Caruso, Jorge Botelho e Maria Lúcia Dahl, escalados para a novela Coquetel de Amor.

A estrela internacional de filmes eróticos Sylvia Kristel (da personagem Emmanuelle), de passagem pelo Brasil, gravou uma participação especial na novela. A presença da atriz francesa foi checada pela Censura do Regime Militar. O pesquisador Cláudio Ferreira narrou no livro “Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar”:
“A participação dela na novela foi liberada, mas foi cortada a referência à proibição do filme Emmanuelle. O argumento era de que o longa-metragem tinha sequer chegado oficialmente à Censura para ser examinado. Também foi vetado o comentário sobre o conteúdo do filme como ‘um sucesso porque retratava todo o misticismo e o exotismo da Tailândia’. Os censores reclamaram que todo esse contexto deixava a Censura ‘numa colocação de radical e algo a mais’.”

Pela primeira vez na história de nossas telenovelas, uma travesti ganhou um papel: Cláudia Celeste vivia uma corista do teatro de revista de Carijó (Lima Duarte) que ensinava coreografias à personagem de Sônia Braga. Porém, Cláudia entrou para o elenco da novela sem que o diretor Daniel Filho soubesse de que se tratava de uma travesti (na época do Regime Militar, travestis eram proibidas de aparecer na televisão). Descoberta, ela teve de sair de cena.
Cláudia voltou às novelas em 1988, em Olho por Olho, da TV Manchete, já sem a censura do Governo Federal, e dessa vez em um papel fixo, de uma travesti. (Revista Contigo nº 673 de 13/08/1988)

Na impossibilidade de bradar um palavrão mais cabeludo, Sônia Braga acabou fazendo sucesso cada vez que sua personagem Cynthia Levy dizia “Pomba!”, em tom indignado. Virou bordão. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Locações

Para as gravações da novela, foram utilizados três teatros do Rio de Janeiro: o Gláucio Gil, para os testes dos atores que participariam da peça “Cyrano de Bergerac”; Teatro do Sesc da Tijuca, para a montagem da peça; e o Teatro Brigite Blair, para as cenas do teatro de revista. (Site Memória Globo)

Trilha sonora e abertura

O LP com a trilha sonora nacional continha músicas usadas exclusivamente para a trama de Espelho Mágico.
Para os temas nacionais da novela Coquetel de Amor, foi lançado um compacto próprio (com quatro músicas).
Já o disco internacional contemplava músicas de Coquetel de Amor, no lado A, e de Espelho Mágico, no lado B.

A abertura – embalada pela música “Vai Levando”, gravada por Miucha e Tom Jobim – mostrava fotos dos atores Tarcísio Meira, Glória Menezes, Juca de Oliveira, Sônia Braga, Lima Duarte, Heloísa Milet, Yoná Magalhães, Mauro Mendonça, Tony Ramos e Pepita Rodrigues em trabalhos anteriores, em televisão ou cinema. Entre outros atores e outros trabalhos, havia fotos de Tarcísio na novela O Semideus e no filme Independência ou Morte, Glória na novela O Grito, Juca em Fogo Sobre Terra e Saramandaia, Lima em O Rebu e Pecado Capital, Tony em Vitória Bonelli e Pepita em Anjo Mau.

Trilha sonora nacional de Espelho Mágico

01. S’WONDERFUL – João Gilberto (tema de Diana)
02. MANINHA – Miúcha, Tom Jobim e Chico Buarque (tema de Beatriz)
03. CANTANDO – Paulinho da Viola
04. TIGRESA – Gal Costa (tema de Cynthia)
05. A CARA DO ESPELHO – Naila Skorpio (tema de Bruna e tema das vinhetas de intervalo)
06. VAI LEVANDO – Miúcha e Tom Jobim (tema de abertura)
07. SONHOS DE UM PALHAÇO – Antônio Marcos (tema de Carijó)
08. OMBRO AMIGO – Leci Brandão
09. VALSA – Tom Jobim (tema de Jordão)
10. SEM ESSA – Jards Macalé (tema de Leila)
11. APRENDER A NADAR – Marlui Miranda
12. LAMENTO – Dilermando Reis

Sonoplastia: Roberto Rosemberg
Direção de produção: Guto Graça Mello
Pesquisa de repertório: Arnaldo Schneider
Assistente de produção: Yara Vidal

Trilha sonora nacional de Coquetel de Amor

01. BAILE DE MÁSCARAS – Guilherme Arantes
02. UNO MUNDO – Chico Batera
03. RENASCENDO EM MIM – Don Beto
04. BANDIDO CORAZÓN – Ney Matogrosso (tema de abertura)

Direção de produção: Guto Graça Mello

Trilha sonora internacional (de Espelho Mágico e Coquetel de Amor)

Lado A: músicas de Coquetel de Amor
01. LOVE’S MELODY THEME – Larry & Jannie (tema de Rosana e Ciro)
02. I REMEMBER YESTERDAY – Donna Summer
03. SO MANY TEARS – Dave Ellis (tema de Camila)
04. YES SIR, I CAN BOOGIE – Baccara
05. DAYBREAK – Randy Bishop (tema de Débora)
06. TROUBLE-MAKER – Roberta Kelly
07. J’AIME – Jean Piérre Posit (tema de Ciro)

Lado B: músicas de Espelho Mágico
01. C’EST LA VIE – Emerson, Lake & Palmer (tema de Diogo e Leila)
02. MA BAKER – Boney M.
03. LOVE SO RIGHT – Bee Gees (tema de Beatriz)
04. FLYING HIGH – Tony Stevens (tema de Paulo)
05. NEVER GET YOUR LOVE BEHIND ME – The Faragher Brothers (tema de Bruna)
06. LET’S GET IT ON – East Harlem
07. HOW WONDERFUL TO KNOW – B & C (tema de Cynthia e Diogo)

Tema de abertura: VAI LEVANDO – Miucha e Tom Jobim

Mesmo com toda fama, com toda Brahma
Com toda cama, com toda lama
A gente vai levando essa chama

Mesmo com todo emblema, todo problema
Todo sistema, toda Ipanema
A gente vai levando essa gema

Mesmo com nada feito, com a sala escura
Com o nó no peito, com a cara dura
Não tem mais jeito, a gente não tem cura

Mesmo com toda via, com todo dia
Com todo ia, todo não-ia
A gente vai levando essa guia

Mesmo com todo rock, com todo pop
Com todo estoque, com todo Ibope
A gente vai levando esse toque

Mesmo com toda sanha, toda façanha
Toda picanha, toda campanha
A gente vai levando essa manha

Mesmo com toda estima, com toda esgrima
Com todo clima, com tudo em cima
A gente vai levando essa rima

Mesmo com toda cédula, com toda célula
Com toda suma, com toda sílaba
A gente vai levando, a gente vai tocando
A gente vai tomando
A gente vai dourando essa pílula…

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O Casarão

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