Sinopse

Em 1925, uma grande seca no Nordeste obriga populações famintas a abandonarem o campo rumo ao sul. A cidade de Ilhéus, na Bahia, começava a se transformar graças às lucrativas lavouras de cacau, que faziam crescer as fortunas dos fazendeiros donos de terras. Entre os retirantes, está a jovem Gabriela, órfã desde menina, que chega à cidade acompanhada de um tio e dois homens que trabalharão nas fazendas de cacau.

Ingênua e criada em um ambiente onde as situações determinam os valores morais, Gabriela aceita tudo com naturalidade e acha complicada a vida das pessoas da cidade. Cobiçada pelos homens, por sua beleza brejeira e sensualidade inocente, Gabriela encontra refúgio quando vai trabalhar como cozinheira na casa do turco Nacib, proprietário do Bar Vesúvio, com quem inicia uma história de amor de altos e baixos.

Em Ilhéus, os senhores do cacau pensam em unir as forças religiosas da população para pedir aos céus que lavem as plantações castigadas pela seca. O lugarejo ferve com a preparação da procissão anual de São Jorge dos Ilhéus, que unirá o que havia de mais representativo na igreja: os protegidos de São Sebastião (os ricos), os de São Jorge (os pobres) e os de Santa Madalena (os boêmios e as prostitutas).

A ideia é do velho Coronel Ramiro Bastos, líder político que dita as regras na região. Porém, ele sente que os tempos mudaram e sabe que a frágil união conseguida na procissão não será suficiente para garantir seu poder e o dos coronéis do cacau, seus aliados. O velho coronel entra em conflito com o recém-chegado Mundinho Falcão, um jovem exportador que vem a Ilhéus cheio de ideias progressistas e renovadoras.

Mundinho associa-se à oposição política, até então vítima de eleições forjadas para manter os coronéis no poder. À primeira vista, a renovação política parece fraca para destituir Ramiro Bastos. O motivo imediato do conflito entre os dois é a construção de um novo porto, proposta por Mundinho, a que o coronel se opõe ferrenhamente. Conflito maior deflagrado pelo romance que inicia-se entre o rapaz e Jerusa, neta de Ramiro.

Ao final, a situação está enfraquecida e a morte de Ramiro Bastos traz novo alento à oposição. Tanto que Mundinho recebe o aval da família Bastos para namorar Jerusa. Porém, o rapaz termina adorado pelas baianas, que lhe beijam a mão em praça pública, uma atitude que nitidamente remete ao coronelismo da região.

Globo – 22h
de 14 de abril a 24 de outubro de 1975
132 capítulos

novela de Walter George Durst
baseada no romance “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado
direção de Walter Avancini e Gonzaga Blota
direção geral de Walter Avancini

Novela anterior no horário
O Rebu

Novela posterior
O Grito

SÔNIA BRAGA – Gabriela
ARMANDO BÓGUS – Nacib
PAULO GRACINDO – Coronel Ramiro Bastos
JOSÉ WILKER – Mundinho Falcão
FÚLVIO STEFANINI – Tonico Bastos
NÍVEA MARIA – Jerusa
ELIZABETH SAVALA – Malvina
GILBERTO MARTINHO – Coronel Melk Tavares
ANA ARIEL – Idalina
FRANCISCO DANTAS – Coronel Jesuíno Guedes Cavalcanti Mendonça
RAFAEL DE CARVALHO – Coronel Coriolano Ribeiro
ANA MARIA MAGALHÃES – Glória
MARCO NANINI – Professor Josué
HEMÍLCIO FRÓES – Alfredo Bastos
SÔNIA OITICICA – Silvia
ÂNGELA LEAL – Olga
CASTRO GONZAGA – Coronel Amâncio Leal
MONAH DELACY – Dadá
MÁRIO GOMES – Berto Leal
JAIME BARCELOS – Dr. Ezequiel Prado
ARY FONTOURA – Doutor (Dr. Clóvis Costa Pelópidas)
LUÍS ORIONI – João Fulgêncio
SÉRGIO DE OLIVEIRA – Capitão
PAULO GONÇALVES – Dr. Maurício Caires
ELOÍSA MAFALDA – Maria Machadão
NATÁLIA DO VALLE – Orora
JORGE CHERQUES – Padre Basílio
THELMA RESTON – Dona Arminda
TONICO PEREIRA – Chico Moleza
COSME DOS SANTOS – Tuísca
MARGARETH BOURY – Mariquinha
MARIA LÚCIA DAHL – Jandaia
MARIA DAS GRAÇAS – Isolina
ILCLÉIA MAGALHÃES – Pretinha

e
ADHEMAR RODRIGUES – Clemente (retirante que fez a travessia com Gabriela, no início, envolveu-se com ela)
ALCIRO CUNHA – Coronel Aristóteles Pires (político da região, alia-se a Mundinho)
ANTÔNIO CARLOS
ANTÔNIO VICTOR – magistrado no julgamento de Coronel Jesuíno
APOLO CORRÊA – parente de Sinhazinha Guedes Mendonça em seu funeral
BLANCHE PAES LEME – Dona Crisalina (beata de Ilhéus)
CIDINHA MILAN – Chiquinha (rapariga do Coronel Coriolano, tem um caso com Juca Viana)
CLEMENTINO KELÉ – Negro Fagundes (retirante que fez a travessia com Gabriela, no início, quer se tornar capanga de coronel)
DINA SFAT – Zarolha (braço-direito de Maria Machadão no Bataclan, xodó de Nacib, vai embora de Ilhéus)
FERREIRA LEITE – Camilo Góes (um dos jurados no julgamento do Coronel Jesuíno)
GERMANO FILHO – Silva (tio de Gabriela, morre durante a travessia da caatinga, no início)
HUGO CARVANA – Dr. Argileu Palmeira (bacharel e poeta que distribui seu cartão de visitas ao povo de Ilhéus)
ILVA NIÑO – Filomena (cozinheira que deixa Nacib, no início)
ISAAC BARDAVID – juiz que preside o julgamento do Coronel Jesuíno
JOÃO PAULO ADOUR – Dr. Osmundo Pimentel (jovem dentista que tem um caso com a Sinhazinha Guedes Mendonça)
LÍBIA ESMERALDA – Dona Jorgina (empregada na casa dos Bastos)
LÍCIA MAGNA – parente de Sinhazinha Guedes Mendonça em seu funeral
MARCOS PAULO – Rômulo Vieira (amigo de Mundinho Falcão, engenheiro desquitado, envolve-se com Malvina)
MARIA ANGÉLICA – Neusona (prostituta do Bataclan)
MARIA FERNANDA – Sinhazinha Guedes Mendonça (mulher do coronel Jesuíno, tem um caso com Dr. Osmundo)
MARILENA CURY – Zobaida (prima solteirona de Nacib, cujos parentes tentam lhe arranjar como noiva)
MILTON GONÇALVES – Filó (ladrão de cavalos, preso várias vezes)
NAZARETH ALAIR – beata de Ilhéus
NEILA TAVARES – Anabela (comparsa de Príncipe em seu golpe em Ilhéus)
PAULO CÉSAR PEREIO – Príncipe Sandra (mágico que chega a Ilhéus com Anabela para dar um golpe na cidade)
PEDRO PAULO RANGEL – Juca Viana (amigo de Berto Leal, tem um caso com Chiquinha)
REGINA VIANA – Salma (irmã de Nacib, tenta arranjar um casamento para ele)
ROBERTO BONFIM – Chico Chicão (bandido sanguinário que ameaça o povo de Ilhéus, apaixona-se por Orora)
RUBENS DE FALCO – João Pimentel (pai do Dr. Osmundo que vai a Ilhéus por conta da morte do filho, encanta-se com Gabriela)
SAMIR DE MONTEMOR – Saad (comerciante, tio de Nacib, tenta arranjar um casamento para ele)
STÊNIO GARCIA – Felismino (antigo morador de Ilhéus que entregou a mulher traidora ao amante dela)
WILSON GREY – amigo de Silva, desiste de fazer a travessia da caatinga, no primeiro capítulo

– núcleo de GABRIELA (Sônia Braga), retirante que chega a Ilhéus fugindo da seca. Moça bela, sem maldade e de espírito livre:
o tio SILVA (Germano Filho), que a acompanha pela caatinga até falecer
os outros retirantes: NEGRO FAGUNDES (Clementino Kelé) e CLEMENTE (Adhemar Rodrigues), apaixonado por ela, com quem viveu um romance na travessia da caatinga. Os dois retirantes tornam-se jagunços ao chegar em Ilhéus.

– núcleo do turco NACIB (Armando Bógus), dono do Bar Vesúvio, ponto de encontro dos moradores de Ilhéus. Figura simpática e conhecida de todos. Apaixona-se pela beleza e ingenuidade de Gabriela, que ele emprega em sua casa para ser sua cozinheira:
a cozinheira FILOMENA (Ilva Niño), que deixa Nacib logo no início, pois ela se demite. É quem mais o incentiva a casar-se, embora ele sempre fuja do assunto
DONA ARMINDA (Thelma Reston), viúva, espírita e parteira afamada. De língua ferina, ajuda Nacib em pequenas tarefas domésticas. Torna-se amiga de Gabriela
o empregado do Vesúvio, CHICO MOLEZA (Tonico Pereira), filho de Dona Arminda
o engraxate TUÍSCA (Cosme dos Santos), garoto de recados de Ilhéus, torna-se amigo de Gabriela.

– núcleo do CORONEL RAMIRO BASTOS (Paulo Gracindo), líder político da região. É um homem temido por todos, que dita as leis de acordo com seus interesses:
o filho mais velho, ALFREDO (Hemílcio Fróes), médico, não tem tino político para dar continuidade à supremacia da família Bastos na região, o que preocupa Ramiro, que quer deixar um herdeiro no comando
a nora SILVIA (Sônia Oiticica), mulher de Alfredo, respeita o sogro a quem admira mais que o marido
a neta JERUSA (Nívea Maria), filha de Alfredo, moça doce e romântica
o filho mais novo, TONICO (Fulvio Stefanini), frequentador assíduo do Vesúvio e do Bataclan, famoso bordel de Ilhéus. Mulherengo inveterado, apesar de casado. Vai tentar seduzir Gabriela
a nora OLGA (Ângela Leal), mulher de Tonico, esposa ciumenta e que acredita na fidelidade do marido
a empregada ISOLINA (Maria das Graças), assediada por Tonico.

– núcleo de MUNDINHO FALCÃO (José Wilker), jovem exportador de cacau que chega a Ilhéus. De ideias progressistas, entra em choque com o Coronel Ramiro Bastos ao envolver-se nos movimentos de renovação política na região. Para enfrentar seu rival, aproxima-se de sua neta, Jerusa, por quem acaba apaixonado:
os aliados políticos, representantes da oposição: DR. EZEQUIEL PRADO (Jaime Barcelos), alcoólatra, assíduo frequentador do Vesúvio, jurista de ideias liberais,
DR. PELÓPIDAS (Ary Fontoura), conhecido apenas como DOUTOR,
JOÃO FULGÊNCIO (Luís Orioni), dono de uma papelaria que é o centro intelectual de Ilhéus,
e CAPITÃO (Sérgio de Oliveira).

– núcleo do CORONEL MELK TAVARES (Gilberto Martinho), braço direito do Coronel Ramiro Bastos. Homem bruto, rígido e de personalidade forte:
a mulher IDALINA (Ana Ariel), submissa ao marido
a filha MALVINA (Elizabeth Savala), amiga e confidente de Jerusa. Moça de ideias liberais, não aceita as imposições à mulher na sociedade de seu tempo. Vive batendo de frente com o pai autoritário
RÔMULO VIEIRA (Marcos Paulo), engenheiro, amigo de Mundinho, vem a Ilhéus a trabalho e seduz Malvina, que se apaixona por ele.

– núcleo do CORONEL AMÂNCIO LEAL (Castro Gonzaga), aliado de Ramiro Bastos e, portanto, opositor de Mundinho Falcão:
a mulher DADÁ (Monah Delacy)
o filho BERTO (Mário Gomes), rapaz boa pinta e boa vida. O pai quer que ele se envolva com Jerusa, para que sua família se una à família Bastos.

– núcleo do CORONEL JESUÍNO GUEDES MENDONÇA (Francisco Dantas), velho de ideias retrógradas, homem violento e rude, amigo do Coronel Ramiro Bastos:
a mulher SINHAZINHA GUEDES MENDONÇA (Maria Fernanda), sofre nas mãos do marido. Mulher elegante e charmosa, é inconformada com a vida que leva, apesar da submissão ao marido
o jovem dentista DR. OSMUNDO PIMENTEL (João Paulo Adour), que vem da capital para montar um consultório em Ilhéus. Tem um romance com Sinhazinha, mas o casal de amantes é descoberto pelo marido dela, que, por sua vez, “lava a honra com sangue”.

– núcleo do CORONEL CORIOLANO RIBEIRO (Rafael de Carvalho), que vive em sua fazenda mas mantem uma casa em Ilhéus para sua “teúda e manteúda”. Desconfiado e ciumento, sempre acha que está sendo traído, pois já fora várias vezes, o que o faz trocar constantemente de amante:
a “teúda e manteúda” anterior CHIQUINHA (Cidinha Milan), que ele expulsou da cidade ao flagrá-la na cama com o estudante JUCA VIANA (Pedro Paulo Rangel)
a atual “teúda e manteúda” GLÓRIA (Ana Maria Magalhães), que ele proíbe a sair de casa, o que faz com que ela passe o dia na janela a olhar o movimento da rua para se distrair
o PROFESSOR JOSUÉ (Marco Nanini), que dá aulas de Literatura no colégio local. Jovem tímido e romântico, vai viver um tórrido romance com Glória
a empregada PRETINHA (Ilcléia Magalhães).

– núcleo do cabaré Bataclã, o bordel de Ilhéus:
a cafetina MARIA MACHADÃO (Eloísa Mafalda), autoritária no trato com suas meninas, conhece a fundo os poderosos de Ilhéus
a prostituta ZAROLHA (Dina Sfat), amiga de Maria Machadão. É a preferida de Nacib, até a chegada de Gabriela. Deixa Ilhéus logo no início
as demais prostitutas, ORORA (Natália do Valle), filha de Maria Machadão, JANDAIA (Maria Lucia Dahl), exímia jogadora de cartas, e NEUSONA (Maria Angélica)
a menina MARIQUINHA (Margarethe Boury), protegida de Maria Machadão
o bandido CHICO CHICÃO (Roberto Bonfim), com quem Orora foge.

– demais personagens:
PADRE BASÍLIO (Jorge Cherques), pároco de Ilhéus, sacerdote submisso que sofre com a pressão das beatas contra as prostitutas do Bataclan
MAURÍCIO CAIRES (Paulo Gonçalves), diretor do colégio, puxa-saco e pau mandado do Coronel Ramiro Bastos
PRÍNCIPE SANDRA (Paulo César Pereio), ilusionista vigarista que chega a Ilhéus com Mundinho Falcão
ANABELA (Neila Tavares), comparsa de Príncipe em seus golpes, usa a beleza para enganar os homens
FILÓ (Milton Gonçalves), irmão mais velho de Tuísca, tornou-se ladrão de cavalos por forças das circunstâncias. Preso inúmeras vezes, nunca se conformou com o cativeiro, sempre alerta para uma fuga
ARGILEU PALMEIRA (Hugo Carvana), poeta e bacharel, apresenta-se a todos com seu cartão de visitas
JOÃO PIMENTEL (Rubens de Falco), pai do Dr. Osmundo, vem a Ilhéus por causa do assassinato do filho. Encanta-se por Gabriela
FELISMINO (Stênio Garcia), antigo morador de Ilhéus que entregou a mulher traidora ao amante dela e, portanto, foi ridicularizado pela população local
CORONEL ARISTÓTELES PIRES (Alciro Cunha) político da região, alia-se a Mundinho contra o Coronel Ramiro Bastos
SALMA (Regina Viana) e SAAD (Samir de Montemor), irmã e tio de Nacib, tentam arranjar-lhe um casamento com a prima solteirona ZOBAIDA (Marilena Cury).

Marco da televisão

Gabriela proporcionou momentos artísticos relevantes. Com a qualidade da produção e a repercussão alcançada, a novela tornou-se um marco da história da TV brasileira.

A adaptação de Walter George Durst e a direção de Walter Avancini valorizaram, ampliaram e explicaram a obra de Jorge Amado (o romance “Gabriela Cravo e Canela”, lançado em 1958), principalmente no aspecto político – em que se deteve maior parte de sua criação.

Gabriela ganhou da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o Grande Prêmio da Crítica de 1975. Elizabeth Savala e Jaime Barcelos foram premiados como revelação de intérpretes.
Gabriela também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela de 1975. Paulo Gracindo levou dois prêmios: melhor ator e “destaque masculino” na televisão naquele ano. Elizabeth Savala foi o “destaque feminino”.

Elenco

A TV Globo esmerou-se no lançamento da novela, com a qual comemorava seus dez anos de existência e cinco de liderança nacional.

A preparação da novela teve o aspecto hollywoodiano das super produções. O elenco foi escolhido a dedo. Criou-se até um clima para saber quem seria a Gabriela – ao estilo de David O. Selznick à procura de sua Scarlett O’Hara de …E o Vento Levou (filme de 1939). (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Sobre a escalação de Sônia Braga, Daniel Filho narrou em seu livro “O Circo Eletrônico”:
“Quem faria o papel-título de Gabriela? Pensei em algo inusitado, afinal tínhamos uma Gabriela no imaginário do público brasileiro: Gal Costa. Ela não aceitou. ‘Sei representar não’, disse com aquela malícia baiana e olhar de Gal-Gabriela. Boni pediu testes. Testamos incontáveis mulheres por dia, modelos e mulatas exportação, o diabo a quatro. Mas eu tinha esse trunfo na manga que era esse Caso Especial com a Sônia. (…) Mas Boni não concordava com aquela escolha: via a Sônia de Selva de Pedra e Fogo Sobre Terra. E eu obcecado: Sônia ia ser Gabriela. Mostrei ao Avancini, que comprou a ideia, mas com reservas. (…) Acho que ninguém no mundo poderia sugerir outra Gabriela, senão aquela inesquecível que subiu no telhado com a garotada lá embaixo.”

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, em seu “Livro do Boni” sobre Sônia Braga:
“Muita gente a achava clara demais, mas o Jorge Amado, por telefone, me disse que Gabriela chegou em Ilhéus como retirante do Nordeste e que, na cabeça dele, era uma mestiça. Perguntei ao Jorge se ele receberia a Sônia Braga e ela foi até Salvador com o Edwaldo Pacote [produtor]. De lá, me telefonaram e colocaram o Jorge Amado na linha: ‘A Sônia está aprovada. Aprovadíssima!’

Muitos foram os destaques no elenco. Sônia Braga – com 24 aos quando começou a gravar a novela – foi elevada à categoria de estrela da televisão. Dina Sfat fez uma participação inesquecível como a prostituta Zarolha. Fúlvio Stefanini esteve impagável como Tonico Bastos. Paulo Gracindo foi envelhecido para viver o Coronel Ramiro Bastos. José Wilker consagrou-se como Mundinho Falcão. Armando Bógus viveu um dos principais papeis de seu carreira, Nacib. A novela ainda revelou a talento da atriz Elizabeth Savala, em sua estreia na TV.

Jardel Filho foi o nome inicialmente pensado para viver o turco Nacib, papel que acabou nas mãos de Armando Bógus.

Fúlvio Stefanini contou a Flávio Ricco e José Armando Vannucci, para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”, que estava cotado para viver Mundinho Falcão. Porém, tanto ele quanto o diretor Walter Avancini preferiram o conquistador Tonico Bastos, um tipo caricato, com trejeitos marcantes e uma caracterização única. O bigodinho (à la Clarck Gable) era sempre penteado, como um tique nervoso do personagem, uma ideia do ator ao diretor.

Primeira novela das atrizes Elizabeth Savala, Natália do Valle e Cidinha Milan, e do ator Tonico Pereira. Primeira novela inteira da atriz Thelma Reston.
Primeira novela na Globo da atriz Neila Tavares e dos atores Paulo César Pereio e Cosme dos Santos.

Em seu “Livro do Boni”, o autor narrou uma discordância com o diretor Walter Avancini: “Ele contratou um professor de prosódia para ensinar o elenco falar ‘baianês’. Fui contra e lembrei a ele que Elizabeth Taylor, em Cleópatra, não falava ‘egípcio’ e nem tinha qualquer acento, assim como outros atores em centenas de filmes. O limite que eu aceitaria seria a sonoridade do falar baiano. Ele me retrucou dizendo que a Bahia ia chiar. Disse a ele: ‘Não estamos fazendo Gabriela só para a Bahia, mas para o Brasil.”

O capítulo do dia 12/05/1975 mostrou os atores Pedro Paulo Rangel e Cidinha Milan nus. Ele era Juca Viana e ela, Chiquinha, uma das “raparigas” do Coronel Coriolano (Rafael de Carvalho). Flagrados na cama, Chiquinha e Juca foram atirados na rua sem roupas, debaixo de chuva, escorraçados pelos jagunços e humilhados pelo povo. Para passar pela censura do Regime Militar, o diretor Avancini gravou as tomadas à distância, como pedia o roteiro de Durst no capítulo 21: “O casal, de fato, aparentemente nu, mas não se vendo nada por causa da distância do plano.” (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Mal terminadas as gravações de Gabriela, alguns atores já emendaram com a próxima produção da Globo, A Moreninha, a nova novela das seis. Durante a semana de 20 a 24/10/1975, os atores Marco Nanini e Nívea Maria puderam ser vistos, simultaneamente, na última semana de exibição de Gabriela, na qual viviam Professor Josué e Jerusa, e na primeira de A Moreninha, em que eram Felipe e Carolina.
Em comum, as duas novelas também tinham em seus elencos os atores Jaime Barcelos, Luís Orioni, Sérgio de Oliveira, Ana Ariel e Natália do Valle.

Cenas marcantes

Além da icônica sequência em que Gabriela sobe no telhado para pegar uma pipa, outras cenas entraram para a história da TV:
– o flagrante que Nacib (Armando Bógus) dá em Gabriela, na cama com Tonico Bastos;
– a surra do Coronel Melk Tavares (Gilberto Martinho) em sua filha Malvina (Elizabeth Savala);
– a expulsão de Juca Viana e Chiquinha (Pedro Paulo Rangel e Cidinha Milan) de Ilhéus, nus, na chuva;
– a recepção de Mundinho Falcão (José Wilker) pelas baianas (o beija-mão), como o mais novo líder político de Ilhéus, no final;
– e o Coronel Guedes Mendonça (Francisco Dantas) “lavando sua honra com sangue”, ao matar a esposa (Maria Fernanda) e o amante (João Paulo Adour) em um flagrante de adultério.

Cenografia e caracterizações

A equipe dos cenógrafos Mário Monteiro e Gilberto Vigna, auxiliados pela Divisão de Engenharia da TV Globo, montou em Guaratiba, nos arredores do Rio de Janeiro, uma reprodução de Ilhéus baseada em desenhos do artista plástico baiano Carybé.

Para a construção dos cenários, um dos mais trabalhosos da televisão brasileira até então, foi preciso aterrar uma área de 1.200m2, instalar uma caixa d´água com capacidade de 16 mil litros e um transformador de 50kw, imprescindíveis à iluminação e geração de energia para as gravações. As cenas de caatinga foram feitas em Maricá (RJ).

Em um antigo livro de gravuras, a figurinista Marília Carneiro encontrou inspiração para o corte de cabelo de Malvina, interpretada por Elizabeth Savala. Então com 19 anos, a atriz usava o cabelo comprido, até a cintura, quando lhe informaram que sua personagem, uma jovem de comportamento transgressor, devia ter cabelos muito curtos, a la chanel, um visual muito avançado para a época da trama. A atriz saiu do cabeleireiro aos prantos, mas acabou gostando do resultado. O penteado virou moda e foi copiado no Brasil inteiro. (Site Memória Globo)

A bengala usada pelo personagem Rômulo Vieira, interpretado por Marcos Paulo, não era um mero acessório da caracterização. Ela foi incorporada ao personagem por causa de uma necessidade do ator, que sofrera um grave acidente de moto em janeiro de 1975. (Site Memória Globo)

Os vinte primeiros capítulos foram gravados com uma câmera fixa. Isso só mudou com a entrada na trama de Mundinho Falcão (José Wilker), personagem que simbolizava a modernidade e a mudança, em contraponto aos padrões arcaicos do coronelismo. Já na primeira cena com Mundinho, as câmeras ganham mobilidade e acompanham a trajetória do barco que traz o personagem a Ilhéus. (Site Memória Globo)

Abertura e trilha sonora

O artista plástico Aldemir Martins, que já ilustrava os livros de Jorge Amado, foi o responsável pela abertura da novela, que apresentava suas belas aquarelas com imagens retratando o sertão e o litoral baianos, com cores fortes em pinceladas firmes, quase abstratas. Martins fez ainda a abertura de outra adaptação de Jorge Amado para a TV: a novela Terras do Sem Fim, em 1981.

A trilha sonora encomendada especialmente para a novela marcou época. O disco recebeu um acabamento especial: foi lançado com capa dupla, com o selo Série Super Luxo, tendo uma foto de Sônia Braga na capa e contracapa e ficha técnica do disco, nome das canções e seus intérpretes no miolo, ilustrado com aquarelas de Aldemir Martins (da abertura da novela).

Produzida por Guto Graça Mello, a trilha de Gabriela reuniu doze músicas inéditas (apenas uma não era), entre elas, “Alegre Menina”, composta por Dori Caymmi, a partir de um poema de Jorge Amado, e interpretada pelo então iniciante Djavan, e “Filho da Bahia”, canção que projetou Fafá de Belém para o sucesso. O tema de abertura, “Modinha para Gabriela”, foi composto especialmente por Dorival Caymmi e interpretado por Gal Costa, pela primeira vez em uma trilha de novela. Guto Graça Mello revelou a Guilherme Bryan e Vincent Villari para o livro “Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”:
“Foi um trabalho feito com muito cuidado e amor, que ultrapassou a novela e atravessou o tempo. É a melhor trilha que fiz até hoje. Não foi um estouro de vendas, mas, com ela, conquistamos o respeito da crítica especializada.”

Em 1979, aproveitando a reprise da novela, a Som Livre relançou nas lojas o LP com a trilha sonora (em capa simples, em vez da capa dupla da primeira exibição).
Em 2001, a trilha voltou ao mercado, desta vez em CD. A Som Livre lançou o CD de Gabriela na coleção “Campeões de Audiência”, 20 trilhas nacionais de novelas campeãs de vendagem nunca antes lançadas em CD (títulos até 1988, pois no ano seguinte foram lançados os primeiros CDs de novelas).

Exportação

Gabriela foi a primeira telenovela vendida para Portugal, abrindo caminho à exportação para outros continentes. Na data de seu lançamento, em 16/05/1977, pela RTP (Rádiotelevisão Portuguesa), foi organizada uma “noite brasileira”, com show de Vinícius de Moraes, Toquinho e Maria Creuza. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

A primeira novela exportada da TV brasileira foi O Bem-Amado, para o México, em 1976. Antes disso, comercializava-se apenas o texto.

Repetecos

A novela foi reapresentada em um compacto de 90 capítulos em duas ocasiões:
– de 29/01 a 04/05/1979, após a última novela inédita do horário das 22 horas (Sinal de Alerta);
– e entre 24/10/1988 e 24/02/1989, no Vale a Pena Ver de Novo (foi a única novela das dez reprisada na faixa).
Reexibida também entre 15/06 e 02/07/1982 (às 22h15), em uma edição de 12 capítulos, anunciada como “minissérie especial”, para cobrir o período da Copa do Mundo da Espanha.

Por conta da reprise da novela de 1979, chegou às bancas de revistas o livro Receitas de Gabriela, de culinária baiana.

A TV Globo editou Gabriela para uma exibição única, de uma hora e meia de duração, na noite do dia 18/03/1980, como parte do Festival 15 Anos da emissora (apresentação de Aldemir Martins).

Outras adaptações

O romance de Jorge Amado já tivera uma versão para a televisão: a novela produzida pela TV Tupi carioca, em 1961, exibida duas vezes por semana, adaptada por Antônio Bulhões de Carvalho, dirigida por Maurício Shermann, com Janete Vollu (então vedete de espetáculos de Carlos Machado) como Gabriela, Renato Consorte, como Nacib, e Paulo Autran, como Mundinho Falcão, entre outros. Infelizmente não existem mais imagens dessa produção.

Em 1983, a história foi filmada pelo diretor Bruno Barreto. Com locações em Parati, o filme manteve Sônia Braga como protagonista, uma vez que ela já desfrutava de reconhecimento estrangeiro. Todavia, importou o astro italiano Marcello Mastroianni para o papel de Nacib, contratando ainda Tom Jobim para a trilha sonora, ambos os nomes com vistas ao mercado internacional.

Em 2012, a Globo levou ao ar uma nova adaptação de “Gabriela Cravo e Canela”, escrita por Walcyr Carrasco, com Juliana Paes como Gabriela e Humberto Martins como Nacib.
José Wilker e Ary Fontoura – do elenco da versão de 1975 – participaram também deste remake.
Na novela original, Wilker foi Mundinho Falcão e, em 2012, o Coronel Jesuíno (personagem de Francisco Dantas em 1975).
Ary Fontoura, por sua vez, foi o Doutor Pelópidas em 1975 e, no remake, o Coronel Coriolano (Rafael de Carvalho na década de 1970).

Jorge Amado foi o romancista mais adaptado para a televisão brasileira. Além de Gabriela: Terras do Sem Fim (1981), Tenda dos Milagres (1985), Tieta (1989), Capitães de Areia (1989), Tereza Batista (1992), Tocaia Grande (1995), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998), Porto dos Milagres (2001 – adaptação dos romances Mar Morto e A Descoberta da América pelos Turcos), Pastores da Noite (2002) e alguns casos especiais inspirados em sua obra.

01. CORAÇÃO ATEU – Maria Bethânia (tema de Jerusa e Mundinho)
02. GUITARRA BAIANA – Moraes Moreira (tema de locação: Ilhéus)
03. ALEGRE MENINA – Djavan (tema de Gabriela e Nacib)
04. QUERO VER SUBIR QUERO VER DESCER – Wálter Queiróz (tema do Dr. Maurício)
05. HORAS – Quarteto Em Cy (tema de Malvina)
06. SÃO JORGE DOS ILHÉUS – Alceu Valença (tema de Ramiro Bastos)
07. MODINHA PARA GABRIELA – Gal Costa (tema de abertura e tema de Gabriela)
08. FILHO DA BAHIA – Fafá de Belém (tema de Glorinha)
09. CARAVANA – Geraldo Azevedo (tema de Mundinho)
10. PORTO – MPB4 (tema geral e tema das vinhetas de intervalo)
11. RETIRADA – Elomar (tema dos retirantes)
12. DOCES OLHEIRAS – João Bosco (tema de Tonico Bastos)
13. ADEUS – Walker

Coordenação geral: João Araújo
Direção de produção: Guto Graça Mello
Assistentes de produção: Perinho Albuquerque, João Mello, Paulinho Tapajós e Roberto Santana
Arranjos: Guto Graça Mello, Dori Caymmi, João Donato, Oscar Castro Neves e Perinho Albuquerque

Trilha sonora complementar: Uma Noite no Bataclan

01. A VOLTA DO BOÊMIO – Nelson Gonçalves
02. MALAGUEÑA – Los Índios
03. VINGANÇA – Linda Batista
04. SIBONEY – Orquestra Serenata Tropical
05. BIGORRILHO – Jorge Veiga
06. MANO A MANO – Carlos Lombardi
07. O MEU BOI MORREU – Cravo & Canela
08. BAR DA NOITE – Nora Ney
09. HISTÓRIA DE UN AMOR – Pepe Avila y Los Bronces
10. CASTIGO – Roberto Luna
11. MAMBO JAMBO – Perez Prado
12. TORTURA DE AMOR – Waldick Soriano
13. PERFURME DE GARDÊNIA – Bienvenido Granda
14. JURA – Altamir Carrilho

Coordenação geral: João Araújo
Planificação e repertório: Toninho Paladino

Tema de abertura: MODINHA PARA GABRIELA – Gal Costa

Quando eu vim para esse mundo
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela
Gabriela e meus camaradas

Eu nasci assim
Eu cresci assim
E sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela
Sempre Gabriela

Quem me batizou
Quem me nomeou
Pouco me importou
É assim que eu sou
Gabriela
Sempre Gabriela

Eu sou sempre igual
Não desejo o mal
Amo natural
Etc e tal
Gabriela
Sempre Gabriela…

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