Sinopse

A alegre e carismática Kiki Blanche, vedete de sucesso no passado, hoje vive dedicada à família e ao seu badalado salão de beleza, na Zona Sul do Rio de Janeiro, administrado por Milena, a filha mais velha. Moça responsável e centrada, Milena é a única filha biológica de Kiki, que ainda tem mais quatro filhos, adotivos: a rebelde Fernanda, o impulsivo Paulo, a romântica Renata e a pequena Regina. O grande conflito da trama é a paixão de Fernanda por Fábio, o namorado de Milena.

O namoro de Milena e Fábio é atrapalhado por Fernanda, apaixonada também por ele, que resolve disputá-lo com a irmã, com quem tem uma relação que sempre foi difícil. No desenrolar da trama, é revelado que Milena é, na verdade, mãe de Fernanda e, por isso, abre mão de Fábio em nome da felicidade da filha. Sem contar para ninguém seus motivos, Milena recusa o pedido de casamento de Fábio. O advogado não compreende, mas não desiste de conquistá-la e evita Fernanda ao máximo.

Também a história de Netinho, sufocado pela mãe possessiva, Margarida, que não admite dividir o amor do filho com ninguém. O rapaz namora Renata, mas se sente fortemente atraído por Patrícia. Celeste, vizinha solteirona, amiga de Margarida, é quem ouve os desabafos de Netinho, que sequer percebe que ela, uma mulher mais velha, está apaixonada por ele. Ao final, após muito sofrer em silêncio, Celeste declara seu amor e é correspondida. Margarida sente-se traída, mas acaba aceitando a relação.

Ainda a chegada do português Machadinho na vida de Gracinha, funcionária do salão de Kiki Blanche que sonha com um futuro melhor. Vindo de Portugal para se hospedar em sua casa, Machadinho revitaliza o bar de Vitor, o ranzinza pai de Gracinha, transformando-o em um badalado ponto de encontro de jovens. Ao mesmo tempo, o romance do português com a moça enfrenta um empecilho perigoso: as intrigas da falsa amiga Lurdinha, que sente inveja de Gracinha e deseja Machadinho para si.

Globo – 19h
de 1º de março a 12 de setembro de 1977
168 capítulos

novela de Cassiano Gabus Mendes
direção de Régis Cardoso

Novela anterior no horário
Estúpido Cupido

Novela posterior
Sem Lenço Sem Documento

ARACY BALABANIAN – Milena
WALMOR CHAGAS – Fábio
LUCÉLIA SANTOS – Fernanda
EVA TODOR – Kiki Blanche (Maria Josefina de Cabral)
DENIS CARVALHO – Netinho
ILKA SOARES – Celeste
MIRIAN PIRES – Margarida
ELIZÂNGELA – Patrícia Vieira Mello
JOÃO CARLOS BARROSO – Paulo
THAÍS DE ANDRADE – Renata
TONY CORREIA – Machadinho (Alberto César Machado)
MARIA CRISTINA NUNES – Gracinha (Maria da Graça)
TERESINHA SODRÉ – Lurdinha (Maria de Lurdes)
ROBERTO PIRILO – Cássio
CÉLIA BIAR – Sílvia
HÉLIO SOUTO – Zé Tião (José Sebastião)
ROGÉRIO FRÓES – Sérgio Gastão Mello
SUZY ARRUDA – Mirtes Vieira Mello
ISAAC BARDAVID – Vitor
ELOÍSA MAFALDA – Joana
OSWALDO LOUZADA – Chico Rico
LÍDIA IÓRIO – Dona Marcelina
CARMEM SILVA – Adelaide
LADY FRANCISCO – Carla Lambrini
JOSÉPHINE HÉLENE – Zulmira
NENA AINHOREN – Jussara
CARLOS ADIER – Donato

as meninas
MIRIAM FICHER – Lia
GISELA ROCHA – Regininha

e
ANA MARIA SAGRES – Margô (amiga de Carla e Lúcia)
ANA ZELMA – Lúcia (amiga de Carla e Margô)
ANGELINA MUNIZ – amiga de Patrícia
ANTÔNIO CARLOS como ele mesmo, cabeleireiro de São Paulo, amigo de Milena que a visita
CANTO E CASTRO – Moreira (tio de Machadinho, de Portugal)
CASTRO GONZAGA – Rogério (amigo de Fábio, de São Paulo, investiga a adoção de Fernanda a seu pedido)
CHRIS COUTO – Grace (funcionária do salão de Kiki Blanche)
EDSON SILVA – vendedor da joalheria que atende Zé Tião
FERNANDA FRANCO – Glorinha (Maria da Glória, ex-namorada de Machadinho, de Portugal)
GUARACY VALENTE – funcionário do escritório de Fábio
HELENA ADELSOHN
JOANA ROCHA – Benedita (uma das auxiliares de cozinha no Tia Joana)
LEILA CRAVO – Diva (amiga de Patrícia)
MÁRCIA CONDESSA como ela mesma, apresentando-se em Portugal, assistida por Machadinho, Chico Rico e Moreira
MARIA MÔNICA SABOYA como ela mesma, uma convidada no noivado de Patrícia, no final
MONAH DELACY – Luciana Camargo (antiga corista do passado de Kiki, confirma a Fábio que Fernanda é filha de Milena)
NATÁLIA DO VALLE – Sandra (paquera de Fábio)
ORION XIMENES – amigo de Vitor
PAULO ROBERTO
PEDRINHO AGUINAGA – Marco Aurélio (pretendente de Patrícia, no último capítulo)
RAFAEL PONZI
REJANE SCHUMANN – Laís (amiga de Sandra)
SILVINHO como ele mesmo, cabeleireiro amigo de Kiki Blanche que a visita no salão
TETÊ PRITZL – da turma de Fernanda
VANDA COSTA – Madame Soares (cliente do salão de Kiki Blanche)
VERA PAES – Jandira (empregada no apartamento de Fábio)
VICENTE BARCELLOS – funcionário do escritório de Fábio
WALDIR AMÂNCIO – Waltinho (cabeleireiro no salão de Kiki Blanche)
Ana Maria (paquera de Fábio)
Carolina (empregada na casa de Sérgio Mello)
Madame Flores (cliente do salão de Kiki Blanche)
Marlene (amiga de Fábio, ajuda-o a pregar uma peça em Fernanda)
Nair (secretária de Sérgio Mello)
Stelinha (cliente do salão de Kiki Blanche)

– núcleo de KIKI BLANCHE, nome artístico de MARIA JOSEFINA DE CABRAL (Eva Todor). No passado, foi uma vedete de sucesso no teatro de revista. Fez algum dinheiro e hoje vive bem, dedicando-se à prole e ao seu badalado salão (instituto) de beleza, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Tem uma filha biológica e adotou outros quatro. Figura alegre e carismática, é uma mulher de grande coração que coloca em primeiro lugar a felicidade dos filhos:
a filha biológica MILENA (Aracy Balabanian), dirige o salão de beleza da mãe. Bonita e charmosa, centrada e responsável, no início é alheia a relacionamentos amorosos, dedicando-se quase que exclusivamente ao negócio da família. Com a mãe, esconde um segredo de seu passado
os filhos adotivos: FERNANDA (Lucélia Santos), jovem temperamental, rebelde e egoísta, de comportamento muitas vezes infantil. Inveja Milena e vive implicando com ela, por ser a única biológica. Vai disputar com a irmã o amor de um homem. Ao longo da trama, é revelado que é, na verdade, filha biológica de Milena,
PAULO (João Carlos Barroso), rapaz romântico, mas carente e impulsivo. Sofre exageradamente com pequenas coisas e, às vezes, tem reações explosivas,
RENATA (Thaís de Andrade), moça alegre, romântica e namoradeira, mas intempestiva,
e REGININHA (Gisela Rocha), a caçula, em idade escolar
a amiga ADELAIDE (Carmem Silva), que a acompanha desde a sua juventude. Ajudou a criar seus filhos e está a par do segredo que envolve Milena e Fernanda
a empregada ZULMIRA (Joséphine Hélene), intrometida, dá palpites onde não é chamada.

– núcleo de FÁBIO (Walmor Chagas), quarentão viúvo e charmoso que não resiste a um rabo de saia. Advogado, leva uma vida estável. Apaixona-se por Milena e não desiste de conquistá-la, mesmo quando ela, inexplicavelmente, afasta-se dele. Evita ao máximo o assédio de Fernanda, louca por ele. Ao investigar a adoção de Fernanda, a pedido dela, descobre a verdade sobre sua maternidade:
a irmã SILVIA (Célia Biar), mulher vaidosa e simpática. Solteirona, ajudou-o a criar a filha pequena depois que a cunhada faleceu. Tem um pé atrás com Fernanda e torce para que o irmão fique com Milena, de quem se torna amiga
a filha pré-adolescente LIA (Miriam Ficher), que estuda no mesmo colégio que Regininha. Muito apegada à tia desde que sua mãe morreu, tem ciúmes do pai e não aceita Milena, pois prefere Fernanda, que fica sua amiga
a cliente CARLA LAMBRINI (Lady Francisco), mulher do Comendador Lambrini, homem rico e idoso que morre ao longo da trama deixando-lhe polpuda fortuna. Bela e exuberante, interessa-se por Fábio e contrata o seus serviços de advogado
a secretária JUSSARA (Nena Ainhoren), a par de todas as suas conquistas amorosas.

– núcleo de NETINHO (Denis Carvalho), jovem bancário, mora com a mãe viúva e é completamente dominado por ela. Rapaz quieto e sossegado, a princípio, namora Renata, apaixonada por ele, mas não está muito empolgado com a relação. Até salvar a vida de uma garota na praia e apaixonar-se por ela:
a mãe MARGARIDA (Mirian Pires), viúva, trabalha em uma repartição pública. Possessiva e dominadora, controla sua vida e torce o nariz para todas as suas namoradas. Diz que o filho só poderá se casar quando morrer e passa mal toda vez que percebe que ele está se envolvendo com alguma garota
a vizinha CELESTE (Ilka Soares), amiga de Margarida, bela e solteirona. Funcionária de um escritório comercial, divide seu tempo entre o trabalho, os cuidados com os pais doentes e bate-papos no apartamento de Margarida. Nutre um amor platônico por Netinho e, sem coragem de se declarar, sofre toda vez que o rapaz a procura para chorar suas mágoas. Tem medo da reação de Margarida caso ela saiba do amor que sente pelo seu filho
o irmão de Celeste, ZÉ TIÃO (Hélio Souto), sujeito rústico e fanfarrão. No passado, sumiu de casa e nunca mais deu notícias. Hoje é muito rico, pois fez fortuna no Uruguai, com criação de gado. Aparece após Celeste colocar um anúncio no jornal o procurando para revelar a morte dos pais. Quando conhece Milena, passa a cortejá-la. Porém, diante das recusas dela, acaba aceitando as investidas de Carla Lambrini, que apaixona-se por ele
o amigo CÁSSIO (Roberto Pirilo), com quem trabalha no banco. Ao longo da trama, apaixona-se por Renata, cada vez mais desiludida com Netinho.

– núcleo de PATRÍCIA (Elizângela), jovem angustiada e oprimida pelos pais, ricaços esnobes. Quer livrar-se do jugo do pai autoritário em nome de sua liberdade. Apaixona-se por Netinho quando ele salva sua vida na praia. Ao mesmo tempo, começa a namorar Paulo, mas descompromissadamente. Envolve Netinho com seu charme e, para conseguir o que quer, é sonsa e dissimulada, enfrentando Margarida, mãe dele, que não a suporta. Porém, não tem forças para enfrentar o pai:
os pais: SÉRGIO MELLO (Rogério Fróes), industrial rico, mas com os negócios em crise. É um homem moralista, arraigado a preconceitos antigos e tirano com a filha. Ao longo da trama, é revelado que teve um caso com Kiki Blanche na juventude. Não aceita o namoro de Patrícia com Paulo após saber quem é a mãe do rapaz. Planeja que a filha se case com MARCO AURÉLIO (Pedrinho Aguinaga, participação), um rapaz rico, o que o tiraria da falência financeira,
e MIRTES (Suzy Arruda), mulher submissa ao marido, vive alienada, em um mundo à parte. Ajuda Sérgio a vigiar a filha. Deseja que ela se case com um rapaz de família rica, com sobrenome imponente
o copeiro DONATO (Carlos Adier).

– núcleo de MACHADINHO (Tony Correia), jovem português, trabalhador, ambicioso e bom caráter, que chega ao Brasil decidido a vencer na vida. Vai morar na casa do amigo de um tio, recomendado por ele. Exímio cozinheiro, tem tino para os negócios. Com o pouco dinheiro que trouxe, revitaliza o bar de seu senhorio, o que traz clientela nova ao local, transformando-o em um badalado point da Zona Norte:
o amigo do tio com quem vai morar VITOR (Isaac Bardavid), homem ranzinza, embrutecido pelas dificuldades da vida. Dono de um bar que está à beira da falência, associa-se a Machadinho para revitalizar o lugar
a mulher de Vitor, JOANA (Eloísa Mafalda), trabalhadora e despachada. Cuida do bar com o marido e suporta seu mau-humor
a filha de Vitor e Joana, GRACINHA (Maria Cristina Nunes), trabalha como manicure no salão de beleza de Kiki Blanche, mas ambiciona uma vida melhor. Inicia um namoro com Machadinho, atrapalhado por intrigas. É romântica, mas também ciumenta e geniosa
os pais de Joana: CHICO RICO (Oswaldo Louzada), hoje aposentado, tem mania de grandeza, herança dos tempos de boa condição financeira. É um homem pacato que tenta ajudar o genro no que pode, apesar de ele estar sempre reclamando,
e DONA MARCELINA (Lídia Iório), senhora que vive recriminando o genro, já que os dois não se dão muito bem
a amiga de Gracinha, LURDINHA (Terezinha Sodré), com quem trabalha no salão. De origem pobre, vinda do interior, vai morar em sua casa. Gracinha não sabe, mas Lurdinha é falsa e sonsa. Namora Cássio no início, porém, apaixonada por Machadinho, arma intrigas para separá-lo de Gracinha.

Modelo ideal para as 7

Deliciosa e charmosa novela que solidificou o estilo de Cassiano Gabus Mendes e o modelo ideal para o horário das sete da Globo à época, marcado por diálogos espirituosos e leves requintes de comédia e folhetim. Um sucesso recordista de audiência no horário até então.

Primeira novela totalmente em cores do horário das sete da Globo – a produção anterior, Estúpido Cupido, teve apenas seus dois últimos capítulos gravados em cores.

Título

O primeiro título pensado para a novela foi As Raposas, que acabou vetado por Boni, então todo-poderoso da Globo, por causa da semelhança com As Panteras, título que recebeu no Brasil a série americana Charlie’s Angels, que estreou por aqui na época da novela. (O Globo, 18/01/1977)
Foi o próprio Boni quem escolheu o título Locomotivas. (O Globo, 02/02/1977, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

As palavras “raposa”, “pantera” e “locomotiva” eram gírias da época para mulher bonita, sensual e poderosa. O título da novela fazia alusão ao belo elenco feminino.

Inspiração

Cassiano Gabus Mendes já havia usado um salão de beleza como ambientação para a trama de O Amor Tem Cara de Mulher, na TV Tupi, em 1966 – inclusive com Aracy Balabanian e Walmor Chagas no elenco.

Para criar a trama central de Locomotivas, o autor contou, em entrevista ao jornal O Globo (de 01/03/1977), que se inspirou nas vedetes do “teatro rebolado” (pesquisa: Sebastião Uellington Pereira):

“Nos meus tempos de juventude, assisti a muito teatro de revista, que hoje não existe mais. As figuras das vedetes interessavam muito e, daquela turma – Virgínia Lane, Nélia Paula, Mara Rúbia – conheci muita gente.

Eram pessoas boníssimas de coração. Representavam os que faziam um tipo de espetáculo que chocava um pouco na época – cheia de preconceitos e morais -, mas não eram daquilo. Apenas pessoas normais, humanas, que tinham família, criavam filhos e faziam seu trabalho como qualquer outro.

Foi pensando nisso que resolvi colocar uma mulher de pouco mais de 50 anos, vedete aposentada que conseguiu guardar um dinheirinho e ficar bem na vida. (…) Uso como ponto também as mulheres das outras famílias e por isso é que a novela se chama Locomotivas, como referência a mulheres da sociedade.”

Reconhecimento da concorrência

A TV Tupi, principal concorrente da Globo na ocasião, exibia a novela Éramos Seis no mesmo horário de Locomotivas. Reconhecendo os imbatíveis índices de audiência da trama da Globo, a Tupi mandou publicar nos jornais de 14/08/1977 um anúncio surpreendente:
“A Rede Tupi mudou a novela Éramos Seis para as sete e meia da noite. Assim você não perde as Locomotivas!”

Curiosamente, dezessete anos depois (em 1994), o SBT exibia o remake de Éramos Seis e fez algo semelhante: em anúncios na programação, conclamou o público a sintonizar sua novela quando terminasse o capítulo da global A Viagem.

Elenco

Primeira novela de Eva Todor na Globo (já que seu trabalho anterior, Roque Santeiro, em 1975, foi impedido de estrear). Segundo a atriz, sua personagem em Locomotivas, a alegre e carismática Kiki Blanche, proprietária de um salão de beleza, fez tanto sucesso que, na época, surgiram inúmeros salões com o nome Kiki Blanche. (Site Memória Globo)

A convite da novelista Maria Adelaide Amaral, Kiki Blanche foi revivida por Eva Todor mais de trinta anos depois, em uma participação especial na segunda versão de Ti-ti-ti (em 2010).

Uma das sequências mais marcantes da novela é a festa de aniversário de Kiki (no capítulo 103, exibido em 28/06/1977) em que Milena (Aracy Balabanian), Fernanda (Lucélia Santos), Renata (Thaís de Andrade) e Patrícia (Elizângela), caracterizadas de vedetes, homenageiam a personagem com um espetáculo de teatro de revista, cantando e dançando adaptações de marchinhas de carnaval, em meio a esquetes de humor com Paulo (João Carlos Barroso).

Aracy Balabanian foi a primeira cogitada para viver a protagonista Milena. No entanto, a atriz declinou porque estava de férias. Com sua recusa, Yoná Magalhães e Norma Blum chegaram a ser cotadas para a personagem. (O Globo, 25/01/1977)
Por fim, Boni convenceu Aracy Balabanian a abrir mão de uma viagem à Europa para interpretar a protagonista da novela. (O Globo, 02/02/1977, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

Após seu sucesso como a protagonista de Escrava Isaura, Lucélia Santos foi convocada para atuar em Locomotivas. O diretor Régis Cardoso havia separado o papel de Patrícia, uma mocinha rica e infeliz, mas Lucélia pediu para fazer a espevitada Fernanda, uma antagonista, também com destaque na trama. Assim, a apenas um mês do término de Escrava Isaura, Lucélia Santos surpreendeu o público e a crítica especializada com o salto de uma personagem submissa (Isaura) para uma rebelde (Fernanda). O papel de Patrícia ficou com a atriz Elizângela.

Ney Latorraca, em alta por causa do sucesso de seu personagem em Estúpido Cupido, a novela antecessora no horário, foi o primeiro nome cotado para interpretar Netinho. Por problemas de saúde, Latorraca, acabou substituído por Denis Carvalho. (O Globo, 03/02/1977, pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

Denis Carvalho destacou-se como Netinho, o rapaz oprimido pela mãe dominadora. Por sua vez, Mirian Pires, a mãe Margarida, viveu um de seus melhores momentos na TV.

No último mês da novela, Denis Carvalho pediu ao diretor Régis Cardoso para dirigir algumas cenas. Foi a primeira experiência do ator atrás das câmeras na TV Globo. Na novela seguinte no horário, Sem Lenço Sem Documento, Denis já foi creditado como diretor, sob a direção geral de Régis Cardoso.

Locomotivas não agradou a todos do elenco. A revista Amiga, no balanço final da novela (edição 383, de 21/09/1977), publicou os depoimentos de atores que não ficaram satisfeitos com seus personagens:
João Carlos Barroso: “Nunca vi personagem tão desestruturado. A TV não tem compromisso com a realidade, mas Paulo, que devia ser o mais sabido por ser garotão, tornou-se bobo.”
Roberto Pirilo: “É a primeira vez que brigo com o texto e o personagem. Cássio é tão independente da ação que não precisava existir! (pesquisa: Sebastião Uellington Pereira)

O personagem de Rogério Fróes, o esnobe Sérgio Mello, passou a novela inteira citando um tal Marco Aurélio, rapaz rico com quem ele queria casar a filha Patrícia (Elizângela) para livrar-se da falência financeira. Marco Aurélio surgiu finalmente, para o público, no último capítulo, na pele do playboy Pedrinho Aguinaga, em uma participação especial.

Primeira novela das atrizes Joséphine Hélene e Thaís de Andrade (revelada como novo talento no programa Moacyr TV, de Moacyr Franco). Também a estreia na Globo dos atores Hélio Souto e Teresinha Sodré (ela vinda das novelas da TV Tupi).

Gravações em Portugal

Destacou-se na novela o ator português Tony Correia, com seu personagem Machadinho, jovem português carismático, ambicioso e bom caráter que chegou ao Brasil disposto a vencer na vida.

Em uma época em que não era comum as novelas terem cenas gravadas no exterior, uma equipe de Locomotivas, com os atores Tony Correia, Oswaldo Louzada e Lucélia Santos, viajou a Portugal para gravar cenas que foram exibidas na novela.

Na capital Lisboa, serviram de locações lugares como a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerônimos e a Praça de Touros do Campo Pequeno. Em Coimbra, o parque temático Portugal dos Pequenitos, a Fonte dos Amores, na Quinta das Lágrimas, o Retiro dos Poetas, no parque Penedo da Saudade, e a Universidade de Coimbra. A equipe também gravou nas ruínas romanas de Conímbriga.

Algumas cenas contaram com as participações especiais dos atores portugueses Fernanda Franco (no capítulo 152) e Canto e Castro (no capítulo 153), e da fadista Márcia Condessa (fazendo uma apresentação no capítulo 153).

Acidente real

Guiando um carro em uma gravação do capítulo 35, Célia Biar atropelou de verdade sua colega de elenco Ilka Soares. Era a terceira tentativa e a cena ficou perfeita, indo ao ar em 09/04/1977.

O acidente, sem gravidade, apressou a contratação de dublês para cenas perigosas. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Merchandising

O merchandising rolou solto em Locomotivas. Anunciaram na novela, entre outros: produtos de beleza L’Oréal e Max Factor, refrigerantes Coca-Cola, cerveja Brahma, camisetas e jeans Lee, sorvetes Yopa, joias Natan e a companhia aérea TAP.

Também a indústria de cigarros Souza Cruz, já que a protagonista Milena (Aracy Balabanian) fumava cena sim, cena não – além de vários outros personagens que também fumavam em cena, uma prática comum nas telenovelas na época.

Cenografia e figurinos

Primeira novela em cores do horário das sete, Locomotivas teve cenografia esmerada. Raul Travassos foi o responsável pela criação dos 24 cenários fixos: 5 externos e 19 em estúdio, montados na emissora, no Jardim Botânico.

Chamaram a atenção os belos cenários de Kiki Blanche, do salão de beleza e escritório à sala, cozinha e quartos de seu apartamento, produzidos em tons claros e suaves, como bege e branco-areia em contraste com dourado e o verde das plantas, contrariando o padrão das primeiras novelas coloridas, que exageravam em cores fortes.
Uma peça do cenário de Kiki fez sucesso: a peacock chair, cadeira de vime com encosto alto e arredondado, em voga na época.

A novela lançou moda com a bolsa a tiracolo transparente, as batas e outras roupas e acessórios. Inspiradas pelo elenco repleto de belas atrizes, as telespectadoras copiaram os penteados, maquiagem e batons em cores fortes e brilhantes.

Abertura e trilha sonora

A abertura de Locomotivas não tinha nenhum efeito especial, mas marcou época. Em gravação acelerada, ao som da música “Maria-Fumaça”, a modelo Maria Mônica Saboya era maquiada (por Michelli) e penteada (por Jean) e, ao final, levantava da cadeira e dava um soco na câmera com uma luva de boxe vermelha. Maria Mônica Saboya gravou uma participação para o penúltimo capítulo da novela (o 167, exibido em 10/09/1977), como uma das convidadas da festa de noivado de Patrícia (Elizângela).

A abertura cult foi refeita no remake de Ti-ti-ti (2010): no mesmo estilo, as atrizes Thaila Ayala e Mayana Neiva foram maquiadas e penteadas ao som da mesma música.
Também o Vídeo Show refez a abertura de Locomotivas, em tom de paródia, com Angélica sendo penteada e maquiada por André Marques e Bruno Garcia.

O logotipo da novela, criado por Hans Donner e sua então esposa Sylvia Trenker – com o “V” de Locomotivas na parte de baixo de um biquíni -, soa ousado até para os dias atuais.

A trilha sonora nacional, com hits do pop ao rock, fez sucesso. Rita Lee gravou especialmente para a abertura o rock “Locomotivas”, mas a música acabou preterida por outra, o samba-funk instrumental “Maria-Fumaça”, da banda Black Rio. A música de Rita Lee entrou no LP da novela, mas, apesar de algum sucesso nas rádios, não faz parte da discografia da cantora (“Teletema – A História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari). Tampouco tocou na novela.

Da trilha nacional, ficaram associadas à novela, além da música da abertura: “Eu Preciso Te Esquecer (Cláudia Telles), “Desencontro de Primavera” (Hermes Aquino), “Filho Único” (Erasmo Carlos), “Coleção” (Cassiano) e “Voo Sobre o Horizonte” (Azimuth).

Em 2006, a Som Livre relançou a trilha sonora nacional de Locomotivas, em CD, na coleção “Master Trilhas”, 26 trilhas nacionais de novelas e séries da década de 1970 nunca lançadas em CD.

Repleta de disco music e canções românticas, a trilha internacional de Locomotivas é a oitava mais vendida entre as novelas da sete da Globo: 622.532 cópias (entre LPs e K7s).

Repetecos

A novela foi reapresentada entre 17/01 e 19/09/1978, às 13h30 – época em que a faixa Vale a Pena Ver de Novo ainda não tinha esse nome.

Ganhou nova reprise entre 17/11/1986 e 14/02/1987, em forma compactada, às 18 horas. Por causa de uma ameaça de desativação da faixa, provocada por problemas com o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro, a Globo atrasou a produção de sua nova novela das seis e reprisou Locomotivas como tapa-buraco, entre Sinhá Moça e Direito de Amar.

A TV Globo editou Locomotivas para uma exibição única, de uma hora e meia de duração, na noite do dia 25/03/1980, como parte do Festival 15 Anos da emissora (apresentação de Eva Todor).

Locomotivas foi lançada posteriormente em versões romanceadas, em duas ocasiões. Em 1985, pela Rio Gráfica Editora, na coleção “As Grandes Telenovelas”, 12 livretos adaptados de novelas de sucesso, distribuídos nos supermercados com o sabão-em-pó Omo. Em 1987, a Editora Globo lançou a série de livros “Campeões de Audiência”, também 12 adaptações de novelas, à venda nas bancas.

O texto de Locomotivas foi exportado. No Chile, a novela ganhou uma produção local, em 1988, com o título Bellas y Audaces, pela TVN (Televisión Nacional de Chile). Curiosamente, os bastidores das gravações dessa versão foram reproduzidos, em 2011, no filme chileno No, de Pablo Larrain (com Gael Garcia Bernal no elenco do filme).

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 19/06/2023.

Trilha sonora nacional

01. EU PRECISO TE ESQUECER – Cláudia Telles (tema de Milena e Fábio)
02. DESENCONTRO DE PRIMAVERA – Hermes Aquino (tema de Machadinho)
03. FILHO ÚNICO – Erasmo Carlos (tema de Netinho)
04. ENROSCA – Guilherme Lamounier (tema de Patrícia)
05. AMAR É NUNCA PRECISAR PEDIR PERDÃO – Mauro Sérgio
06. LOCOMOTIVAS – Rita Lee
07. MARIA-FUMAÇA – Black Rio (tema de abertura)
08. COLEÇÃO – Cassiano (tema de Fernanda)
09. VÔO SOBRE O HORIZONTE – Azimuth (tema de locação: salão de Kiki Blanche)
10. CONSUMATUM EST – César Costa Filho (tema de locação: bar de Vitor)
11. ESPERE POR MIM MORENA – Gonzaguinha (tema de Gracinha)
12. BABY – Quinteto Ternura (tema de Lurdinha)
13. CONSIDERAMOS – Edu Lobo (tema de Fábio)
14. ALÔ, ALÔ BRASIL – Marília Pêra (tema de Kiki Blanche)

Sonoplastia: Nestor de Almeida
Coordenação geral: João Araújo
Produção musical: Guto Graça Mello

Trilha sonora internacional

01. CONVERSATION – Morris Albert (tema de Renata)
02. YOUNG HEARTS RUN FREE – Candi Staton
03. SORROW – Michael Sullivan (tema de Milena)
04. THAT’S THE TROUBLE – Grace Jones
05. PIU – Ornella Vanoni (tema de Fernanda)
06. LOVE IN ‘C’ MINOR – Marc Cerrone
07. SWEET SOUNDS, OH BEAUTIFUL MUSIC! – Steve McLean (tema de Gracinha e Machadinho)
08. RAINY DAY – Richard Young (tema de Celeste)
09. N.Y. YOU GOT ME DANCING – Andrea True Connection
10. SAD SONGS – Alessi Brothers (tema de Patrícia)
11. DANCE AND SHAKE YOUR TAMBOURINE – Universal Robot Band
12. MOVIN’ ON – Cook & Benjamin Franklin Group
13. NOBODY’S CHILD – Penny McLean
14. L’ESPÉRANCE – Artic (tema de Machadinho)

Ainda (playlist by Sebastião Uellington Pereira, ouça no Spotify)
ALL NIGHT LONG – Kool & The Gang
ANOTHER SPRING WILL RISE – Burt Bacharach
AU CREUX DE LA NUIT – Francis Lai
BODY ENGLISH – Michal Urbaniak
BURT REYNOLDS’ HOUSE – John Morris (tema de locação: salão de Kiki Blanche)
CHORO CHORÃO – Martinho da Vila (no bar de Vitor)
COUER D’ARTICHAUT – Vladimir Cosma (para Netinho e para Gracinha)
CUIDE-SE BEM – Guilherme Arantes (no bar de Vitor)
DOWN TO LOVE TOWN – The Originals (na festa de Patrícia)
EVERYBODY’S TALKING ‘BOUT LOVE – Silver Convention (na festa de Patrícia)
FUTURES – Burt Bacharach
HOLD BACK THE WATER – Bachman-Turner Overdrive (na festa de Patrícia)
ISN’T SHE LOVELY – Stevie Wonder
I WANNA FUNK WITH YOU TONIGHT – Giorgio Moroder (na festa de Patrícia)
L’AGUEUSIE – Vladimir Cosma
LET’S GET IT TOGETHER – El Coco
MENINA DE CABELOS LONGOS – Agepê (no bar de Vitor)
LITTLE CHILDREN – Kool & The Gang
LOVE ME – Crown Heights Affair
MIDNIGHT LADY – Cerrone (no atropelamento de Celeste)
NADA ALÉM – Nelson Gonçalves
NICOLE – Ramsey Lewis
SEARCHING FOR LOVE – Crown Heights Affair
SEVENTH FOLD – Ramsey Lewis (para Fernanda)
SORTE TEM QUEM ACREDITA NELA – Fernando Mendes (no bar de Vitor)
TIME – Ju-Par Universal Orchestra
ÚLTIMA ESTROFE – Orlando Silva (com Kiki Blanche)
WHISPER SOFTLY – Kool & The Gang

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