Sinopse

A Professora Juliana chega à pequena vila de Santa Fé para ensinar as crianças e se depara com um povo humilde, mas acuado com os desmandos do Coronel Epaminondas Napoleão, um homem arrogante que dita as regras na região e resolve tudo no grito e nas armas.

A professora é cortejada por Fernando, filho do coronel, que voltou da capital onde se formou em Agronomia, contrariando o pai, que queria vê-lo advogado. Ao mesmo tempo, Juliana conhece o amor altruísta do peão Zelão, capanga do coronel, que começa a questionar as ordens do patrão depois que se apaixona pela professora.

Em meio à guerra que se forma no vilarejo, as crianças Pituca e Serelepe vivem aventuras em um mundo à parte, longe das preocupações e interesses dos adultos. Pituquinha é filha do Coronel Epa com sua segunda mulher, Helena. O menino Lepe é um órfão sem lar, por isso o coronel não vê com bons olhos a amizade pura entre sua filha e o garoto.

Globo / Cultura – 18h
de 16 de agosto de 1971 a 6 de maio de 1972 (Rio)
de agosto de 1971 a maio de 1972 (SP)
185 capítulos

novela de Benedito Ruy Barbosa
colaboração de Teixeira Filho
direção de Dionísio Azevedo

Novela posterior no horário (na Globo):
Bicho do Mato

MAURÍCIO DO VALLE – Zelão
RENÉE DE VIELMOND – Juliana
CASTRO GONZAGA – Coronel Epa (Epaminondas Napoleão)
CACILDA LANUZA – Helena
ÊNIO DE CARVALHO – Fernando
XANDÓ BATISTA – Pedro Galvão
RENATO CONSORTE – Seu Giácomo
NILSON CONDÉ – Dr. Renato
HEMÍLCIO FRÓES – Prefeito das Antas
PERCY AIRES – Padre Santo
CANARINHO – Rodapé
MARILENA DE CARVALHO – Amância
MARIA APARECIDA ALVES – Dona Tê (Tereza)
JANETE PIRES – Gina
LOURDINHA FÉLIX – Milita
LEONOR LAMBERTINI – Joana
LUÍS CARLOS ARUTIN – Geléia
DIONÍSIO AZEVEDO – Fulgêncio
CLÁUDIO CUNHA – Piteco
JORGE CHERQUES – Xanguana
FLORA GENI – Romária
CARLOS CASTILHO – Janjão Escavadeira
ISAAC BARDAVID – Jorjão
CLESTON TEIXEIRA – Sérgio
EDMUNDO JOSÉ NOGUEIRA – Quintino
DALMO FERREIRA
MARIA LÍGIA
MÁRIO GUIMARÃES
SILVIA LEBLON
WLADIMIR NIKOLAIEF

as crianças
PATRÍCIA AIRES – Pituca (Liliane)
AIRES PINTO – Serelepe (Pedro das Antas)
PELEZINHO – Tuim

A professora JULIANA (Renée de Vielmond), moça dócil, justa e paciente, chega à vila de Santa Fé contratada pela prefeitura para dar aula para as crianças da região. Desperta a curiosidade do povo e o interesse dos homens solteiros.

– núcleo de EPAMINONDAS NAPOLEÃO, o CORONEL EPA (Castro Gonzaga), senhor de terras na vila de Santa Fé. Homem arrogante, dita as regras na região resolvendo tudo no grito e nas armas. Explora os funcionários, gente humilde e sem estudo. Retrógrado, é contra qualquer tipo de progresso, já que isso afetaria os seus interesses:
a mulher HELENA (Cacilda Lanuza), de seu segundo casamento. De temperamento forte, enfrenta e tenta lidar com os desmandos do marido
a filha LILIANE, a PITUCA (Patrícia Aires), filhinha de Helena. Menina meiga, curiosa, alegre
o filho FERNANDO (Ênio de Carvalho), de seu primeiro casamento. Órfão de mãe, questiona os métodos do pai. Entra em choque com o coronel, pois voltou da capital formado em Agronomia contrariando-o, já que ele desejava vê-lo advogado. Interessa-se por Juliana na primeira vez que a vê
a cozinheira AMÂNCIA (Marilena de Carvalho), sente-se quase uma segunda mãe de Pituca.

– núcleo de ZELÃO (Maurício do Valle), sujeito rude, valente, sem estudo, mas de grande coração. Capataz do Coronel Epa, a princípio acata as ordens e os interesses do patrão. Ao apaixonar-se por Juliana, é vencido pelo amor: muda de comportamento e começa a questionar os métodos do coronel, voltando-se contra os seus desmandos:
o amigo RODAPÉ (Canarinho), também trabalha na fazenda do Coronel Epa, como uma espécie de faz-tudo. Tem alma de criança
o menino SERELEPE (Aires Pinto), que vive pela região sem endereço certo. Órfão, de espírito livre, é o grande amigo de brincadeiras de Pituca. Mas o pai da menina não vê com bons olhos essa amizade.

– núcleo de PEDRO FALCÃO (Xandó Batista), homem trabalhador e a favor do progresso na vila de Santa Fé. Justo e humanista, está sempre defendendo os interesses do povo, o que o põe em choque com o Coronel Epa. Hospeda Juliana quando ela chega na cidade:
a mulher TEREZA, a DONA TÊ (Maria Aparecida Alves)
a filha GINA (Janete Pires), descuidada no jeito de se vestir, é chamada na cidade de mulher-homem, pelo seu jeitão autoritário e seus modos nada femininos. Torna-se a melhor amiga de Juliana. Ao longo da trama, da relação tempestuosa com Fernando, nasce uma grande paixão.

– núcleo de SEU GIÁCOMO (Renato Consorte), viúvo, italiano bonachão e engraçado. Dono da principal venda e bar da vila de Santa Fé. Amigo de Pedro Falcão:
a filha MILITA (Lourdinha Félix), moça faceira, muito vigiada pelo pai.

– demais personagens:
DR. RENATO (Nilson Condé), médico, amigo de Fernando, se instala na vila de Santa Fé onde constrói o primeiro posto médico da região. Disputa o amor de Juliana, primeiro com o amigo Fernando, depois com Zelão
PADRE SANTO (Percy Aires), de descendência alemã, é o maior pacificador das brigas que acontecem no vilarejo
o PREFEITO DAS ANTAS (Hemílcio Fróes), vencedor das últimas eleições, é o inimigo político do Coronel Epa. Construiu a escola e trouxe Juliana para lecionar nela
TUIM (Pelezinho), menino amigo de brincadeiras de Serelepe e Pituca.

Primeira novela

Coprodução entre a TV Globo do Rio de Janeiro e a TV Cultura de São Paulo.

Meu Pedacinho de Chão foi a primeira novela original da Globo exibida no horário das seis (ainda que a faixa só se estabelecesse definitivamente em 1975).
Foi também a primeira novela educativa da TV brasileira. Seu cunho era rural e discutia os problemas de um pequeno vilarejo.
E o primeiro trabalho de Benedito Ruy Barbosa exibido na TV Globo – mesmo ele ainda não sendo contratado da emissora, o que aconteceria somente em 1976.

Novela educativa

O projeto sócio-educativo nasceu a partir de uma pesquisa de marketing que apontou o formato da telenovela como o melhor para atingir o grande público.

A trama foi exibida simultaneamente em dois horários pelas duas emissoras: na Globo, às 18h e no início da tarde, e na Cultura, às 18h30 e às 22h.

O autores (Benedito Ruy Barbosa e Teixeira Filho, como colaborador) transmitiram ensinamentos úteis aos trabalhadores e às populações mais pobres, com base em dados das secretarias da Agricultura e da Saúde. Em 185 capítulos, foram abordados assuntos como desidratação, vacinação, higiene e técnicas agrícolas, além de abordar o problema do analfabetismo no campo, levando personagens adultos às salas de aula. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Na época, o político Laudo Natel, ao assumir o governo de São Paulo, convidou Benedito Ruy Barbosa para exercer o cargo de assessor especial do governo junto à presidência da TV Cultura.
“Foi um projeto que apresentei ao conselho curador da TV Cultura, quando trabalhei lá como assessor especial da presidência, na época ocupada pelo José Bonifácio Coutinho Nogueira. Eu disse que aceitaria o cargo se pudesse escrever uma novela educativa. Disseram que não havia problema, desde que eu conseguisse espaço para gravá-la.” (livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo)

Benedito Ruy Barbosa declarou sobre Meu Pedacinho de Chão:
“A proposta de Pedacinho foi mostrar o problema do homem do campo, ensiná-lo sobre as doenças (tracoma, tétano, verminose), levá-lo para uma sala de aula, dar-lhe melhores condições de higiene e ao mesmo tempo mostrar o interesse das classes patronais (fazendeiros e autoridades) pelo camponês analfabeto, sem questionar nunca sua miséria e seus problemas. Como este foi o período de desenvolvimento do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), eu tentei com Pedacinho ajudar este projeto de ensino no qual, na época, eu acreditava.”

Dificuldades de produção

O autor declarou: “Fiz a novela com pouco dinheiro, em 1971. Não usei nenhum ator que estava empregado. Havia dois tipos de salário: o equivalente a R$ 3 mil para o ator de primeira linha e R$ 1.500 para o de segunda. A gente gravava numa fazenda cedida pelo governo, em Itu, e tínhamos essa preocupação porque essa era uma das condições impostas pelas secretarias de Educação e Saúde para que a novela pudesse sair. Tive que colocar elementos como o Mobral e a vacinação infantil, que na época não era aceita pela população.”

Contudo, Benedito teve, a princípio, dificuldade de levar a novela ao ar. Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, declarou:
“A duras penas, consegui acertar os horários de gravação [na TV Cultura]. Havia muito desperdício na emissora, não consegui liberar um estúdio para poder gravar a novela sem interferir na programação. Foi muito difícil aprovar o projeto porque eles execravam a novela. E não havia dinheiro para produzir. Mesmo assim, consegui gravar dez capítulos. Fiz um acordo com o elenco e a direção. Se a gente conseguisse vender a novela, estava todo mundo empregado. Se não, parava por ali e teria sido um esforço perdido. Ofereci a novela a todas as emissoras. Todas quiseram, mas ninguém entrava com dinheiro. Sugeriam sempre uma operação triangular com o governo. A única que não me propôs isso foi a TV Globo. Eu falei que precisávamos de 150 mil cruzeiros por mês para tocar a produção. Acertamos tudo e nunca faltou um tostão.”

Segundo ao autor, ainda, a novela enfrentou diversos problemas com a censura do Regime Militar. Como, por exemplo, na cena em que um personagem tocava violão e cantava o Hino Nacional para os caboclos. Depois disso, um aluno cantava o hino da escola, tendo a bandeira do Brasil estendida sobre a mesa. A censura cortou as cenas, alegando que o hino brasileiro não podia ser cantado naquele ambiente, e que a bandeira só podia aparecer em “cenas especiais”.

Elenco

Com 8 anos na época, vivendo a menina Pituquinha, Patrícia Aires (filha do ator Percy Aires, que também estava no elenco) vinha do sucesso da novela A Pequena Órfã, exibida em 1968 pela TV Excelsior e reprisada na Globo pouco antes de Meu Pedacinho de Chão. Ao fim de Pedacinho, a atriz mirim abandonou os estúdios de TV e a carreira, desgostosa com o excesso de trabalho e a fama.

Patrícia não guarda boas recordações da época em que atuava. Em entrevista ao UOL, publicada em 30/05/2014, ela revelou que tinha medo do ator Castro Gonzaga, que interpretava seu pai em Meu Pedacinho de Chão e era o grande vilão da história:
“Chorei muito na época porque o ator que fazia o Epaminondas tinha a voz muito grossa. As mãos dele eram grandes e ele ameaçava me bater. Morria de medo e chorava de verdade, mesmo depois que a cena acabava. Todos me agradavam demais, mas eu ficava muito assustada!”

Estreia na televisão da atriz Renée de Vielmond e do ator Luís Carlos Arutin.

Repetecos

A novela foi reapresentada pela TVE em 1977.

Em 1983, Benedito Ruy Barbosa usou alguns personagens dessa novela para sua nova trama, Voltei pra Você – uma espécie de continuação de Meu Pedacinho de Chão.
Assim, o trio de crianças Serelepe, Pituca e Tuim (Aires Pinto, Patrícia Aires e Pelezinho) reapareceram adultos em Voltei pra Você, vividos por Paulo Castelli, Cristina Mullins e Cosme dos Santos, respectivamente.

Em 2014, Meu Pedacinho de Chão ganhou um remake, com direção geral de Luiz Fernando Carvalho, com as crianças Tomás Sampaio, como Serelepe, e Geytsa Garcia, como Pituca, além de Irandhir Santos (Zelão), Bruna Linzmeyer (Juliana), Osmar Prado (Coronel Epaminondas) e outros.

E mais

Lamentavelmente sobraram apenas um ou outro capítulo dessa novela (o primeiro pelo menos). Não há registro de que a novela ainda exista na íntegra.

01. TEMA DE ABERTURA – Cleston Teixeira
02. TEMA DA PROFESSORINHA – Cleston Teixeira
03. CANTO DE AMOR DE JULIANA – Wilson Miranda
04. TEMA DO ZELÃO – José Milton

Tema de abertura – Cleston Teixeira

Vem o vento vummm…
Mil folhas fluem, inflam em flor
Vai o vento vir, pra ver
Ah, o sol! Ah, a vida! Ah, o amor!
Água boa vida nasceu do chão
Bate na terra um bom pedaço de sol
Vim pra ver o ar
Mil flores correm para a paz
Sol desceu do céu, beijo de ouro
Arco-íris! Ah, chove!
Ah, arco-íris!
Veio o vermelho, veio o verde do chão
Palmas crescidas pairam no campo do céu…

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