Sinopse

Em 1990, no dia seguinte à posse de Elle como o mais novo presidente da República, a jornalista Mariana, que trabalha para a TV Candango, sofre o primeiro golpe: suas economias são bloqueadas. A repórter arrisca um palpite: “Esse cara não vai dar certo…”. Mariana namora André, que esconde dela sua profissão de piloto particular do doutor Paulo. A mentira dura até o dia que ela o encontra na festa do poderoso. Ao ver as fotos da festa, Mariana flagra André em um papo descontraído com Felícia, que ensina a primeira dama, Ella, a se comportar adequadamente no high society.

Na mesma festa, Mariana ouve no banheiro conversas sobre o Plano 2020 e começa a investigá-lo, descobrindo que Elle pretende governar o país por trinta anos. Porém, seu chefe é chantageado e ela acaba demitida da emissora. Mariana se junta então ao fotógrafo Tato, que tem fotos comprometedoras, e a Egberto, motorista de Elle que leva cheques fantasmas, e decide desmascarar o chefe. Os três se metem no submundo da política, passando a ser perseguidos e ameaçados ao tentar provar a culpa de Elle e denunciar o esquema.

Manchete
estrearia em 26 de julho de 1993

minissérie escrita por José Louzeiro, Regina Braga, Eloy Santos e Alexandre Lydia
direção de Marcos Schechtmann

JÚLIA LEMMERTZ – Mariana
ALEXANDRE BORGES – André
HÉLCIO MAGALHÃES – Elle
VÂNIA BELLAS – Ella
WÁLTER FRANCIS – PC
ANTÔNIO PETRIN – Dr. Paulo
JUSSARA FREIRE – Felícia
ANTÔNIO PITANGA – Tato
JOSÉ DUMONT – Egberto
LÚCIA ALVES – Gilda
IRACEMA STARLING – Adriana
RÚBENS CORREA – Carlos Alberto
ROGÉRIO FRÓES – Osório
IVAN SETTA – Lucio C. Vulgo
ÂNGELA LEAL – fofoqueira
LÚCIA CANÁRIO – “certa atriz de coxas grossas”
LUIZ ARMANDO QUEIRÓZ – narrador

Minissérie vetada

Minissérie da TV Manchete cuja proposta era contar, em tom de sátira, como foi o impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, que acontecera um ano antes, em agosto de 1992. Proibida de ir ao ar pela Justiça a pedido do próprio ex-presidente, que se sentiu ofendido pelo texto, as fitas “sumiram” da emissora.

Embora o Congresso tenha votado por seu impeachment, por acusações de corrupção, Collor não esperou pelo endosso da votação e renunciou ao cargo. Na época da série, ele ainda não havia sido julgado pelos crimes de que era acusado e foi absolvido anos mais tarde.

Ficção x realidade

Cada personagem aludia a um personagem da vida real: André (Alexandre Borges) ao piloto de P.C. Farias, Jorge Bandeira; o motorista Egberto (José Dumont) ao motorista de Collor, Eriberto França; Felícia (Jussara Freire) à Denilma Bulhões, ex-mulher do ex-governador de Alagoas; a “certa atriz de coxas grossas” (Lúcia Canário) à atriz Cláudia Raia, que apoiou ostensivamente Collor em sua campanha presidencial.

O próprio Plano 2020 era uma referência ao Plano 2000 que pretendia manter Collor no poder por mais 5 anos (na minissérie são 30 anos).

Jornalismo e dramaturgia

Prevendo que haveria processos por parte de Collor, Adolpho Bloch, o presidente da Rede Manchete, contratou uma advogada para auxiliar os autores José Louzeiro, Regina Braga e Alexandre Lydia na tarefa de escrever a história, para evitar complicações futuras. Assim, Collor virou Elle. O personagem é o presidente de um país fictício que arma um esquema para se manter no poder por trinta anos.

“Era um conceito revolucionário. Uma mistura de jornalismo com dramaturgia. Apresentávamos uma cena inacreditável e depois provávamos a veracidade com um depoimento”, disse Louzeiro na época.

A história seria contada por um narrador, um repentista e uma fofoqueira, na tentativa de se comunicar com públicos diferentes. Idas e vindas entre depoimentos jornalísticos, dramaturgia e os narradores. Embora centrada em Elle, a protagonista de O Marajá era a jornalista Mariana (Júlia Lemmertz).

Poder de Collor

Tratava-se de uma paródia, tal como as sátiras que comediantes fazem às personalidades. Misteriosamente, ainda assim a Justiça favoreceu Collor, contrariando a legislação que havia abolido a censura prévia em 1988 e garantia liberdade de expressão. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Mesmo com todo o cuidado e auxílio jurídico, a estreia, marcada para 26/07/1993, não aconteceu. O Marajá foi proibida. O ex-presidente alegou que considerava sua honra arranhada pelas cenas da minissérie. Após meses e uma guerra de liminares, uma decisão judicial favorável a Collor selou o destino da obra.
“A história toda nos mostrou que, mesmo depois do impeachment, Collor ainda tem poder, já que foi capaz de censurar uma obra antes de ela ser exibida”, lamentou Alexandre Lydia, um dos roteiristas.

O ex-diretor-geral da Manchete, Fernando Barbosa Lima, afirmou que o próprio Adolpho Bloch decidiu guardar as fitas, com medo que elas fossem roubadas, e a emissora, prejudicada.
“Ele ficou assustado com o poder de Collor”, contou Barbosa Lima, que era amigo de Bloch.

Decepção com o veto

No dia em que O Marajá estrearia, autores, diretores e atores se reuniram em um jantar, no prédio da TV Manchete, no Rio de Janeiro, para esperar juntos, a hora em que o capítulo iria ao ar. Ficaram surpresos com a proibição da exibição da obra.

Júlia Lemmertz contou sobre O Marajá:
“Nós fomos a sessões em que o direito de exibição da novela ia ser julgado e víamos aqueles homens de toga, debatendo, sem que pudéssemos dizer nada. Me senti em plena ditadura”, contou.
“Foi muito frustrante, porque a defesa da Manchete foi malfeita e, quando eu aceitei o papel, me disseram que a emissora estava calçada juridicamente.”

Palavras de Regina Braga, que ajudou José Louzeiro a escrever os primeiros cinco capítulos:
“Estou perplexa. A proibição da novela foi uma violência à liberdade de expressão, mas essa história do desaparecimento das fitas foi demais”, disse, sem esconder a surpresa.

Alexandre Lydia ficou decepcionado. “Esse desaparecimento combina com toda a história da proibição da minissérie, que foi muito estranha”, afirmou. “É um trabalho enorme que fizemos com o maior empenho e nunca foi mostrado.”

Marcos Schechtmann, o diretor, envolveu-se muito com o projeto na época.
“Fomos censurados sem que ninguém visse os capítulos gravados ou escritos”, disse. “É óbvio que eu gostaria de ver a minissérie exibida um dia, mas agora é passado, já consegui aceitar.”

O ator Hélcio Magalhães, que viveria Elle, a sátira de Collor, não escondeu a decepção.
“Foi um trabalho de composição minucioso que eu fiz e que ninguém teve a oportunidade de ver.”

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