Sinopse

A trama se desenrola entre os diferentes mundos de dois homens idênticos fisicamente. O milionário Paulo Della Santa é um sujeito atormentado, com família e negócios em crise. A esposa Laura, mulher interesseira, luta para manter o casamento, apesar da torcida contra dos enteados, Marília e Pedro Ernesto, que a detestam. Já o negociante Denizard de Matos, dono de um ferro-velho, é uma figura simples, do povo. Viúvo, pai da adolescente Zezinha, ele namora a exuberante Índia do Brasil, sua secretária, a contragosto da filha. Um encontro casual entre os sósias, seguido de uma explosão, dá início à história.

O corpo de Paulo não é encontrado. Denizard, com problemas de amnésia, acaba levado pela família Della Santa, confundido com Paulo, sem que ninguém desconfie de sua verdadeira identidade. Enquanto os familiares e amigos de Denizard ficam preocupados com o seu sumiço, a família Della Santa tenta reintegrar um homem sem memória ao convívio de todos. É quando Laura se apaixona de verdade pelo “novo” marido. Porém a troca de identidade dos sósias não é segredo para Glorinha da Abolição, uma jovem à procura do pai e de suas origens. Ela é filha de Vilma, governanta dos Della Santa.

Glorinha vive em atrito com Vilma, que não aceita seu modo livre de vida: hippie, sem endereço fixo, vendedora de artesanato no calçadão da praia. Por sua vez, a moça não perdoa a mãe por nunca tê-la revelado a identidade de seu pai. Glorinha fica amiga de Agostinho, o simpático pai de Paulo, que a convida para morar em sua mansão. Lá, ela se apaixona por Paulo – na verdade, Denizard -, o que deixa sua mãe preocupada. Ao longo da trama, é revelado que Glorinha é filha de Paulo. Vilma achava que ela estivesse se envolvendo com o próprio pai, já que não sabia que tratava-se de Denizard.

Globo – 20h
de 23 de março a 10 de outubro de 1987
179 capítulos

novela de Aguinaldo Silva
colaboração de Ricardo Linhares
direção de Fred Confalonieri, Ingácio Coqueiro e José de Abreu
direção geral de Gonzaga Blota, Ricardo Waddington e Antônio Rangel

Novela anterior no horário
Roda de Fogo

Novela posterior
Mandala

FRANCISCO CUOCO – Paulo Della Santa / Denizard de Matos
YONÁ MAGALHÃES – Índia do Brasil
NATÁLIA DO VALLE – Laura
MALU MADER – Glorinha da Abolição
HERSON CAPRI – Gabriel
BETH GOULART – Marília
MIGUEL FALABELLA – João Silvério
MARCOS FROTA – Pedro Ernesto
CLÁUDIA ABREU – Zezinha
JOSÉ LEWGOY – Agostinho
EVA TODOR – Liúba (Fada Gabor)
FLÁVIO GALVÃO – Benjamim
ELAINE CRISTINA – Ivete
ARLETE SALLES – Vilma
EWERTON DE CASTRO – Vidigal
STEPAN NERCESSIAN – Barbosão
JOSÉ DE ABREU – Genésio
CLÁUDIA RAIA – Edwiges
ÍSIS DE OLIVEIRA – Dodô
LUMA DE OLIVEIRA – Dedé
TONICO PEREIRA – Nininho Americano
WANDA KOSMO – Yolanda
LUTERO LUIZ – Demerval Parente
JONAS MELLO – Cordeiro de Deus
ANTÔNIO POMPEU – Batista
ROSANE GOFMAN – Monalisa
ILVA NIÑO – Belmira
CRISTINA GALVÃO – Cida
AUGUSTO OLÍMPIO – Cavaquinho
MILTON RODRIGUES – Gato
WÁLTER SANTOS – Melo Mendonça
MELISE MAIA – Selma
CLÁUDIO FERRÁRIO – Baixinho

as crianças
FERNANDO ALMEIDA – Lico
ANSELMO LYRA – Júnior
CAROLINA MOURA – Bianca

e
ABRAHÃO FARC – morador do asilo
ADELAIDE PALETTE (ADELAIDE CONCEIÇÃO) – funcionária da imobiliária
ALFREDO MURPHY – capanga
BRENO BONIN – Gallo
CLEONIR DOS SANTOS – Abrahão (porteiro do edifício Sobre as Ondas)
CLEYDE BLOTA – Jurema (assistente social do Juizado de Menores)
EMILIANO QUEIRÓZ – delegado de Copacabana que ouve o depoimento de Glorinha
FERNANDO AMARAL – diretor do asilo
FERNANDO BESSA JULIANO – dublê de Francisco Cuoco
FERNANDO JOSÉ
GERMANO FILHO – português dono da padaria, dá informações a Paulo
GISELE ARNAUD – Fabiane
GISELE FRAGA – concorrente de Dedé no concurso Garota do Pepino 87
IDA GOMES – juíza
IVAN CÂNDIDO – promotor
JOSÉ AUGUSTO BRANCO – médico
JOSIAS DE ALMEIDA – porteiro dos Della Santa
LEDA BORBA – vizinha do ferro-velho de Denizard
LEONARDO JOSÉ – Eduardo (diretor do banco)
LUIZ ROBERTO – motorista dos Della Santa
MARINA LIRA – empregada dos Della Santa
NANI VENÂNCIO – concorrente de Dedé no concurso Garota do Pepino 87
PAULA BURLAMAQUI – concorrente de Dedé no concurso Garota do Pepino 87
REGINA DUARTE – juíza no julgamento de Paulo
RICARDO WADDINGTON – esquiador que paquera Glorinha, deixando Paulo com ciúmes
SERGINHO – Adamastor (faxineiro do edifício Sobre as Ondas)
SÉRGIO BRITTO – Caio Graco (irmão de Agostinho)
VICTOR LOPES – dublê de Francisco Cuoco
ZILKA SALABERRY – cigana que prediz o futuro de Paulo

– núcleo de PAULO DELLA SANTA (Francisco Cuoco), homem rico que enfrenta momentos de crise no trabalho e na vida pessoal. A morte precoce da primeira mulher — a quem amava muito — foi um grande choque para ele. Paulo também se vê frustrado no segundo casamento. Pesadelos, a previsão de uma cigana e o encontro casual com um homem muito semelhante a ele seguido de uma explosão, dão início a uma reviravolta em sua vida:
a segunda mulher LAURA (Natália do Valle), fina e elegante, ambiciosa e dissimulada. É desprezada pelos enteados. Não se conforma com a separação proposta pelo marido, porque não sabe quais vantagens financeiras vai conseguir no processo. Na verdade, não é apaixonada por ele
os filhos: MARÍLIA (Beth Goulart), moça temperamental, de personalidade forte. Percebe as intenções de Laura e vive em constante atrito com ela, tentando defender o patrimônio do pai,
e PEDRO ERNESTO (Marcos Frota), o caçula. Rapaz idealista, apesar de herdeiro dos negócios do pai, prefere estudar Medicina e dedicar-se ao sanitarismo, o que não combina com o status e o desejo da família
o pai AGOSTINHO (José Lewgoy), velhinho simpático e meio excêntrico. Mora em uma mansão na avenida Atlântica, onde sempre viveu, o que desperta a cobiça de muitas imobiliárias. Mas não concorda em sair de sua moradia, o que poderia ser uma solução para os problemas do filho
o cunhado JOÃO SILVÉRIO (Miguel Falabella), irmão de Laura. A princípio, namora Marília, a quem finge amar. Mau-caráter, assim como a irmã, ambiciona o dinheiro dos Della Santa e faz conchavos com ela em busca de melhorar a situação de ambos
a governanta VILMA (Arlete Salles), eternamente apaixonada pelo patrão, a quem trata com devoção e resignação, já que entende o seu lugar de criada. Ao longo da trama, descobre-se que teve a sua filha com ele
o copeiro BATISTA (Antônio Pompeo)
a enfermeira MONALISA (Rosane Gofman), contratada para cuidar dele após a explosão, quando retorna para casa. Acaba se apaixonando por Batista
o psiquiatra MELO MENDONÇA (Walter Santos), requisitado pela família quando Paulo fica obcecado em encontrar um homem idêntico a ele. Pouco ético e inescrupuloso, serve aos interesses de João Silvério e Laura.

– núcleo de DENIZARD DE MATOS (Francisco Cuoco), morador de Copacabana, dono de um ferro-velho. Viúvo, seus problemas resumem-se ao relacionamento conturbado com o sócio e com filha adolescente. Mesmo assim, é um homem de bem com a vida e simpático. Após uma explosão, é dado como morto, já que seu corpo não foi encontrado. Na verdade, sofrendo de amnésia, Denizard foi amparado pela família de Paulo Della Santa, confundido com ele. Denizard – agora Paulo – tenta se adequar à sua nova realidade, de homem rico, e aos problemas herdados do verdadeiro Paulo, que segue desaparecido. É quando Laura se apaixona de verdade por ele – por Denizard que pensa ser Paulo:
a namorada ÍNDIA DO BRASIL (Yoná Magalhães), secretária de seu ferro-velho. Mulher exuberante e generosa que, apesar de sofrer com a agressividade da filha dele, protege a jovem quando ela precisa. Ama profundamente o namorado e sofre muito com o seu desaparecimento
a filha ZEZINHA (Cláudia Abreu), adolescente extremamente apegada ao pai, não suporta a possibilidade de vê-lo casado de novo, por isso não aceita o seu namoro com Índia do Brasil. Vai viver um amor juvenil por Pedro Ernesto
seu sócio NININHO AMERICANO (Tonico Pereira), sujeito inescrupuloso que pretende transformar o ferro-velho em um local para desmontar carros roubados. Denizard não concorda com a ideia, mas Nininho age escondido
o amigo de Nininho, VIDIGAL (Ewerton de Castro), marginal barra-pesada. Única testemunha do encontro de Paulo e Denizard antes da explosão, vai usar isso contra eles. Une-se a João Silvério para tirar proveito dessa situação
o detetive BARBOSÃO (Stepan Nercessian), profissional incorruptível, é o encarregado de desvendar o mistério do acidente envolvendo Paulo e Denizard.

– núcleo de GLORINHA DA ABOLIÇÃO (Malu Mader), filha de Vilma, cresceu longe da mãe e vive em atrito com ela, que não aceita seu modo livre de vida: é hippie, sem endereço fixo e vendedora de artesanato no calçadão da avenida Atlântica. Por sua vez, Glorinha não perdoa a mãe por nunca tê-la revelado a identidade de seu pai. Adorada por Agostinho, ele a convida para morar em sua mansão. Lá, Glorinha se apaixona por Paulo – na verdade, Denizard -, o que deixa sua mãe muito preocupada. Ao longo da trama, é revelado que Glorinha é filha de Paulo. Vilma achava que ela estivesse se envolvendo com o próprio pai, já que não sabia que tratava-se de Denizard:
o amigo GABRIEL (Herson Capri), homem boa-praça e carismático, cheio de segredos e mistérios. Alguns pensam que ele é um anjo. Faz de tudo para proteger Agostinho, especialmente das artimanhas de João Silvério. Ao longo da trama, se encanta por Glorinha. Mas é fisgado por Marília, perdidamente apaixonada por ele
a madrinha BELMIRA (Ilva Niño), foi quem praticamente a criou
o parceiro LICO (Fernando Almeida), foi menino de rua, trabalha como guardador de carros no calçadão
o delegado CAVAQUINHO (Augusto Olímpio), vive perseguindo Glorinha, a quem acha uma arruaceira
a amiga CIDA (Cristina Galvão), envolveu-se com Cavaquinho.

– núcleo de BENJAMIM (Flávio Galvão), sócio de Paulo em sua empresa e seu melhor amigo:
a mulher IVETE (Elaine Cristina), amiga de Laura, com quem faz acordos que podem prejudicar Paulo, o que desagrada o marido
os filhos pequenos JÚNIOR (Anselmo Lyra) e BIANCA (Carolina Moura)
a secretária SELMA (Melissa Maia), trabalha no escritório de Paulo e Benjamim.

– núcleo do edifício Sobre as Ondas, em Copacabana, onde moram Denizard, Zezinha, Índia do Brasil e outros personagens:
LIÚBA (Eva Todor), a fofoqueira do prédio. Muito ligada a Zezinha, a ajuda a atrapalhar o romance do pai dela com Índia. Foi atriz e gosta de relembrar as glórias do passado. Alimenta o sonho de se casar com Agostinho, de quem fica muito amiga
GENÉSIO (José de Abreu), um tipo gaúcho machão. Morre de paixão pela mulher, embora os ciúmes impeçam que tenham um relacionamento tranquilo. Quando brigam, vai para o botequim, onde bebe até cair
EDWIGES (Cláudia Raia), a bela mulher de Genésio. Os dois vivem brigando por causa do ciúme dele. Volta e meia se separam
DODÔ (Ísis de Oliveira), amiga e confidente de Edwiges. Mulher jovem e bonita que sonhou ser Miss Brasil, após ser eleita Rainha da Praia de Copacabana. Mas um amor e uma gravidez precoce acabaram com seus sonhos, que ela passou a tentar realizar através de sua filha
DEDÉ (Luma de Oliveira), a bela filha de Dodô, que é sempre confundida com sua irmã. Vive sob as rédeas da mãe, que não permite que ela namore para poder se preparar para o concurso Garota do Pepino. Um tanto ingênua, se apaixona por Benjamim, para o desespero da mãe, já que ele é casado
DEMERVAL (Lutero Luiz), o síndico do prédio. Tenta manter, a todo custo, a moralidade. Esconde um segredo do passado, que não ousa revelar a ninguém e morre de medo que alguém descubra
YOLANDA (Wanda Cosmo), velha muambeira ligada a Demerval
CORDEIRO DE DEUS (Jonas Mello), tipo maduro e atlético, dá aulas de ginástica diariamente para os outros moradores do prédio. Sente uma forte atração por Edwiges. É misteriosamente assassinado no decorrer da trama
GATO (Milton Rodrigues), dono de um bar próximo ao prédio. Um sujeito caladão e reservado. Descobre-se no final que é o homem que atacou várias mulheres ao longo da novela
BAIXINHO (Cláudio Ferrário), empregado do bar de Gato.

Tema já explorado

Aguinaldo Silva, o autor, explicou que não estava lidando com um tema original, citando o romance “O Duplo”, de Dostoievski (1846), e os filmes Kagemusha, de Akira Kurosawa (1980), O Segundo Rosto, de John Frankenheimer (1966), e O Terceiro Homem, de Carol Reed (1949).

Na época, houve acusações de que a novela seria uma releitura de Vidas Cruzadas, trama que Ivani Ribeiro escreveu para a TV Excelsior em 1965 e que tinha uma história semelhante.

Este é um filão recorrente em novelas: Mulheres de Areia (1973-1974 e 1993), Cara e Coroa (1995-1996), O Clone (2001-2002), etc. Janete Clair também usou, em Irmãos Coragem (1970-1971 e 1995), Selva de Pedra (1972 e 1986), O Semideus (1973-1974) e Sétimo Sentido (1982).

Disse o autor: “O tema já foi explorado, mas a maneira de contar a história será sempre diferente (…) Cada personagem tem o seu outro, só que dentro dele mesmo. E de certa forma, todos, de algum modo lutam para que ele não aflore, o que inevitavelmente vai acontecer em algum momento. Todos os personagens escondem dentro de si lados bem diferentes, como todos os seres humanos”.

Plágio

Ainda assim, Aguinaldo foi acusado de plágio (crime de violação de direito autoral).

A roteirista (e depois cineasta) Tânia Lamarca processou a Globo alegando que a novela teria sido inspirada em “Enquanto Seu Lobo Não Vem”, sinopse escrita por ela e Marilu Saldanha e deixada na Casa de Criação Janete Clair, que, à época, recolhia sinopses para análises da Globo.

Em 1987, Tânia pediu indenização de 12 milhões de reais (valores de 2009). Em 1994, o Supremo Tribunal Federal obrigou a Globo a indenizá-la. As duas partes entraram em acordo e Tânia embolsou 3 milhões. Com o dinheiro, ela produziu, em 1997, o filme Buena Sorte. Desde então, a Globo proíbe qualquer funcionário de receber sinopses de autores que não sejam da emissora. (“A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, André Bernardo e Cíntia Lopes)

O episódio acabou implodindo a Casa de Criação Janete Clair, instituída em 1985, por Dias Gomes, com o objetivo de selecionar e elaborar roteiros para as produções da TV Globo.

Falta de qualidade

O então diretor de núcleo do horário das 20 horas, Paulo Afonso Grisolli, não aprovou as primeiras cenas gravadas pelo diretor inicialmente escalado, Marcos Paulo, devido à falta de qualidade técnica e inadequação dos figurinos.

Nos bastidores, comentava-se que a falta de qualidade das cenas devia-se à má vontade de Marcos com a produção. Grisolli acabou substituindo-o por Gonzaga Blota. Com a saída de Marcos Paulo, as gravações foram suspensas e todas as cenas refeitas por Blota. O próprio Grisolli chegou a dirigir algumas sequências.

O diretor geral Gonzaga Blota, contudo, não foi até o final. Ricardo Waddington o substituiu, deixando a novela nas mãos de Antônio (Del) Rangel para cuidar da produção posterior do horário, Mandala. Pela direção de O Outro, passaram também Fred Confalonieri, Ignácio Coqueiro e o ator José de Abreu, que já estava no elenco da novela. (pesquisa: Duh Secco)

Na época de sua saída, Marcos Paulo alegou cansaço. Porém, um mês depois, ele entrava para o elenco de Brega e Chique, a nova atração das sete horas, como ator. Aguinaldo Silva chegou a criar um personagem especialmente para Marcos Paulo, mas que acabou sendo recusado. O personagem – chamado Gabriel – foi então vivido por Herson Capri.

Outra troca

O ator José Lewgoy não foi até o final. Seu personagem, Agostinho, com certo peso na trama, morreu em meio aos protestos do ator, que se queixava da qualidade da novela, e da produção, que alegava que Lewgoy desunia a equipe. Para fazer as vezes de Agostinho, foi escalado o ator Sérgio Britto, que viveu Caio Graco, um irmão do personagem criado às pressas, que cumpriu a função de par romântico de Dona Liúba (Eva Todor). (pesquisa: Duh Secco)

Ricardo Linhares, colaborador de Aguinaldo Silva, desabafou sobre as dificuldades que os autores passaram em O Outro:
“Não tivemos problemas na história em si, porque a história do Aguinaldo era excelente. Mas enfrentamos dificuldades em termos de realização. Houve troca de diretores, de atores. Foi uma novela um pouco complicada. Seguramos o rojão juntos.” (“Autores, Histórias da Teledramaturgia”, Projeto Memória Globo)

Elenco

Após três anos afastado da televisão, Francisco Cuoco surgia em dose dupla, como os sósias Paulo Della Santa e Denizard de Matos. Sua última novela havia sido Eu Prometo, em 1984. Hoje, pode parecer pouco tempo, mas desde que havia estreado em novelas (em 1963), Cuoco nunca passara mais de um ano longe da TV.

Logo no início das gravações, a produção contratou uma equipe de São Paulo especializada em máscaras mortuárias que faria uma cabeça de acrílico com as feições de Francisco Cuoco, a partir de um molde de gesso colocado sobre o rosto do ator. Só que na hora de retirar a máscara, após o gesso secar, a equipe se viu em apuros: o gesso não saia de maneira nenhuma. Chegaram a sugerir que fosse chamado um especialista do IML. Depois de cinco horas, a máscara foi retirada com o auxílio de martelo e talhadeira. A barba de Cuoco havia ficado presa ao gesso.

Betty Faria seria Índia do Brasil, mas a personagem acabou nas mãos de Yoná Magalhães. Glória Menezes foi a primeira cogitada para viver Laura. Diante de sua recusa, o convite caiu sobre Vera Fischer, que também recusou. A personagem ficou então com Natália do Valle e mudou de nome: a princípio seria Edith, depois se tornou Laura.

A atriz Cláudia Abreu apareceu simultaneamente nos primeiros capítulos de O Outro e nos últimos capítulos da atração das sete horas, Hipertensão, na qual sua personagem, Luzia, assassinada no início da novela, apareceu em flashbacks para o desfecho de sua trama.

Acometido por uma hemorragia digestiva, o ator Lutero Luiz desfalcou as gravações temporariamente.

Quando a personagem Dedé (Luma de Oliveira) concorreu ao concurso de beleza “Garota do Pepino 87”, participaram das gravações as futuras atrizes Paula Burlamaqui, Nani Venâncio e Gisele Fraga, modelos à época. Elas eram as rivais de Dedé no concurso.
Também a banda Heróis da Resistência apareceu cantando “Doublé de Corpo”, tema da personagem.

Abordagens

Aguinaldo Silva referenciou a doutrina kardecista com o personagem Denizard (Francisco Cuoco), que era espírita na trama. O nome Denizard foi tirado do nome verdadeiro de Allan Kardec (1804-1869), o codificador da doutrina espírita: Hypollite Denizard Rivail.
Já Índia do Brasil (Yoná Magalhães) era médium, embora sua espiritualidade transcendesse os limites da doutrina espírita: a personagem era devota de São Judas Tadeu e citava constantemente a Escrava Anastácia. (pesquisa: Duh Secco)

Com Pedro Ernesto (Marcos Frota), Aguinaldo Silva abriu o debate sobre a política de saúde no Brasil. O personagem atuava como médico sanitarista, alertando outros personagens – e, consequentemente, o público de casa – sobre prevenção e cuidados com enfermidades como a dengue e esquistossomose. (pesquisa: Duh Secco)

Provocação do autor

A novela das sete da época era Brega e Chique, de Cassiano Gabus Mendes, que estreou um mês após O Outro. Aguinaldo Silva provocou Cassiano afirmando que seu drama carioca tinha mais audiência que a comédia paulista dele (Brega e Chique era ambientada em São Paulo).

Cassiano não respondeu à provocação. Ele não era disso. A audiência respondeu. Em questão de meses, Brega e Chique atingiu mais audiência que a novela das oito de Aguinaldo Silva. (“Gabus Mendes, Grandes Mestres do Rádio e Televisão”, Elmo Francfort)

Locações

A novela teve cenas gravadas em Copacabana e na cidade cenográfica de Guaratiba, onde foram reproduzidas ruas do bairro carioca. (Site Memória Globo)

A produção foi ainda a um hotel-fazenda entre Teresópolis e Nova Friburgo e à Argentina – em Bariloche e Las Leñas – gravar sequências do casal Paulo e Glorinha (Francisco Cuoco e Malu Mader). O diretor Ricardo Waddington participou de cenas em território argentino, como um esquiador que flerta com a moça, enciumando “o outro”. (pesquisa: Duh Secco)

Abertura e trilha sonora

A abertura mostrava paisagens urbanas cariocas em ritmo acelerado. Porém nada de praias ou dos cartões postais manjados da cidade, mas o vai e vem de carros e pessoas no caos urbano da região central (avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, Largo da Carioca, Central do Brasil, etc), talvez para contrastar com a música escolhida, “Flores em Você” – do Ira!, uma banda tipicamente paulistana – que tinha na letra “Nessa vida passageira / Eu sou eu, você é você…”

Em uma ação de merchandising, a marca de jeans Goodway aparecia rapidamente entre as imagens da abertura.

Repleta de hits das FMs da época, a trilha O Outro Internacional – com a foto de Malu Mader na capa – é a sexta trilha de novela mais vendida da história, com 1.164.299 cópias, perdendo apenas para Laços de Família Internacional (5º lugar), Dancin’ Days Internacional (4º lugar), Vale Tudo Internacional (3º lugar), O Salvador da Pátria Internacional (2º lugar) e O Rei do Gado volume 1 (1º lugar). (“Teletema, a História da Música Popular Através da Teledramaturgia Brasileira”, Guilherme Bryan e Vincent Villari)

Trilha sonora nacional

01. MAR DE COPACABANA – Gilberto Gil (tema de Índia do Brasil)
02. QUERO FICAR COM VOCÊ – Maria Bethânia (tema de Laura)
03. NOSSO AMOR A GENTE INVENTA (ESTÓRIA ROMÂNTICA) – Cazuza (tema de Marília e João Silvério)
04. DOUBLÉ DE CORPO – Heróis da Resistência (tema de Dedé)
05. ESQUECE E VEM – Nico Rezende (tema de Denizard e Laura)
06. KÁTIA FLÁVIA – Fausto Fawcett & Os Robôs Efêmeros (tema de locação: Copacabana)
07. AMANHÃ É 23 – Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens (tema de Glorinha da Abolição)
08. FOGO DE SAUDADE – Beth Carvalho (tema de Agostinho)
09. O MUNDO É UM MOINHO – Ney Matogrosso
10. QUEM ME OLHA SÓ – Barão Vermelho (tema de Edwiges e Genésio)
11. RETRATOS E CANÇÕES – Sandra Sá (tema de Pedro Ernesto e Zezinha)
12. FLORES EM VOCÊ – Ira! (tema de abertura)

Sonoplastia: Aroldo Barros
Produção musical: Liminha

Trilha sonora internacional

01. COMING AROUND AGAIN – Carly Simon (tema de Índia do Brasil)
02. DON’T DREAM IT’S OVER – Crowded House (tema de Denizard)
03. THE MIRACLE OF LOVE – Eurythmics (tema de Marília e João Silvério)
04. AT THE BACK OF MY HEART – M.C.R. (tema de locação)
05. YOU’RE THE VOICE – John Farham (tema de locação)
06. WORDS GET IN THE WAY – Gloria Estephan & Miami Sound Machine (tema de Laura)
07. THIS LOVE – Bad Company (tema de Dedé)
08. DON’T GET ME WRONG – Pretenders (tema de Glorinha da Abolição)
09. TWO PEOPLE – Tina Turner (tema de Pedro Ernesto e Zezinha)
10. NEVER GONNA LEAVE YOU – Subject
11. STAY THE NIGHT – Benjamin Orr (tema de locação)
12. FOOLISH PRIDE – Sasha (tema romântico geral)
13. I’LL BE OVER YOU – Toto (tema de Edwiges e Genésio)
14. THOUSAND MILES FROM HOME – Jim Porto (tema de Gabriel)

Gerente do produto: Toninho Paladino
Seleção de repertório: Sérgio Motta

Tema de abertura: FLORES EM VOCÊ – Ira!

De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer

Que vejo flores em você…

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