Sinopse

Um acidente de trânsito em um cruzamento une três pessoas completamente diferentes entre si: Ciro, um motorista de ônibus; Bruna, moça rica e geniosa; e Soró, um migrante nordestino que trabalha carregando mercadorias com uma carroça de mão. Como compensação pelos prejuízos causados pela batida, Ciro e Soró vão trabalhar com a família de Bruna, que possui uma rede de cantinas italianas.

Ciro esconde um segredo: é de família abastada, mas está impossibilitado de ver sua irmã, Maria Helena, pelo padrasto, que o responsabiliza pelo acidente de carro que deixou a moça paralítica. Enquanto tenta ocultar o seu passado, ele se envolve com o ingênuo e brincalhão Soró. Humilhado por Bruna, Ciro resolve ascender socialmente para conquistá-la. Luísa, irmã de Bruna, apaixona-se por ele, que acaba sendo disputado pelas duas irmãs.

Bruna é a noiva de Júlio, diretor da rede de cantinas de propriedade de Mama Vitória, a avó de Bruna e Luísa. O filho de Mama Vitória, Guido, após a falência de sua cantina em São Paulo, vai morar no Rio com a família – a mulher Loreta, o cunhado folgado Gigio, e os filhos Benito, Duda e Geninho. Por sua vez, Soró traz para o Rio a sua família nordestina – a mãe Donana, a tia Lala Sereno, e as irmãs Mariana e Regina.

O contraste entre a rica família italiana e os pobres retirantes nordestinos fica evidente na amizade do garoto Geninho com Soró e a adolescente Regina e nos romances entre Benito e Mariana e Lala Sereno e Gigio. Solteirona, Lala foi abandonada no altar e sofre de crises que a tiram da realidade. Porém, em vez de se queixar da sorte, ela transforma sua história em versos de cordel, que recita na feira de São Cristóvão, conhecido reduto de nordestinos no Rio de Janeiro.

Globo – 18h
de 28 de março a 7 de outubro de 1983
165 capítulos

novela de Walther Negrão
direção de Gonzaga Blota, Henrique Martins e Atílio Riccó
direção geral de Gonzaga Blota

Novela anterior no horário
Paraíso

Novela posterior
Voltei Pra Você

CLÁUDIO MARZO – Ciro Cerqueira
ELIZABETH SAVALA – Bruna Giunchetti Malzoni
MARIA CLÁUDIA – Luísa Giunchetti Malzoni
EDWIN LUISI – Júlio Camargo
LÉLIA ABRAMO – Mama Vitória (Vitória Giunchetti)
ARNAUD RODRIGUES – Soró (Fuloriano Sereno)
LAURA CARDOSO – Donana (Ana Sereno)
MÁRIO BENVENUTTI – Guido (Giuseppe Giunchetti)
RENATA FRONZI – Loreta Colitto Giunchetti
LAERTE MORRONE – Gigio (Luigi Colitto)
REGINA DOURADO – Lala Sereno (Laura Sereno)
PAULO GUARNIERI – Daniel (Gasparzinho)
TÁSSIA CAMARGO – Nina (Venina)
CÁSSIO GABUS MENDES – Franco Giunchetti Malzoni (Francuccio)
ÉLIDA L’ASTORINA – Duda (Maria Eduarda Giunchetti)
JOÃO CARLOS BARROSO – Benito (Benedito Giunchetti)
TÂNIA LOUREIRO – Mariana Sereno
FLORA GENI – Gema (Gelsomina Giunchetti Malzoni)
DIONÍSIO AZEVEDO – Altino Camargo
NORMA GERALDY – Dona Mizí
PAULO GONÇALVES – Gaspar
CINIRA CAMARGO – Milica (Maria Emília)
CLEYDE BLOTA – Joana (Giovanna)
HENRIQUE MARTINS – Mauro Bueno
MONIQUE ALVES – Maria Helena Cerqueira Bueno
REYNALDO GONZAGA – Dr. Chadade
VERA BRITO – Alice
FELIPE DONOVAN – Bira
RITA DE CÁSSIA – Beth

os adolescentes
PAULO VIGNOLO – Geninho (Eugênio Giunchetti Neto)
MARCELA MUNIZ – Regina Sereno

e
ADALBERTO NUNES – Detetive Moacir (leva a intimação para Ciro e Júlio deporem)
ALDO DELANO – dono do hotel onde Ciro se hospeda em São Paulo
ALENE ALVES DE ANDRADE – empregada na casa de Mama Vitória
ALOÍSIO PIMENTEL – mordomo na casa de Mauro Bueno
ANTÔNIO PATIÑO – Detetive Vilhena (investiga o roubo das joias de Mama Vitória)
CÉSAR AUGUSTO – César (porteiro do condomínio)
DELAN MAGNO – Serjão (da turma de Daniel, do condomínio)
DIDA MONTEIRO
DILU MELO como ela mesma, acompanha Dona Mizí no piano enquanto ela canta, no Retiro dos Artistas
EDUARDO FIGUEIREDO – Marquinhos (da turma de Daniel, do condomínio)
ENYVYER BRILHANTE
GERMANO FILHO – proprietário do restaurante que Ciro compra
GLÓRIA PEREZ – cliente esperando no salão de beleza do condomínio (figuração)
GUARACY VALENTE – Pedro (motorista de Mauro Bueno)
HILDA REIS – empregada na casa de Mauro Bueno
HUGO GROSS – Dinho (da turma de Daniel, do condomínio)
JORGE LUIZ DA SILVA
J. RIBEIRO – funcionário do hotel onde Ciro se hospeda em São Paulo
LOLY NUNES – da turma de Daniel, do condomínio
MAGDA REGINA DE CARVALHO – funcionária do banco onde Soró abre uma conta
MARCO SENNA
MARCUS VINÍCIUS – Catito (amigo de uma paquera de Gigio)
MARINO JARDIM
MILTON GONÇALVES – Dr. Mendes (José Luiz Mendes, advogado morador do condomínio)
NARDEL RAMOS – caixa do banco que atende Soró e Lála
NOIRA MELLO – Ruth (secretária do Dr. Mendes)
PAULINE LUISE
PAULO COPACABANA – Paulo (funcionário da segurança do condomínio)
REGINA REZENDE – Norma (enfermeira de Maria Helena)
RICARDO FRÓES – fisioterapeuta de Maria Helena
ROBERTO FAISSAL – Geraldo Lutti (pai de Nina, marido de Joana que a abandonou no passado)
RUBEM DE BEM – Carlos (gerente de uma das cantinas da família Giunchetti)
SOLANGE GALVÃO MASCARENHAS – Rose, depois chamada de Solange (funcionária do salão de beleza do condomínio, terceira gerente)
VANDA COSTA – freira diretora da casa para idosos visitada por Altino e Mizí
VERA VIANNA – Ruth (segunda gerente do salão de beleza do condomínio)
WALDIR AMÂNCIO – Ed (primeiro gerente do salão de beleza do condomínio)
WALDIR RODRIGUES PEDRO
WALTER MORENO – dono da pensão que expulsa Milica
WALTHER NEGRÃO – homem que aproxima-se do carro onde está Duda, no início (figuração)
YAÇANÃ MARTINS – Tânia (secretária no consultório do Dr. Chadade)
Alzira (empregada na casa de Gema)
Bia (da turma de Daniel, do condomínio)

– núcleo de CIRO (Cláudio Marzo), homem que esconde um passado misterioso. No início da história, era motorista de ônibus, até se envolver em um acidente de trânsito e perder o emprego. Sentindo-se humilhado, decide lutar para subir na vida. É ambicioso e consegue mostrar sua eficiência no trabalho, o que lhe permite de fato ascender profissionalmente:
a irmã MARIA HELENA (Monique Alves), a chave do mistério de Ciro. Ele é, na verdade, de família rica. No passado, Maria Helena ficou paralítica após um acidente de carro do qual Ciro foi responsabilizado. Acabou afastado da família pelo padrasto, que o impede de ter contato com sua irmã
o padrasto MAURO BUENO (Henrique Martins), homem muito rico. Pai de Maria Helena, impede Ciro de aproximar-se da filha
o médico DR. CHADADE (Reynaldo Gonzaga), profissional responsável pela recuperação de Maria Helena, é apaixonado por ela. Luta com Ciro contra a tirania de Mauro
a governanta ALICE (Vera Brito), tem ordens de Mauro para não deixar Maria Helena receber notícias de Ciro. Acaba ajudando Ciro e o Dr. Chadade.

– núcleo de SORÓ (Arnaud Rodrigues), nordestino de origem humilde, muito ingênuo, com alma de criança. É uma das vítimas do acidente de trânsito que dá início à história. Por causa desse evento, inicia uma forte amizade com Ciro, com quem vai morar. Consegue um emprego como jardineiro na casa de uma rica família italiana:
a mãe DONANA (Laura Cardoso), nordestina de origem humilde. Religiosa e de princípios rígidos, é uma mulher honesta e justa, mas enérgica quando necessário
a tia LALA SERENO (Regina Dourado), sofreu uma grande desilusão amorosa, ao ser abandonada no altar, e chegou a ser internada por problemas psíquicos. Sofre de surtos que a fazem vestir seu vestido de noiva. Em vez de lamentar seu trauma, cria um cordel sobre sua história que recita e vende na feira de São Cristóvão, reduto de nordestinos no Rio de Janeiro
as irmãs mais novas: MARIANA (Tânia Loureiro), jovem bonita e romântica, sonha com uma vida melhor e tem medo de passar pelos mesmos problemas que sua tia,
e REGINA (Marcela Muniz), adolescente superprotegida pela mãe.

– núcleo de MAMA VITÓRIA (Lélia Abramo), matriarca de uma família italiana e dona de uma rede de cantinas. Sem sair de casa, controla tudo o que acontece com a família e com as cantinas, como uma “Poderosa Chefona”. Tem o respeito de todos os filhos e netos, exercendo sobre eles fascínio e domínio absolutos, em todos os sentidos. Emprega Soró como jardineiro em sua casa e Ciro no escritório central das cantinas:
a empregada JOANA (Cleyde Blota), de sua confiança. No passado, foi abandonada pelo marido e criou a filha sozinha, com muitos mimos
a filha de Joana, NINA (Tássia Camargo), interesseira, gosta de aparentar mais do que tem. Mente para o namorado que é rica, acreditando que ele também seja rico. Para ajudá-lo, rouba joias de Mama Vitória
o pai de Nina, GERALDO (Roberto Faissal), que abandonou a família no passado. Homem da noite, produtor de shows com dançarinas. Já esteve preso. Tenta ajudar a filha emprestando dinheiro a ela. Pretende reatar com a ex-mulher.

– núcleo de BRUNA (Elizabeth Savala), neta de Mama Vitória. Moça rica, bela e geniosa, de personalidade forte. É noiva, mas não tem certeza se ama o noivo. Ao conhecer Ciro, no acidente em que se envolveu com ele e Soró, sente-se ameaçada e acredita que ele é um aproveitador. Tem uma forte antipatia por Ciro, que acaba indo trabalhar na empresa de sua família. Antipatia essa que esconde uma forte atração, até render-se, apaixonada por ele:
a mãe GEMA (Flora Geny), filha de Mama Vitória. Viúva, gosta de ver a harmonia na família e, quando percebe desavenças, procura contorná-las
a irmã mais velha LUÍSA (Maria Cláudia), é a executiva da família, responsável pelos escritórios das cantinas. É a antítese de Bruna, a quem considera leviana em algumas ocasiões. Apaixona-se por Ciro assim que o conhece. Vai protegê-lo das intrigas de Bruna para, mais tarde, disputá-lo com a irmã, quando ela se apaixonar por ele
o irmão caçula FRANCO (Cássio Gabus Mendes), um bom rapaz, estudioso. No início, tem uma queda por Nina
a secretária no escritório das cantinas BETH (Rita de Cássia).

– núcleo de JÚLIO (Edwin Luisi), noivo de Bruna. Com Luísa, administra as cantinas de Mama Vitória. Dominado por Bruna, é apaixonado, mas sente que ela está mudando. Tem ciúmes de Ciro e o vê como um rival, já que acredita que a presença dele atrapalha a sua relação com a noiva:
os pais: ALTINO (Dionísio Azevedo) e DONA MIZÍ (Norma Geraldy), velhinhos aposentados que vivem com o filho, mas têm receio de incomodar, por isso procuram um novo lugar para morar. Torcem por Júlio e Bruna, mas metem-se em confusões por causa de fofocas envolvendo o noivado do filho.

– núcleo de GUIDO (Mário Benvenutti), filho de Mama Vitória, um tipo bonachão, glutão e tragicômico. Responsável pelas cantinas da família em São Paulo, muda-se para o Rio de Janeiro com mulher, cunhado e filhos depois de decretar a falência dos seus negócios. Estabelece-se na casa da mãe. É um pai rigoroso com os filhos e tem atritos constantes com o cunhado folgado:
a mulher LORETA (Renata Fronzi), zelosa de sua família. Tenta proteger o irmão nas constantes brigas dele com o seu marido, mas nem sempre é possível defendê-lo
o cunhado GIGIO (Laerte Morrone), vive às suas custas. Boa vida, malandro e folgado, se sente injustiçado, fazendo chantagem sentimental. Nunca trabalhou e se diz vítima da crise de desemprego. Expansivo, leva todos na conversa, menos o cunhado. Apaixona-se por Lala Sereno
os filhos: BENITO (João Carlos Barroso), rapaz cínico e debochado, mas responsável. Apaixona-se por Mariana,
DUDA (Élida L’Astorina), garota romântica, amiga de Nina e do primo Franco. Os pais se preocupam em mantê-la sob a rígida moral italiana. Ela e Franco acabam apaixonados, para o desespero da família,
e GENINHO (Paulo Vignolo), o caçula. Torna-se amigo de Soró, com quem aprende muitas brincadeiras.

– núcleo de DANIEL (Paulo Guarnieri), filho do zelador do condomínio onde moram vários personagens. Rapaz bem humorado, é um exímio corredor de kart. Tenta levantar dinheiro para comprar um carro e participar de um campeonato. Apaixona-se por Nina quando a conhece, mas esconde sua origem social, com medo de perdê-la, já que acredita que ela seja uma moça rica. Ela também se apaixona por ele, acreditando que ele seja rico, o que causa muitas confusões:
o pai GASPAR (Paulo Gonçalves), com quem tem uma forte relação de amizade. Zelador no condomínio, esforça-se para fazer o filho feliz. Apoia-o em seu sonho de ser corredor
a manicure MILICA (Cinira Camargo), trabalha no salão de beleza do condomínio. Fofoqueira, especula sobre a vida dos moradores. Por causa de sua língua comprida, Dona Mizí e Seu Altino fantasiam a relação de Júlio e Bruna. Aos poucos, interessa-se por Gaspar e ele por ela
o chefe de segurança do condomínio BIRA (Felipe Donovan), amigo de Gaspar.

Ponto de partida

Walther Negrão voltava a escrever uma novela inédita, de sua autoria, para a Globo, após um hiato de 9 anos (a última foi Supermanoela, em 1974). Passou um tempo na TV Tupi, retornou à Globo em 1980 e, desde então, vinha supervisionando ou auxiliando outros autores de novelas e séries.

O ponto de partida da trama central lembra o da novela Antônio Maria (Tupi, 1968-1969), de Geraldo Vietri, na qual Negrão colaborou: homem misterioso que esconde o seu passado – Ciro (Cláudio Marzo), em Pão-Pão Beijo-Beijo, e o português Antônio Maria (Sérgio Cardoso). Negrão voltou à inspiração em seu trabalho seguinte, Livre para Voar (1984-1985), com o personagem Pardal (Tony Ramos), que viveu a mesma situação.

Trama paulista no Rio

Fundindo duas sinopses, o autor apresentou uma obra com falhas na estrutura. Tinha-se planejado ambientar a trama com um núcleo em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, mas problemas de produção impuseram a transferência total da ação para a capital fluminense. Assim, personagens tipicamente paulistas, como Mama Vitória, comandando uma rede de cantinas, estavam ambientados no Rio. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Negrão comentou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia” (do Projeto Memória Globo):
“A Globo queria uma novela ambientada em São Paulo, então montei uma família italiana do Bixiga (…) Mas quando íamos começar a gravar a novela, não pudemos realizar lá. Como ir para o Rio de Janeiro se Mama Vitória, a personagem de Lélia Abramo, tinha uma rede de cantinas napolitanas? As cantinas italianas não eram tradicionais no Rio (…) Sugeriram que eu transformasse os italianos em portugueses. Cheguei a fazer a pesquisa, mas vi que não tinha brilho. (…) Então refiz os capítulos iniciais mudando a família paulista para uma chácara no Rio.”

Italianos x nordestinos

A novela tinha dois núcleos muito fortes: a família italiana, de classe média-alta, e a família nordestina, de migrantes pobres. Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, Walther Negrão revelou que temia que essa fusão na trama pudesse ser mal compreendida pelo público:
“Fiquei muito preocupado, achando que a mistura das famílias provocaria um ruído entre os sotaques italiano e nordestino. Então mantive as duas afastadas, até juntá-las através das matriarcas que, no fundo, eram personagens iguais. E deu muito certo porque gerou uma disputa muito positiva, profissional, entre a Laura Cardoso [a nordestina] e a Lélia Abramo [a italiana].”.

O núcleo da família italiana de Mama Vitória – inesquecivelmente interpretada por Lélia Abramo – liderou a preferência do público. Tanto que, ao ser vendida para a Itália, o título da novela foi alterado para Mamma Vittoria. A inspiração de Walther Negrão para o núcleo italiano era a sua própria família, de origem italiana. A referência maior era o sobrenome do falecido marido de Mama Vitória, Giunchetti, o mesmo do avô materno de Negrão.

No entanto, é clara a semelhança do núcleo do casal Guido e Loreta Giunchetti com A Família Trapo, série cômica da TV Record exibida entre 1967 e 1971. Renata Fronzi viveu tipos muito semelhantes nas duas produções, Loreta e Helena, a matriarca que contornava as confusões do irmão malandro – Gigio (Laerte Morrone) / Bronco (Ronald Golias) – com o marido pouco paciente – Guido (Mário Benvenutti) / Pepino (Otelo Zeloni) -, tendo à volta dois filhos jovens – Benito e Duda (João Carlos Barroso e Élida L’Astorina) / Sócrates e Verinha (Renato Côrte Real e Cidinha Campos).

Elenco

Destaque para a agradável criação de Arnaud Rodrigues, como o nordestino Soró, um tipo atrapalhado e ingênuo, de forte apelo infantil, e suas aventuras com o garoto Geninho (Paulo Vignolo), uma dupla criada para fazer sucesso entre o público infantojuvenil – como o autor já testara com Shazan e Xerife, personagens de Paulo José e Flávio Migliaccio em sua novela O Primeiro Amor, em 1972.

Regina Dourado viveu em Pão-Pão Beijo-Beijo o seu primeiro papel de destaque na televisão: a migrante nordestina Lala Sereno, uma solteirona que, no passado, foi abandonada pelo noivo no altar. A personagem superou o trauma apresentando um cordel sobre sua história na Feira de São Cristóvão, famoso reduto de nordestinos no Rio de Janeiro.

O quadrilátero amoroso central seria vivido por Cláudio Marzo (Ciro), Renata Sorrah (Bruna), Elizabeth Savala (Luísa) e Herson Capri (Júlio). Com a recusa de Sorrah e Capri, Savala ficou com o papel de Bruna, enquanto Maria Cláudia e Edwin Luisi foram escalados para Luísa e Júlio. Com Savala, Marzo e Maria Cláudia, repetia-se um triângulo amoroso da novela Plumas e Paetês (1980-1981), que, coincidentemente, estava sendo reprisada na ocasião no Vale a Pena Ver de Novo.

Elizabeth Savala, como Bruna, viveu uma anti-heroína, moça geniosa, mimada e arrogante, longe das mocinhas românticas que estava acostumada a interpretar na televisão.

Uma das atrizes mais belas e requisitadas da televisão nos anos 1970, Maria Cláudia afastou-se da profissão, após 13 anos de TV Globo, para tratar uma doença rara nas cordas vocais que a deixou afônica. Pão-Pão Beijo-Beijo foi sua última novela dessa fase. Após vários tratamentos, Maria Cláudia recuperou parcialmente a fala a voltou à Globo, em 1992, na novela Deus nos Acuda. A partir de então, passou a aparecer menos na televisão.

Henrique Martins, que dirigia a novela com Gonzaga Blota e Atílio Riccó, acumulou trabalho como ator, vivendo Mauro Bueno, padrasto do protagonista Ciro (Cláudio Marzo).

Tássia Camargo acumulou as funções de atriz em Pão-Pão Beijo-Beijo (era sua segunda novela na Globo) e de apresentadora do novo programa da emissora, o Vídeo Show, que estreou uma semana antes da novela (em 20/03/1983). Na época, o Vídeo Show era exibido uma vez por semana, aos domingos à tarde.

Primeira novela de Arnaud Rodrigues e Hugo Gross. Estreia na Globo de Cinira Camargo e Marcela Muniz. Única novela na Globo do ator e roteirista de cinema Mário Benvenutti.

O autor Walther Negrão fez uma rápida aparição no capítulo 4, aproximando-se do carro onde estava a personagem Duda (Élida L´Astorina). Glória Perez, que era pesquisadora de texto de Negrão, apareceu rapidamente uma única vez, como uma cliente do salão de beleza do condomínio.

De acordo com o jornal O Fluminense (de 17/05/1983), a censura do Governo Federal implicou com o personagem homossexual Ed (Waldir Amâncio), gerente do salão de beleza do condomínio. Walther Negrão teve que limar o personagem, que saiu de cena no capítulo 45 dizendo que ia viajar, deixando em seu lugar uma nova gerente, Ruth (Vera Vianna). (@HenriqueRossi20)

Locações

Além de usar os estúdios da emissora no Jardim Botânico, a equipe de gravação adotou um condomínio da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, como cenário para ambientação das cenas: o Riviera Dei Fiori, localizado na Av. Prefeito Dulcídio Cardoso 2500. A matéria publicada no Jornal do Brasil em 24/04/1983 informa que a emissora alugou o espaço com o então síndico geral Mário Bandarra, pai do diretor de novelas Mário Márcio Bandarra, morador do condomínio.

Pão-Pão Beijo-Beijo também teve cenas gravadas no bairro de Madureira, na Zona Norte do Rio (onde moravam Ciro, Soró e sua familia), e em uma chácara em Jacarepaguá, na Zona Oeste (onde vivia Mama Vitória).

Para os primeiros capítulos, a produção foi a São Paulo gravar cenas da partida da família de Guido (Mário Benvenutti) para o Rio. Entre as locações, ruas do bairro do Bixiga e a Igreja Nossa Senhora Achiropita.

O capítulo 90 mostrou o Retiro dos Artistas (em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro) e alguns de seus hóspedes. Na sequência, Dona Mizí (Norma Geraldy) foi fazer uma visita e cantou acompanhada ao piano pela cantora e instrumentista Dilu Melo.

Título e abertura

O título de trabalho da novela, que constava em sua primeira sinopse, era O Condomínio. Depois cogitou-se chamá-la de Sanduíche de Coração, o nome da música escolhida para a abertura, composta e gravada (sob encomenda) pelo conjunto Rádio Táxi.

Porém, o título definitivo – Pão-Pão Beijo-Beijo, um jogo de palavras com a expressão “pão-pão queijo-queijo” – foi uma imposição de Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor da TV Globo), de acordo com depoimento de Walther Negrão a Flávio Ricco e José Armando Vannucci para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”:
“Só porque uma amiga da mulher dele vendia sanduíche na praia e a abertura mostraria isso!”
A expressão “pão-pão beijo-beijo” é encontrada na novela “Dão-Lalalão”, do livro “Noites do Sertão”, de Guimarães Rosa.

O sanduíche natural, um dos símbolos da geração saúde da década de 1980, era de fato o elemento principal da abertura. E também do logotipo da novela, em que dois corações formam um sanduíche. Curioso que, na trama de Pão-Pão Beijo-Beijo, não havia nada relacionado a sanduíches naturais, mas havia cantinas, logo, culinária italiana. Na contradição entre abertura e trama, a música do Rádio Táxi alertava: “Espaguete à bolonhesa é um crime!”

A abertura exibia ingredientes no preparo de um sanduíche natural, que, ao final, era oferecido a uma bela moça de biquíni na praia – como queria Boni. “Só natural, vou sobreviver de amor – seja lá como for!”

Na reta final da trama, para justificar as referências aos sanduíches, o autor criou um restaurante de comida natural, montado por Ciro (Cláudio Marzo), que levava o nome da novela, “Pão-Pão Beijo-Beijo”.

Exibição

A novela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo entre 22/01 e 18/05/1990.

Também no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo) entre 16/05 e 26/11/2022, às 14h15 com reapresentação à 0h30.

Pão-Pão Beijo-Beijo foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 19/12/2022.

E mais

De acordo com matéria da revista Veja, de 30/03/1983, Pão-Pão Beijo-Beijo foi a primeira novela da televisão brasileira escrita com o auxílio de um computador – “um Apple”, como informou a reportagem.

Trilha sonora nacional

01. MENINA VENENO – Ritchie (tema de Nina)
02. RIO BABILÔNIA – Jorge Ben (tema geral)
03. EU AMO AMAR VOCÊ – Gilliard e Harmony Cats
04. ROMANCE DA LUA LUA – Amelinha (tema de Soró e Geninho e tema de Lala Sereno)
05. DE QUALQUER MANEIRA – Marcos Sabino (tema de Duda)
06. SANDWICH DE CORAÇÃO – Rádio Táxi (tema de abertura)
07. COISA CRISTALINA – Wando (tema de Mariana)
08. RENASCER – Zizi Possi (tema de Bruna)
09. PRAIA DE RAMOS – Dicró
10. CABELOS NEGROS – Eduardo Dussek (tema de Júlio)
11. CUMPLICIDADE – Otávio Burnier (tema de Ciro)
12. TEMA PARA UM GRANDE AMOR – Paulo Soarez (tema de Luísa)

Sonoplastia: Aroldo Barros
Direção musical: Guto Graça Mello
Pesquisa de repertório: Arnaldo Schneider e Ezequiel Neves
Supervisão musical: Geraldo Vespar

Trilha sonora internacional

01. WAITING FOR A TRAIN – Flash & The Pan
02. TOTAL ECLIPSE OF THE HEART – Bonnie Tyler (tema de Mariana)
03. (YOU SAID YOU’D) GIMME SOME MORE – K.C. & The Sunshine Band
04. AND I’M TELLING YOU I’M NOT GOING – Jennifer Holliday
05. HIP HOP BE BOP (DON’T STOP) – Man Parrish
06. IF YOU WERE MY LADY – Glenn Campbell & Diane Solomon (tema de Luísa)
07. I WILL FOLLOW HIM – Claudja Barry
08. GIVE ME YOUR HEART TONIGHT – Shakin’ Stevens
09. FIRST LOVE – Nikka Costa (tema de Duda)
10. REACH OUT – Narada Michael Walden
11. SAVE YOUR LOVE – Renée & Renato (tema de Gigio e Lala Sereno)
12. THE WORDS TO SAY I LOVE YOU – Edward Reekers (tema de Júlio)
13. DON’T MAKE ME WAIT – Fern Kinney (tema de Bruna)
14. MISTY BLUE – Dorothy Moore (tema de Nina e Daniel)

Supervisão musical: Sérgio Motta

Tema de abertura: SANDWICH DE CORAÇÃO – Rádio Táxi

Vou modificar meu modo de vida
Não aguento mais falar em comida
Preciso urgentemente dez quilos perder
Pra conquistar você
E não te perder

Vou tentar um novo regime
Spaghetti à bolognesa é um crime
Só natural, vou sobreviver de amor
Seja lá como for
Comer todo dia

Sandwich de coração, sandwich
Sandwich de coração…

Uma porção de carinho
Uma salada de cafuné
Hmmm, pão com beijo menina
Um doce abraço de sobremesa
Limpem a mesa!

Sandwich de coração, sandwich
Sandwich de coração…

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