Sinopse

Na vastidão das plantações de cacau, um homem sem posses e sozinho no mundo finca seu destino aos pés de um jequitibá-rei, tendo a natureza exuberante da região como testemunha e estabelecendo um pacto que o acompanhará ao longo de toda a sua trajetória. “Enquanto o meu facão estiver encravado aos seus pés, nem eu nem você haveremos de morrer… nem de morte matada… nem de morte morrida!

Assim como a semente de cacau, José Inocêncio também cria raízes naquela terra. Ele renasce ao sobreviver a uma impressionante emboscada, que lhe deixa cicatrizes pelo corpo e espalha a fama de que o “coronelzinho” tem o corpo fechado para morte. Logo José Inocêncio torna-se uma figura mítica e o fazendeiro mais bem-sucedido da região por seus êxitos como produtor de cacau. Porém, a maior de suas conquistas, talvez, seja o amor da jovem Maria Santa.

A arrebatadora paixão entre os dois gera quatro filhos: José Augusto, José Bento, José Venâncio e o caçula, João Pedro, o único que não teve a oportunidade de conviver com a mãe, que morre ao dar à luz. A fatalidade com Maria Santa provoca a revolta em José Inocêncio, que por toda a vida culpa João Pedro pela morte de seu grande amor. A indiferença e a mágoa marcam a relação entre o patriarca e o caçula ao longo dos anos.

Apesar de lhe serem negadas as oportunidades que foram concedidas aos irmãos, João Pedro sente enorme admiração pelo pai. Seu único desejo é ter o amor paterno. Anos mais tarde, a chegada da misteriosa Mariana coloca à prova todos esses sentimentos quando pai e filho se apaixonam pela mesma mulher. Mariana é neta de Belarmino, o maior desafeto de José Inocêncio, do passado, assassinado de forma misteriosa, em que as suspeitas recaem sobre o próprio coronel.

Contudo, José Inocêncio tem um outro inimigo perigoso: o ardiloso Teodoro, seu vizinho, com quem trava uma luta por posse de terras. Sentindo-se em desvantagem para disputar com o pai o amor de Mariana, João Pedro, para espanto de todos, anuncia seu casamento com Sandra, filha de Teodoro, ato que José Inocêncio enxerga como uma afronta, acirrando ainda mais os ânimos entre pai e filho.

Globo – 20h
de 8 de março a 14 de novembro de 1993
213 capítulos escritos, 216 apresentados

novela de Benedito Ruy Barbosa
colaboração de Edmara Barbosa e Edilene Barbosa
direção de Luiz Fernando Carvalho, Mauro Mendonça Filho e Emílio di Biasi
direção geral de Luiz Fernando Carvalho

Novela anterior no horário
De Corpo e Alma

Novela posterior
Fera Ferida

ANTÔNIO FAGUNDES – José Inocêncio (Painho)
MARCOS PALMEIRA – João Pedro
ADRIANA ESTEVES – Mariana
MARCO RICCA – José Augusto
TARCÍSIO FILHO – José Bento
TAUMATURGO FERREIRA – José Venâncio
PATRÍCIA PILLAR – Eliana
HERSON CAPRI – Teodoro
ELIANE GIARDINI – Iolanda (Dona Patroa)
LUCIANA BRAGA – Sandra
MARIA LUÍSA MENDONÇA – Buba (Alcides)
OSMAR PRADO – Tião Galinha
TEREZA SEIBLITZ – Joaninha
JACKSON COSTA – Padre Lívio
CHICA XAVIER – Inácia
JACKSON ANTUNES – Damião
ISABEL FILLARDIS – Ritinha
ROBERTO BONFIM – Deocleciano
REGINA DOURADO – Morena
COSME DOS SANTOS – Zinho Jupará
PALOMA DUARTE – Teca (Tereza Cristina)
LUÍS CARLOS ARUTIM – Rachid
NELSON XAVIER – Norberto
JOFRE SOARES – Padre Santo
LEILA LOPES – Lú (Maria Lúcia)
KADU MOLITERNO – Rafael
MARA CARVALHO – Aurora
CLÁUDIA LIRA – Kika (Walkíria)
JOSÉ DE ABREU – Egberto
OBERDAN JÚNIOR – Pitoco
CASSIANO CARNEIRO – Neno
ÍRIS NASCIMENTO – Lurdinha
CECIL THIRÉ – Delegado Olavo
EVANDRO MONTEIRO – Tarcísio

primeira fase
LEONARDO VIEIRA – José Inocêncio (Coronelzinho)
PATRÍCIA FRANÇA – Maria Santa (Santinha)
CACÁ CARVALHO – Venâncio
ANA LÚCIA TORRE – Quitéria
FERNANDA MONTENEGRO – Jacutinga
JOSÉ WILKER – Belarmino
BETTY ERTHAL – Nena
SOLANGE COUTO – Inácia
LEONARDO BRÍCIO – Deocleciano
GÉSIO AMADEU – Jupará
LUÍS CARLOS ARUTIM – Rachid
NELSON XAVIER – Norberto
JOFRE SOARES – Padre Santo
CYRIA COENTRO – Morena
RITA SANTANNA – Flor
DANIELE RODRIGUES – Juliete
PABLO SOBRAL – João Pedro (criança)
LEANDRO FIGUEIREDO – José Bento (criança)
MARCELO SANTOS – Zinho Jupará (criança)
Mariana (criança)
TONINHO DA CRUZ – jagunço de Belarmino
BERTRAND DUARTE – jagunço de Belarmino
CLEMENTINO KELÉ – vende um caminhãozinho a José Inocêncio em Ilhéus
EVANDRO MONTEIRO
MARCOS MACENA
CARMEM SANTANA
RITA SENA
SARA VICTÓRIA
HADA ZABERUTCHA

e
ADENOR DE SOUZA – jagunço de Teodoro
GILBERTO PIQUIRI – jagunço
GRANDE OTELO – Seu Francisco (pai de Ritinha)
JOÃO DO REINO – jagunço
LAMARTINE FERREIRA – trabalhador
MARCOS – jagunço
PATATIVA DO ASSARÉ (ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA) como ele mesmo, canta quando Damião retorna do sul
ROBERTO GUARABIRA – jagunço

1ª fase, década de 1960

– núcleo de JOSÉ INOCÊNCIO, o CORONELZINHO (Leonardo Vieira), jovem de origem desconhecida, sem posses e sozinho no mundo, valente, obstinado e sonhador. Chega na região de Ilhéus, sul da Bahia, aos 25 anos, munido de um facão e um diabinho dentro de uma garrafa, que, diz ele, tem o poder de fechar seu corpo protegendo-o da morte. Finca o facão aos pés de um jequitibá-rei na esperança de se tornar eterno. Vítima de uma tocaia, tem a pele do corpo arrancada por jagunços, ficando entre a vida e a morte, mas é salvo por um mascate, que o costura. Assume as terras de uma viúva do cacau e, com o tempo, torna-se um dos maiores plantadores da região. Conhece seu grande amor, com quem se casa e tem quatro filhos. A mulher morre no parto do caçula, tirando-lhe a alegria de viver e fazendo com que guarde rancor pelo filho mais novo:
o mascate libanês RACHID (Luís Carlos Arutim), que o encontra quase morto na floresta e salva sua vida, costurando a pele ao seu corpo. Única testemunha do acontecido, tem o paradeiro desconhecido por muitos anos
os empregados e amigos: DEOCLECIANO (Leonardo Brício), seu braço-direito, Corajoso e de boa índole, é fiel ao patrão, a quem tem admiração e respeito,
e JUPARÁ (Gésio Amadeu), mateiro conhecedor das plantas e árvores, é um tipo trabalhador e despachado
a cozinheira INÁCIA (Solange Couto), que o adora, em uma relação quase maternal. Sensitiva, é dela as premonições que salvaram sua vida das inúmeras tocaias
o pároco da região PADRE SANTO (Jofre Soares), homem sábio, bondoso e erudito, é mestre na arte da diplomacia.

– núcleo de MARIA SANTA, a SANTINHA (Patrícia França), moça pura e ingênua que vive sob as rédeas do pai e da moral conservadora do seu entorno. Quase sem sair de casa, ajuda a mãe nos trabalhos domésticos. No dia que tem autorização para acompanhar o Bumba-meu-boi, apaixona-se por José Inocêncio, que se torna seu primeiro e único amor. Amor este desaprovado pelo pai. Acreditando estar grávida e vivendo em pecado, acaba sendo largada pelo pai no bordel da cidade, onde é acolhida pela cafetina. Casa-se com Inocêncio dando a ele quatro filhos. Morre no parto do caçula, para desespero do marido:
os pais: VENÂNCIO (Cacá Carvalho), homem bruto, severo e carola. É conhecido por ser o miolo do boi nas festas do Bumba, uma tradição local. Sente desejo pela própria filha, motivo de seu ciúme doentio pela menina. No passado, expulsou de casa a filha mais velha MARIANINHA, grávida, história que se repete ao largar a caçula no bordel,
e QUITÉRIA (Ana Lúcia Torre), mulher abnegada e submissa ao marido, não questiona suas decisões, mas também não o perdoa por ter expulsado a primogênita de casa. Sente-se cúmplice daquela tragédia. Tenta ao máximo proteger a filha do pai.

– núcleo de JACUTINGA (Fernanda Montenegro), cafetina amiga de José Inocêncio, mulher de grande força e sabedoria. Torna-se uma segunda mãe para Maria Santa quando o pai da menina a larga na porta de seu estabelecimento. É lá que Maria Santa se casa com Inocêncio. Realiza o parto dos quatro filhos do casal:
as prostitutas: MORENA (Cyria Coentro), apesar de já ter sido muito maltratada pela vida, é uma moça alegre e faceira, de personalidade forte e língua afiada. Casa-se com Deocleciano, mas carrega a dor de ter perdido seu único filho em um aborto espontâneo,
FLOR (Rita Santanna), mais jovem que as colegas, é alvo das brincadeiras por conta de seu recato e inocência. Casa-se com Jupará,
e JULIETE (Daniele Rodrigues), rapariga ambiciosa, está sempre tentando se colocar em vantagem em relação às demais companheiras
o vizinho NORBERTO (Nelson Xavier), dono da única venda da vila, ponto de encontro onde tudo acontece. Detentor de muitos causos e notícias, para não dizer fofocas. Na intimidade, carrega dores do amor por sua eterna amante, Jacutinga.

– núcleo do CORONEL BELARMINO (José Wilker), homem influente e poderoso, fez fama e fortuna nos tempos áureos do cacau abusando da violência. Rude e implacável, é conhecido por armar tocaias para se livrar de seus desafetos. A chegada de José Inocêncio na região lhe desperta a inveja. Inocêncio torna-se seu vizinho, mas Belarmino almeja suas terras. Para isso, tenta matá-lo a todo custo. Porém acaba vítima de sua própria tocaia e a culpa recai sobre o coronelzinho:
a esposa NENA (Betty Erthal), mulher rancorosa que está sempre do lado do marido. Ao ficar viúva e sem rumo, sente-se obrigada a aceitar a oferta de José Inocêncio por suas terras e vai embora com os filhos. A sede de vingança pela derrocada de sua família fez com que criasse a neta curtida no ódio que sente por Inocêncio.

2ª fase, década de 1990

– núcleo de JOSÉ INOCÊNCIO, o PAINHO (Antônio Fagundes), homem bom e justo que prosperou como fazendeiro na região de Ilhéus, conhecido como o Rei do Cacau. Nunca superou a morte da mulher Maria Santa, mas sente renascer quando apaixona-se por uma moça misteriosa que surge em sua vida:
os filhos mais velhos, que mandou estudar na capital para se tornarem “doutores”: JOSÉ AUGUSTO (Marco Ricca), formou-se médico na incessante busca pelo orgulho do pai. Sua vida, porém, sai dos trilhos quando passa a ser investigado no hospital e é impedido de exercer sua profissão, ao mesmo tempo em que passou por uma separação traumática,
JOSÉ BENTO (Tarcísio Filho), formou-se advogado. Malandro, é avesso ao trabalho e adepto do mínimo esforço. Vive às custas do dinheiro do pai sem pudor, e dos trambiques em que se enfia. Também é financeira e afetivamente dependente da namorada. É o primeiro a preocupar-se com a divisão dos bens do pai quando ele decide casar-se novamente,
e JOSÉ VENÂNCIO (Taumaturgo Ferreira), formou-se publicitário. É o único dos filhos que conquistou a independência financeira. Ainda assim, vive na esperança de receber afeto do pai. É casado, mas o pai nem conhece a nora. Tem uma relação conturbada com a mulher, com quem desejava ter filhos, sem sucesso. Acaba assassinado em uma tocaia armada para o pai
o filho caçula JOÃO PEDRO (Marcos Palmeira), que trabalha com ele na fazenda. Rapaz ingênuo, honesto, simples e trabalhador, não teve instrução, pois é o único dos filhos que não recebeu uma educação formal financiada por Inocêncio. Apesar da admiração que sente pelo pai, sofre com a sua indiferença e com a sina de ter tirado a vida da mãe, que morreu em seu parto. Ao contrário dos irmãos, nunca saiu da fazenda, onde aprendeu todos segredos do pai na lida com o cacau. Afilhado de Morena e Deocleciano, que sempre o trataram como o filho que nunca tiveram
a misteriosa MARIANA (Adriana Esteves), moça com um ar inocente e jeito faceiro que arrebata o coração de João Pedro, mas seduz José Inocêncio, que também acaba se encantando por ela, depois de anos em luto por Maria Santa. Neta de Belarmino, a princípio chega à região com o ímpeto de vingar a morte do avô e recuperar as terras que ela acha que tem direito. Astuta e dissimulada, está disposta a tudo para alcançar seu objetivo. Contudo, acaba perdida e confusa entre os sentimentos que lhe despertam João e Inocêncio. Acaba escolhendo o patriarca, com quem se casa, o que acirra os desentendimentos entre pai e filho
o amigo RACHID (Luís Carlos Arutim), mascate libanês que no passado salvou sua vida. Com o paradeiro desconhecido por muitos anos, retorna à região para cumprir uma missão do passado
as empregadas da casa: INÁCIA (Chica Xavier), velha amiga e conselheira, e a jovem RITINHA (Isabel Fillardis), moça formosa
os empregados: DAMIÃO (Jackson Antunes), valente e destemido, é um sujeito misterioso que carrega um rastro de mortes em suas costas. Contratado para dar fim em José Inocêncio, acaba conquistado pelo coronel e desiste da ideia, tornando-se um de seus empregados. No início, apaixona-se por Ritinha,
e a professora (Leila Lopes), que dá aulas na escola da fazenda. Paciente e bondosa, conquistou a todos quando chegou na região, especialmente a João Pedro, de quem se torna grande amiga. Com um passado misterioso, não revela suas origens
o pai de Ritinha, FRANCISCO (Grande Otelo, participação), que morre no casamento da filha com Damião
a fazendeira AURORA (Mara Carvalho).

– núcleo de DEOCLECIANO (Roberto Bonfim), melhor amigo de José Inocêncio, trabalha para ele desde a juventude:
a esposa MORENA (Regina Dourado), mulher alegre e de bom coração. Como não pôde ter filhos, ajudou a criar João Pedro, quando ele foi renegado pelo pai após o nascimento
o afilhado ZINHO JUPARÁ (Cosme dos Santos), abandonado pela mãe, Flor, quando ela ficou viúva de seu pai, Jupará, amigo da juventude de Inocêncio e Deocleciano. Foi criado como uma irmão para João Pedro. Ao lado do melhor amigo, domina a lida do cacau
a namorada de Zinho, LURDINHA (Íris Nascimento).

– núcleo do fazendeiro TEODORO (Herson Capri), filho único do Coronel Firmino, herdou as terras do pai. Fez-se um coronel temido e influente na região, atravessador que vive da compra e venda do cacau de produtores da região. Herdou também do pai a rivalidade com José Inocêncio, seu inimigo declarado, com quem trava uma disputa por terras:
a esposa IOLANDA, que ele chama pejorativamente de DONA PATROA (Eliane Giardini), mulher submissa e infeliz. Frequentemente humilhada pelo marido, finge não saber de suas traições. Busca nas orações e na fé convertê-lo e endireitar seus tortuosos caminhos. Envolve-se com Rachid quando ele retorna a Ilhéus
a filha SANDRA (Luciana Braga), moça instruída e rebelde que não aprova os métodos do pai, motivo pelo qual vivem em pé de guerra. Acaba se envolvendo com João Pedro, filho do inimigo de seu pai.

– núcleo de TIÃO GALINHA (Osmar Prado), simplório catador de caranguejo, empregado explorado por Teodoro. É um homem humilde, mas, acima de tudo, sonhador. Almeja sair da miséria e oferecer uma vida de rainha para a mulher. Tem esse nome por sempre andar com uma galinha embaixo do braço na intenção de proteger aquela que irá chocar o ovo que lhe dará um diabinho igual ao que José Inocêncio guarda em uma garrafa. Tem um fim trágico: comete suicídio na cadeia ao ser condenado injustamente e sentir que foi desonrado:
a esposa JOANINHA (Tereza Seiblitz), moça bela, trabalhadora e conformada com a vida. Apesar de apaixonada pelo marido, sofre com seus devaneios. Chama a atenção do Coronel Teodoro, que a leva para trabalhar em sua casa, sob as ordens da esposa Iolanda. Será constantemente assediada por Teodoro
o PADRE LÍVIO (Jackson Costa), com a vida dedicada à religião. Percorre o caminho da fé até que seus questionamentos o levam a cruzar com os caminhos do Padre Santo. Vive em conflito com a vocação religiosa ao apaixonar-se por Joaninha.

– núcleo do Rio de Janeiro:
ELIANA (Patrícia Pillar), mulher de José Venâncio, sofisticada e sedutora. Modelo de sucesso e um tanto paranoica, abriu mão da carreira para viver ao lado do marido no Rio. Nunca teve vocação nem vontade para a maternidade, enquanto o sonho de Venâncio era dar um neto ao seu pai. Não vai aceitar a separação amigavelmente. Parte para a fazenda de José Inocêncio e acaba envolvendo-se com Damião e, depois, com Teodoro
BUBA (Maria Luísa Mendonça), apaixona-se por José Venâncio e sonha em formar uma família com ele e ser mãe. Porém, o preconceito por ser uma mulher intersexo – cujo nome verdadeiro é ALCIDES – acaba sendo um grande obstáculo para o casal
KIKA (Cláudia Lira), namorada de José Bento desde os tempos de faculdade, vive uma relação instável de idas e vindas. Advogada, é ela quem assume os casos e participa das audiências no lugar dele, que sequer possui licença para atuar na área
o detetive EGBERTO (José de Abreu), contratado por Eliana para saber com quem o marido a trai. Envolve-se com Kika
TECA (Paloma Duarte), adolescente que vive em situação de rua. Ao se descobrir grávida e sozinha, entra em desespero, até o destino colocar Buba em seu caminho, que fará de tudo para adotar o seu bebê
os amigos de Teca, garotos de rua como ela: PITOCO (Oberdan Júnior), apaixonado por Teca, e NENO (Cassiano Carneiro).

Resgate do autor

No final da década de 1970, Benedito Ruy Barbosa apresentou a sinopse de Os Imigrantes para a direção da TV Globo, que a recusou. A novela foi então produzida pela TV Bandeirantes, entre 1981 e 1982, e tornou-se o maior sucesso da dramaturgia da emissora.
Em 1990, a Globo não se interessou em produzir Pantanal, fazendo com que Benedito a levasse à TV Manchete, tornando-se um fenômeno na história de nossa televisão.

Após o êxito de Pantanal, a Globo tratou logo de resgatar Benedito Ruy Barbosa para sua equipe de novelistas. Com Renascer, o autor conseguiu, finalmente, apresentar o seu trabalho em grande estilo, em uma superprodução, contando com a repercussão global no horário nobre, que ele tanto almejava. Antes disso, a Globo só lhe cedia o horário das seis, considerado “menor” até mesmo dentro da emissora, por seu menor alcance e audiência.

Benedito mostrou-se à altura do compromisso e exibiu seu talento de maneira sedutora. O ritmo lento da narrativa e o estilo contemplativo da direção de Luiz Fernando Carvalho não foram obstáculos para os telespectadores.

Renascer ganhou a maioria dos prêmios de televisão referentes ao ano de 1993. A APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a elegeu melhor novela, melhor ator (Antônio Fagundes), melhor ator coadjuvante (Osmar Prado), melhor atriz coadjuvante (Regina Dourado) e ator revelação (Jackson Antunes).
Também ganhou o Troféu Imprensa de melhor novela, melhor ator (Antônio Fagundes) e revelação do ano (Jackson Antunes).

Bumba-Meu-Boi e Jacarandá-Rei foram títulos cogitados para a novela. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Primeira fase

Inesquecível a primeira semana de exibição de Renascer, de 5 capítulos, na qual foi contado o passado dos personagens, com imagens belíssimas e direção cinematográfica (direção de fotografia de Walter Carvalho).
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho revelou em seu “Livro do Boni”: “O início era tão forte que tivemos que reduzir o número de capítulos, pois haveria possibilidade de rejeição da segunda parte da novela.”

Nesta primeira fase, Patrícia França, revelada no ano anterior na minissérie Tereza Batista (1992), estreava em novelas.

Também estreou Leonardo Vieira – que interpretou o protagonista José Inocêncio quando jovem – tornando-se o novo galã da casa. Leonardo e Patrícia, pelo sucesso com seu casal romântico em Renascer, estrelaram a próxima atração das seis da emissora, Sonho Meu.

Uma sequência marcante da primeira fase: José Inocêncio jovem (Leonardo Vieira) finca um facão na terra junto a um frondoso pé de jequitibá e jura que não morreria nem de “morte matada” nem de “morte morrida”.

Críticas a Adriana Esteves

Adriana Esteves recebeu muitas críticas por sua atuação como Mariana, a principal personagem feminina de Renascer. Este era seu segundo papel de destaque em uma novela das oito da Globo (no ano anterior, ela viveu Marina em Pedra Sobre Pedra).

De fato, o público não recebeu bem a personagem, de caráter dúbio. Neta de Belarmino (José Wilker), Mariana se aproxima de José Inocêncio (Antônio Fagundes) com o intuito de vingar a morte do avô, mas se apaixona pelo fazendeiro, o que piora a relação já deteriorada do pai com o caçula, João Pedro (Marcos Palmeira), que também gosta dela.

Por causa das críticas e do momento pessoal que vivia, a atriz se sentiu pressionada e tão mal que entrou em depressão – o que a levou, posteriormente, a recusar o papel de Babalu em Quatro por Quatro (1994) e a se afastar voluntariamente por dois anos da televisão.

“Eu era muito nova e fazia uma protagonista muito grande e complexa em Renascer. Claro que eu não tinha muita maturidade para lidar com o sucesso tão grande de uma protagonista de novela das oito. E o que tudo que isso requer”, disse Adriana a Lázaro Ramos para o programa Espelho, do Canal Brasil, em julho de 2013.

“Eu havia me separado, comecei a fazer uma novela atrás da outra, com personagens grandes, ganhei exposição e tinha pouca maturidade. Fiquei perdida, não segurei a onda. E aí veio a depressão. Passei pela fase de não conseguir comer, de não sair da cama, de achar um sofrimento tomar banho, de engordar muito com o antidepressivo”, desabafou a atriz em entrevista à revista Cláudia, em agosto de 2016.
“Foram os anos mais difíceis da minha vida (…) Fiquei muito tempo sem falar sobre isso, hoje não me incomodo”, complementou.

Problemas com atores

Um dos personagens de maior destaque foi Tião Galinha, uma interpretação marcante de Osmar Prado. Porém, o ator foi afastado da novela, apesar do excelente trabalho como o caricato matuto e este ser um dos melhores personagens da trama.
A morte de Tião Galinha estava prevista na sinopse, mas teve de ser antecipada. Ao ser preso, Tião sofreu uma grande humilhação na cadeia e, depois de levar um tapa na cara, tomou a resolução de suicidar-se, enforcando-se. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)

Em matéria para a revista Caras (publicada em junho de 2015), o ator revelou detalhes: “Durante a novela tive um embate com um executivo da Rede Globo e eu pedi pra sair, pra antecipar a morte do Tião, com ele no auge. Ele ia morrer, mas não sabia quando. (…) Aí eles botaram o Tião se suicidando. O Tião foi preso, foi pra cadeia, e se matou. Aí falei pro Luiz Fernando Carvalho [o diretor] que a cena não estava completa. Como que esse personagem, com tanta força, vai se matar por nada? Disse que queria uma bofetada na minha cara, bater em uma pessoa digna.”
Após este episódio, Osmar Prado foi para o SBT e só retornou à Globo cinco anos depois, na novela Meu Bem-Querer (1998).

Também Taumaturgo Ferreira deixou o elenco de Renascer antes do final. Seu personagem, José Venâncio, acabou morto em uma tocaia armada por Teodoro (Herson Capri), na qual o alvo, na verdade, era seu irmão João Pedro (Marcos Palmeira). Na época, foi divulgado que a emissora (entenda autor e diretor) não gostou da construção do personagem pelo ator e decidiu excluí-lo do elenco. Taumaturgo retornou à Globo cinco anos depois.

Elenco

Primeira novela dos atores Jackson Antunes, Maria Luísa Mendonça, Marco Ricca, Paloma Duarte e Isabel Fillardis.

Benedito Ruy Barbosa iniciou em Renascer uma parceria de sucesso com Antônio Fagundes, que viveu o protagonista, José Inocêncio, na fase definitiva da trama. O ator trabalhou com Benedito ainda em O Rei do Gado (1996), Terra Nostra (1999), Esperança (2002), o remake de Meu Pedacinho de Chão (2014) e Velho Chico (2016).

Antônio Fagundes narrou ao Memória Globo como foi convencido por Benedito Ruy Barbosa a fazer sua novela:
“Nós saímos pra jantar, e o Ruy falou: ‘Eu quero te contar a última cena da novela…’ E eu fiquei impressionado com aquilo, eu falei: ‘Puxa, nem começou…’ E ele me contou a última cena. E terminamos os dois aos prantos no restaurante, porque era uma cena deslumbrante. Eu fico arrepiado até hoje de lembrar. Eu falei: ‘Pelo amor de Deus, eu quero fazer essa novela de todo o jeito.’ E, realmente, eu fiquei com essa cena na cabeça a novela inteira.”
A cena em questão, que foi ao ar no último capítulo, era a da morte de José Inocêncio. Ele pede ao filho, João Pedro (Marcos Palmeira), que o abrace para desculpá-lo por tantos anos de indiferença.

O bordão do personagem de José Wilker (Belarmino) – “É justo, é muito justo, é justíssimo!” – nasceu de um improviso. O ator esquecera sua fala durante a gravação de uma cena trabalhosa, que envolvia o diretor de fotografia Wálter Carvalho, e, sem graça de ficar em silêncio, enrolou (justo… muito justo… justíssimo!), criando a fala que se tornou marca de seu personagem. (Site Memória Globo)

Abordagens

Benedito Ruy Barbosa abordou um tema inédito em nossa Teledramaturgia que, na época, soou como uma ousadia: criou a primeira personagem intersexo das novelas: Buba, que marcou a carreira da atriz Maria Luísa Mendonça e pela qual ela é lembrada até hoje. Na época, usava-se o termo “hermafrodita” (inclusive no texto da novela), hoje não mais aceito para o caso em questão. Buba – cujo nome de batismo era Alcides – tinha os dois sexos e seu sonho era ter um filho.

Outros temas de apelo social levantados pelo autor foram o celibato religioso – o Padre Lívio (Jackson Costa) se apaixonava pela bela Joaninha (Tereza Seiblitz) – e a questão dos meninos de rua, conteúdo sugerido em um congresso da Unicef para autores latino-americanos de telenovelas. Na história, a menina Teca (Paloma Duarte) engravidou precocemente e foi acolhida na casa de José Inocêncio.

Nada se cria

Comparações entre as tramas de Renascer e Pantanal foram inevitáveis:
– Marcos Palmeira viveu o filho enjeitado do protagonista nas duas novelas (Tadeu/João Pedro);
– O protagonista de ambas as tramas (José Leôncio/José Inocêncio) era dono de uma vasta propriedade e possuía um vizinho mal intencionado (Tenório/Teodoro) cuja filha (Guta/Sandra) se envolve com o filho enjeitado (Tadeu/João Pedro);
– Havia também a mulher submissa que era tratada pelo marido machista (Tenório/Teodoro) com um apelido depreciativo (Maria Bruaca/Dona Patroa);
– Ainda a presença de uma estranha (Muda/Mariana) que surgia para se vingar de um personagem, e que descendia de um antigo inimigo dele.

O diabo preso na garrafa por José Inocêncio já foi um filão explorado pelo autor em sua novela Paraíso (1982-1983), na qual o Coronel Eleutério (Cláudio Corrêa e Castro), igualmente, possuía um diabo na garrafa, com os mesmos entrechos usados em Renascer.

Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, o autor explicou que a inspiração para essa trama veio de uma viagem à Bahia, a uma fazenda de cacau:

“Eu tinha ouvido um causo sobre um tal de Seu Firmo, o fundador das fazendas da região, que havia dividido suas terras entre os sete filhos. (…) Seu Firmo tinha a proteção do capeta e guardava o diabo na garrafa. Contaram que um dia, Seu Firmo havia aparecido com essa garrafa, botado dentro de casa e, a partir de então, virado protegido: nenhuma bala entrava nele. (…) nas noites de florada, Seu Firmo abria a garrafa, o diabinho pulava para fora e virava um bode enorme, com os olhões brilhando feito brasa. Seu Firmo montava nele e o bode saía voando, mijando no cacau. (…) Na manhã seguinte, o que nascia de flor era uma maravilha! Por isso que não tinha cacau que desse mais do que o do Seu Firmo, por causa do mijo do diabo, que adubava.”

Cenografia

Os cenários de Renascer – que teve muitas cenas gravadas em Ilhéus, na Bahia – reproduziam o interior de quatro casas de fazendas de cacau.
As cenas que mostravam as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo foram gravadas nos estúdios da TV Globo, no Rio.

Apenas um cenário foi montado na cidade cenográfica em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio (atual Estúdios Globo): a casa de Jacutinga (Fernanda Montenegro), dona do bordel, mais tarde transformada em uma pensão que abrigou diversos personagens da trama. (Site Memória Globo)

Abertura

A abertura – criada por Hans Donner e sua equipe, desenvolvida em animação 3D – enfatizava os mundos rural e urbano. Um pingo caía sobre um solo árido e dali crescia uma frondosa árvore, de onde surgia um moderno edifício envidraçado. Em seguida, a mesma mensagem era reforçada de outra forma, a partir de outra linguagem e técnica, baseada em maquetes produzidas pelo artista plástico Flávio Papi: uma fazenda de cacau, que, à medida que o chão se esfacelava, revelava uma metrópole, cheia de arranha-céus, que eram literalmente enrolados fazendo surgir o logotipo da novela.

A vinheta pecou pela grande quantidade de eventos e pela pouca harmonização estética entre a animação 3D e as maquetes. Isso se deve, talvez, por causa do alto entusiasmo de querer trabalhar com chromakey e animação gráfica tridimensional. Porém, os conceitos empregados e suas formas de representação foram interessantes tanto pela poética quanto pelo surrealismo no intuito de representar a analogia do desenvolvimento urbano – e do próprio protagonista – a partir da cultura do cacau. (André Luiz Sens, blog Televisual)

A partir de 1993, o tema de abertura das novelas apresentadas naquele ano (Mulheres de Areia às seis horas, O Mapa da Mina às sete, e Renascer às oito) deixou de ser apresentado no encerramento, sendo substituído por alguma outra música de sua trilha sonora.

Exibições

A apresentação do último capítulo fugiu do esquema habitual. Como haveria a exibição de um jogo de futebol na sexta-feira (12/11/1993), parte do capítulo foi ao ar naquele dia e outra parte no sábado. No domingo (dia 14/11), o último capítulo foi reprisado na íntegra depois do Fantástico.

Renascer foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo entre 14/08/1995 e 01/03/1996.

Reprisada também no Viva (canal de TV por assinatura pertencente ao Grupo Globo), entre 07/11/2012 e 05/09/2013, às 16h15.

A novela foi disponibilizada no Globoplay (plataforma streaming do Grupo Globo) em 11/10/2021.

Remake

Em janeiro de 2024, estreia o remake de Renascer, com atualização de texto de Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa. No elenco, Marcos Palmeira retorna como o Coronel José Inocêncio, enquanto Juan Paiva interpreta João Pedro e Theresa Fonseca é Mariana.

Trilha sonora volume 1

01. DITO E FEITO – Roberto Carlos (tema de Dona Patroa)
02. AI QUE SAUDADE DE OCÊ – Fábio Jr. (tema de Damião e Ritinha)
03. LINDEZA – Caetano Veloso (tema de José Inocêncio / tema de Maria Santa – instrumental)
04. SÓ PRA TE MOSTRAR – Daniela Mercury (participação especial de Herbert Vianna) (tema de Buba)
05. O LADO PRÁTICO DO AMOR – Guilherme Arantes (tema de Eliana)
06. SPORT TIME – Sunshine Orchestra
07. CONFINS – Batacoto (participação especial de Ivan Lins) (tema de abertura)
08. LUA SOBERANA – Sérgio Mendes (tema geral / tema dos extratores de cacau / tema das vinhetas de intervalo)
09. ME DIZ – Fagner
10. PARABOLICAMARÁ – Gilberto Gil (tema de locação: Bahia)
11. DE VOLTA AO COMEÇO – Roupa Nova (tema das terras de José Inocêncio)
12. MENTIRAS – Adriana Calcanhoto (tema de Mariana)
13. EM NOME DO AMOR – Agnaldo Rayol (tema de Rachid)
14. TO AIM – Franco Perini

Sonoplastia: Aroldo Barros
Produção musical: André Sperling
Direção musical: Mariozinho Rocha

Trilha sonora volume 2

01. ALÉM DA ÚLTIMA ESTRELA – Maria Bethânia (tema de Sandra)
02. CHEIRO DE SAUDADE – Ney Matogrosso (tema de Morena)
03. EU QUERO MEU AMOR – Elba Ramalho
04. ROMANCE – 14 Bis (tema das terras de José Inocêncio)
05. LAVRADOR – Moraes Moreira (tema de Damião)
06. MEMÓRIAS (PATCH MEMORY) – Franco Perini
07. ESSA TAL FELICIDADE – Tim Maia (tema de José Augusto)
08. SETE DESEJOS – Alceu Valença (tema de Damião e Eliana)
09. DOIS CORAÇÕES – Nana Caymmi (tema de João Pedro)
10. PALAVRA ACESA – Quinteto Violado (tema de Tião Galinha)
11. JOANINHA – Itamara Koorax (tema de Joaninha)
12. RENASCER (PROTECTION) – Franco Perini

Produção musical: André Sperling
Direção musical: Mariozinho Rocha

Tema de abertura: CONFINS – Batacoto (partic. especial Ivan Lins)

Nada cai do céu nem cairá
Tudo que é meu eu fui buscar
Aprendi viver e caminhar
Entre os bons e os maus e me guardar

Fico me remoendo com meus remendos
Pra me lembrar
Que lá vem desavença
E eu tenho que enfrentar
Isso é o que me alimenta
Que me sustenta, me faz amar
Nesses confins de mundo
Nada vai me assustar

Nada cai do céu nem cairá
Tudo que é meu eu fui buscar
Aprendi viver e caminhar
Entre os bons e os maus e me guardar

E todo dia eu cresço
Com os tropeços que Deus me dá
Mas não há capoeira pra me desafiar
Faço da lua cheia uma candeia pra iluminar
Os olhos do inimigo que possa me roubar…

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