Sinopse

Na época do Segundo Reinado, Clóvis é o senhor que oprime negros, aplica um golpe no banco de seu sogro, Mário, e tenta enlouquecer a mulher, Júlia, para se apoderar da herança dela. Além disso, prepara uma armadilha fatal contra o único homem que pode desmascará-lo: Carlos, o contador do banco que roubou. Coloca explosivos numa valise em que ele transporta dinheiro para outra agência, e o faz voar pelos ares. Após o acidente, Carlos perde a memória e esquece a mulher e os três filhos, que o julgam morto.

Dez anos depois, Carlos juntou-se à trupe mambembe de Raposo. É quando ele se recupera da amnésia e, sempre no anonimato, deflagra uma batalha para provar que Clóvis não somente tentou eliminá-lo como também é responsável por outros crimes e falcatruas. Paralelamente, Júlia continua sofrendo demais. Até porque seu marido já convenceu a quase todos de que ela perdeu o juízo. E, para mantê-la calada, Clóvis ameaça revelar que o filho deles, Maurício, não é legítimo e sim de criação.

Também a ex-amante de Carlos, Pola Renon, ganha força na história e, de forma indireta, torna-se aliada de Júlia. Convicta de que Clóvis é o culpado pelo desaparecimento do homem por quem era apaixonada, ela se empenha em reunir provas para jogá-lo atrás das grades. De seu lado está Lúcio, o filho mais velho de Carlos, que lutará para que seja abolida a escravatura e, ainda, para descobrir a verdade em relação a seu pai. Sem saber que por trás de todo o passado está Pola, a mulher a quem ama e protetora de sua família.

SBT – 20h
de 11 de julho de 1995
a 4 de maio de 1996
257 capítulos

novela de Vicente Sesso
escrita por Vicente Sesso, Rita Buzzar e Paulo Figueiredo
colaboração de Ecila Pedroso
direção de Henrique Martins e Antonino Seabra
direção geral de Del Rangel e Nilton Travesso
supervisão de Nilton Travesso

Novela anterior no horário
As Pupilas do Senhor Reitor

Novela posterior
Antônio Alves, Taxista

JAYME PERIARD – Carlos Rezende
TARCÍSIO FILHO – Lúcio Rezende
BIA SEIDL – Pola Renon
OSMAR PRADO – Clóvis Camargo
LUCÉLIA SANTOS – Júlia
LUCINHA LINS – Helena
RUBENS DE FALCO – Dr. Mário Albuquerque Soares
DELANO AVELAR – Maurício
CLÁUDIA PROVEDEL – Viviane
CACÁ ROSSET – Raposo
OTHON BASTOS – Machado
DENISE FRAGA – Natália
RUBENS CARIBÉ – Ricardo
BETE COELHO – Fabrício (Cecília) /Fernanda
SUZY RÊGO – Solange Deschamps
GUILHERME LEME – Juca
ÂNGELA FIGUEIREDO – Heloísa
EWERTON DE CASTRO – Lourenço
PAULO FIGUEIREDO – Alexandre Paranhos
MARCOS CARUSO – Conde Giorgio de La Fontana
MAGALI BIFF – Suzana
FLÁVIA MONTEIRO – Cíntia
JANDIR FERRARI – Artur
JUSSARA FREIRE – Salomé
LUIZ GUILHERME – Conde Antônio Cerdeira
ANGELINA MUNIZ – Zulmira
CHICA LOPES – Bentinha
GÉSIO AMADEU – Pedro Cesteiro
KADU KARNEIRO – José do Patrocínio
LUCIANO QUIRINO – André Rebouças
MARCELA MUNIZ – Carolina
JANDIRA MARTINI – Rebeca
LUIZ SERRA – Martins
MARCO ANTÔNIO PÂMIO – Quinzinho (Joaquim Cerdeira)
TÁCITO ROCHA – Inspetor Herculano
YARA LINS – Mariana
ELISA LUCINDA – Beatriz
ROGÉRIO MÁRCICO – Tobias Barreto
MARCOS PLONKA – Dr. Rui
GILBERTO SÁLVIO – Barão de Santa Rita
LUÍS BACELLI – Barão de Cerro Verde
DENIS DERKIAN – Edwaldo Paranhos
ANDRÉ GAROLLI – Leandro
MARCOS OLIVEIRA – Targino
EDGARD FRANCO – Quim
ALESSANDER GUERRA – Rivaldo
NILTON BICUDO – Formiga
SÁVIO CHAU – Gibe
NEWTON PRADO – Dr. Fontes
AMORIM JÚNIOR – Gastão
SUZY CAMACHO – baronesa
ROGÉRIO BRISSI – abolicionista
BARTHÔ RAIMUNDO – jornaleiro

as crianças
JIDDÚ PINHEIRO – Lúcio
DOUGLAS AGUILLAR – Maurício
CARMEN CAROLINE – Cíntia
ALANA ROSSETTO – Carolina
WAGNER SANTISTEBAN – Ricardo
CACÁ PONTES – Quinzinho

e
AMÉLIA BITTENCOURT
DANTE RUY – amigo de Clóvis
FILOMENA LUIZA – Imperatriz Tereza Cristina
HILTON HAVE – cabeleireiro
IRENE RAVACHE – Princesa Isabel
OSCAR MAGRINI
PATRICK LEVY
RUTHINÉA DE MORAES – Candoca Navalhada
SILVIO BAND – D. Pedro II
TÔNIA CARRERO – Cécile Renon
WÁLTER FORSTER – juiz

Novela problemática

Problemática produção do SBT após os resultados satisfatórios de Nilton Travesso (diretor de dramaturgia) em Éramos Seis e As Pupilas do Senhor Reitor, as novelas anteriores.

A emissora investiu pesado: Sangue do Meu Sangue teve um orçamento superior ao das suas antecessoras: US$ 42 mil por capítulo, de acordo com notícias divulgadas na época.

Remake da novela que Vicente Sesso escreveu para a TV Excelsior em 1969. Na primeira versão, Francisco Cuoco viveu papel duplo: Carlos e seu filho Lúcio – personagens de Jayme Periard e Tarcísio Filho nessa regravação.

Uma das maiores publicidades para a estreia da novela, a dupla Lucélia Santos e Rubens de Falco (de Escrava Isaura), estavam juntos mais uma vez, vivendo novamente filha e pai – tal qual em outro sucesso em que participaram: Sinhá Moça (1986).

A novela contou com a assessoria histórica de Ana Luiza Martins Camargo de Oliveira, então historiadora da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

Atualização da trama

A princípio, uma providência tomada pelos adaptadores para atualizar Sangue do Meu Sangue foi reduzir o número de capítulos. O original de 1969 tinha 240 capítulos de 25 a 30 minutos, com poucas e longas cenas.
A nova versão precisaria de capítulos mais longos e dinâmicos. Os autores planejavam comprimir os 240 capítulos originais em 180, mas a novela foi sendo esticada até atingir a marca dos 257 capítulos (por Duh Secco).

As mudanças mais importantes aconteceram na primeira fase, que se passava em 1872. Ela foi reduzida de 63 para 24 capítulos e, com isso, a trama foi acelerada. Dois personagens beneficiados com essas mexidas foram Salomé (Jussara Freire), prostituta envolvida com o Conde Antônio Cerdeira (Luiz Guilherme), e Rebeca (Jandira Martini), tia do vilão Clóvis (Osmar Prado). As duas participaram da história desde o início, ao contrário da primeira versão, toda centrada nos protagonistas. Desta vez as subtramas ganharam força.

Na segunda fase, ambientada em 1883, ficaram mais evidentes e importantes para a trama os fatos históricos do período, como a militância de José do Patrocínio (Kadu Karneiro) e a trajetória da princesa Isabel (Irene Ravache).
“Ela sabia que libertar os escravos significaria o fim do Império. É um drama pessoal que funciona bem para a novela”, afirmou a autora Rita Buzzar em entrevistas na véspera da estreia.

A novela de Vicente Sesso misturava ficção com reconstituições de fatos históricos do período monárquico e isso foi intensificado na adaptação de 1995.

Diretores perdidos

Entretanto, essa versão do SBT não repetiu o sucesso da produção original. Os adaptadores Paulo Figueiredo e Rita Buzzar mexeram na trama, acrescentando personagens desnecessários, com abuso de frases formais e empostadas até no cotidiano doméstico.

Os diretores – entre eles Henrique Martins, intérprete do vilão Clóvis na versão de 1969 – se mostraram perdidos no meio dessa pretensa super produção. Arrastaram demasiadamente a trama no início e, do meio para o final, tentando dar agilidade ao texto, encheram a novela de cortes nervosos que produziam cenas sem sentido.

A produção usou como trunfo Tarcísio Filho, intérprete de Lúcio. Com pinta de galã e depois de ter provado competência na emissora com o bem-sucedido Alfredo de Éramos Seis, a direção da novela usou tanto a imagem do personagem que ele chegou ao final desgastado.
Sobrou mesmo para o público torcer por Clóvis, o vilão sedutor, um dos melhores trabalhos de Osmar Prado na TV, que lhe rendeu o Troféu Imprensa de melhor ator de 1995.

Crise e ameaça

A crise provocada pela insatisfação da emissora com a baixa audiência, e do pai da obra, Vicente Sesso, com a adaptação, acabou provocando a intervenção dele na novela. Sesso chegou a ameaçar o SBT de que recorreria à Justiça para tirar a trama do ar caso a emissora não fosse fiel ao seu texto. Sua insatisfação começou já no primeiro capítulo. O autor reclamava da mudança de enfoque da história, dos dramas pessoais para a luta pela Abolição.

A briga com a autora Rita Buzzar acabou na imprensa: “A Rita Buzzar disse que eu era a Magadan, não trabalhava há muito tempo e estava querendo aparecer. A novela está sendo escrita fora de ordem, e eles estão tentando salvar a história na edição. A Pola Renon deveria ser interpretada por uma atriz mais velha, como Irene Ravache, para que a diferença de idade entre ela e Lúcio ficasse evidente”, reclamou Sesso.

Rita Buzzar, antes de se desligar do texto da novela, rebateu as críticas de Sesso, declarando que foi necessário reescrever os capítulos, uniformizar perfis de personagens irregulares no original e corrigir erros históricos. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa)

Baixa audiência

Em sua intervenção, Sesso acabou eliminando a trupe dos atores saltimbancos, chefiada por Raposo (Cacá Rosset), diminuiu a participação da cega Natália (Denise Fraga) e do tenente Paranhos (Paulo Figueiredo).
Outra personagem reformulada foi Cecília/Fabrício (Bete Coelho), inexistente na trama original. “Essa personagem travestida de homem é ridícula e não engana ninguém”, disse Sesso. Bete Coelho retornou no meio da novela interpretando uma nova personagem, Fernanda.

Ainda na tentativa de salvar a novela, Vicente Sesso acabou trazendo a amiga Tônia Carrero. Intérprete de Pola Renon na primeira versão, Tônia entrou para interpretar uma nova personagem, a viúva alegre Cécile Renon, e reforçar ainda mais a trama da cunhada, Pola (Bia Seidl). Tônia Carrero estava afastada da televisão há seis anos, desde sua participação em Kananga do Japão (1989), da TV Manchete.

Contudo, as mudanças feitas por Vicente Sesso em nada melhoraram a repercussão de Sangue do Meu Sangue. Ao contrário, os índices, que vinham se mantendo em torno dos 9 pontos, caíram para 5 a partir dos primeiros capítulos reescritos.

Crítica ao autor

Na reta final, o ator Osmar Prado decidiu romper o silêncio e saiu em defesa de Rita Buzzar e Paulo Figueiredo, atacando Sesso:

“Ele não é milagreiro e está bancando o salvador da pátria. A emissora quer resultados e infelizmente caiu no conto que esse senhor irresponsável e inescrupuloso vem propagando na imprensa. Qualquer um pode ter críticas à novela e dizer que nem todos os personagens estão bem desenvolvidos. Mas não há problema que não seja contornável com uma boa conversa. Sesso simplesmente arrasou a produção, desde o início. Foi muito deselegante com atores e adaptadores. Se ele quisesse de fato cooperar, não agiria de forma tão leviana. Deixou claro que, na hora em que vendeu os direitos da história ao SBT, não soube negociar sua participação e depois saiu resmungando. Sangue é só um tijolinho em um muro maior, que é o núcleo de teledramaturgia do SBT. Sesso tentou derrubar esse muro desde o início. Então, não há como respeitá-lo agora.”

Já era tarde demais, os ânimos no elenco estavam inflamados, com vários atores insatisfeitos com os rumos de seus personagens e atrizes, como Bete Coelho e Lucélia Santos, reclamando da falta de diretores competentes para auxiliá-las. Para piorar, o SBT mudou constantemente o horário de exibição, perdendo a fidelidade do público.

Abertura trocada

A abertura também foi alterada. A primeira teve um tom ufanista, com um hino cívico como tema musical. Fazia referência à Lei do Ventre Livre (de 1871) ao som do hino da Proclamação da República (de 1889). Uma escrava dá à luz um menino, o pai retira o bebê liberto do ventre de sua mãe, rompe seus próprios grilhões e corre com a criança nos braços pelos campos de seu senhor. Ouvimos as estrofes do hino: “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós!”

A segunda abertura era mais “amena”, com cenas do elenco e da cidade cenográfica e outro acompanhamento musical, mais suave.

Sonoplastia: José Carlos Jardim e Benjamin Diniz
Trilha: Ricardo Botter Maio

LUA BRANCA – Maria Bethânia (tema de Pola)

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