Sinopse

A luta de Pedro Archanjo para proteger a cultura africana e integrá-la à sociedade brasileira, criando uma nova cultura. Ele é guiado por Magé Bassã, sua mãe de santo, que lhe revela a missão de ser “a luz de seu povo”.

A história se passa em Salvador e começa com a morte do velho ogã Pedro Archanjo, que passa mal ao tomar uma cachaça no bar, enquanto as rádios transmitem a iminente derrota do Terceiro Reich. Em uma penosa caminhada, na qual fortes dores no peito se misturam a visões dos orixás – Oxalá, Xangô, Oxóssi, Ogum, Iansã e Omulu – ele tenta chegar ao seu quarto sem que ninguém perceba. Porém, desmaia no caminho e é levado às pressas para o castelo de Cesarina, onde, à beira da morte, relembra aventuras, amores e, principalmente, a sua missão de manter vivas na Bahia as culturas negra e mestiça – isto é, as raízes brasileiras.

O cenário baiano é embalado pelas histórias dos personagens que se cruzam ante à luta de Pedro Archanjo: a amizade com Mestre Lídio Corró, abalada quando Rosa de Oxalá, sua mulher, apaixona-se por Archanjo; o amor proibido de Budião e Sabina, impossibilitado por causa da incompatibilidade de santos; a luta contra a intolerância e o preconceito racial dos poderosos; a relação de Archanjo com as mulheres, em especial à jovem Ana Mercedes, uma libertária; o amor inter-racial de Damião e Luísa, ela filha do Professor Nilo Argolo, racista ferrenho e defensor da separação de brancos e negros.

Globo – 22h30
de 29 de julho a 6 de setembro de 1985
30 capítulos

minissérie de Aguinaldo Silva
baseada no romance homônimo de Jorge Amado
escrita por Aguinaldo Silva e Regina Braga
direção de Paulo Afonso Grisolli, Maurício Farias e Ignácio Coqueiro
direção geral de Paulo Afonso Grisolli

NELSON XAVIER – Pedro Archanjo
TÂNIA ALVES – Ana Mercedes
MILTON GONÇALVES – Mestre Lídio Corró
DU MORAES – Rosa de Oxalá
CHICA XAVIER – Magé Bassã
OSWALDO LOUREIRO – Professor Nilo Argolo
GRACINDO JÚNIOR – Professor Fraga Neto
CLÁUDIO MARZO – Jerônimo
MARIA ISABEL DE LIZANDRA – Maria Amélia
ANTÔNIO POMPEO – Budião
SOLANGE COUTO – Sabina de Iansã
JÚLIA LEMMERTZ – Luísa
JOEL SILVA – Damião
DANIEL DANTAS – Astério
YARA CÔRTES – Zabela
ÂNGELA LEAL – Cesarina
TÂNIA BÔSCOLI – Ester
ZENAIDE PEREIRA – Iaba (Dorotéia)
ANTÔNIO PITANGA – Exú
TONY TORNADO – Zé Alma Grande
FRANCISCO MILANI – Francisco Mata-Negros
CLÁUDIO MAMBERTI – Pedrito Gordo
IVAN CÂNDIDO – Sarmento
EMILIANO QUEIRÓZ – Professor Fontes
RODRIGO SANTIAGO – Ruy Passarinho
MÁRIO LAGO – Juiz João Reis
LOUISE CARDOSO – Augusta
THAÍS DE CAMPOS – Marieta
NICETTE BRUNO – Joana
MIRIAN PIRES – Carlota
ANNA IWANOW – Kirsi
EDYR DE CASTRO – Sinhá Terência
JOSIAS AMON – Tadeu
DIL COSTA – Miquelina
LUÍS CARLOS ARUTIN – Bonfanti
SOLANGE THEODORO – Dalvina
JOÃO ACAIABE – Benedito
JORGE COUTINHO – Zé da Inácia
ILÉIA FERRAZ – Ivone
GILLES GWIZDEK – Frei Jacques

e
ADALBERTO SILVA – Pai Quinquim (Joaquim Sereno, pai de santo preso por Zé Alma Grande e levado para o Delegado Pedrito Gordo)
ÁLVARO AGUIAR – Raimundo Nonato (promotor no julgamento de Zé da Inácia)
DARTAGNAN JÚNIOR – estudante da Faculdade de Medicina que lidera um movimento contra Nilo Argolo
GABRIELA STORACE (GABRIELA ALVES) – Ester (menina)
GUARACY VALENTE – repórter que registra a prisão de Pai Quinquim e depois entrevista o delegado
JOANA ROCHA – Velha (empregada na casa de Rosa de Oxalá)
JUREMA PENNA – parteira que atende Sabina
LIMA DUARTE – contador de Milagres
LIZANDRA CAMPOS (LIZANDRA SOUTO) – Tereza
MARCELO DOS SANTOS – Damião (menino)
MARIA ALVES – Valdelice (empregada na casa de Augusta e Nilo Argolo)
MARINA MIRANDA – Esperança (empregada na casa de Maria Amélia e Jerônimo)
MÁRIO GUSMÃO – Pai João (fala a Pedro Archanjo sobre a origem dos negros escravos e das famílias baianas)
MESTRE JOÃO
NEWTON MARTINS – policial que faz o serviço sujo a mando do Delegado Sarmento
NILDA SPENCER – Madre Tereza (acolhe Luísa no convento quando ela sai de casa para se casar com Damião)
OTHON BASTOS – Abdala (dono do bar, conversa com Archanjo, no início)
TECA PEREIRA – Dona Caçula (Bernardina da Conceição, mulher de Zé da Inácia)
TELMO AVELAR – Dr. Gervásio (médico que atende a Familia Argolo e Jerônimo quando ele cai de uma árvore)
THIAGO JUSTINO – barqueiro que leva Kirsi do navio ao porto
VINÍCIUS SALVATORI – Meirinho
WELLINGTON BOTELHO – Afonso Boca Suja (morre em uma briga com Zé da Inácia)
Miminha (Minervina, filha de Jerônimo e Rosa de Oxalá que ele leva para morar na sua casa ainda menina)

– núcleo de PEDRO ARCHANJO (Nelson Xavier), mestiço de algum estudo, boêmio e mulherengo, mas fortemente envolvido com a causa do povo negro. Recebe da mãe de santo e guia espiritual de seu povo a mensagem de que foi o escolhido para ser o “Ojuobá”, ou os “olhos de Xangô”, tendo a missão de registrar e divulgar a cultura afrobrasileira e lutar contra o preconceito racial:
o amigo do peito LÍDIO CORRÓ (Milton Gonçalves), pintor, escultor e “riscador de milagres”. Fundador, com Pedro Archanjo, da Tenda dos Milagres, local de encontro dos negros para festas, reuniões e manifestações culturais. Mais tarde, adquire uma máquina de tipografia, na qual passa a imprimir os livros do amigo e os jornais de defesa da causa dos negros
o filho DAMIÃO (Marcelo dos Santos / Joel Silva), do qual sempre alegou ser apenas padrinho. Estudante de Engenharia, ótimo aluno e de futuro promissor, apaixona-se por uma branca, tendo que enfrentar o preconceito do pai da moça
o professor FRAGA NETO (Gracindo Júnior), simpatizante da luta dos negros, lhe arranja um emprego de bedel na Faculdade de Medicina e vira seu protetor dentro da instituição
a amiga ZABELA (Yara Côrtes), senhora simpática, divertida, vivida e viajada. Participa da luta dos negros
as mulheres com quem se envolveu: ANA MERCEDES (Tânia Alves), jornalista, feminista e defensora dos negros, vem do Rio de Janeiro para Salvador com o objetivo de criar um jornal para combater o racismo. Torna-se seu grande amor, ao mesmo tempo em que é perseguida pela repressão da época,
ROSA DE OXALÁ (Du Moraes), bordadeira, companheira de Lídio Corró, apaixona-se por Pedro e vive com ele uma relação conflituosa, já que o escritor reluta em trair o amigo,
SINHÁ TERÊNCIA (Edyr de Castro), com quem teve um breve romance no passado. Ainda nutre um sentimento por ele. Tem um filho, Damião, sobre cuja paternidade sempre se especulou,
MIQUELINA (Dil Costa), jovem insegura, ciumenta e possessiva,
e KIRSI (Anna Iwanow), finlandesa com quem teve um rápido envolvimento.

– núcleo de MAGÉ BASSÃ (Chica Xavier), mãe de santo e guia espiritual dos negros, orienta Pedro Archanjo na tarefa de registrar e catalogar as práticas do candomblé e da cultura africana:
a criada SABINA (Solange Couto), a ajuda no terreiro. Vive um relacionamento impossível com BUDIÃO (Antônio Pompeo) por serem filhos do mesmo santo, Iansã. Após a morte do filho recém-nascido em um incêndio e da separação do casal, Sabina é iniciada pela mãe de santo para se tornar sua sucessora à frente do terreiro, enquanto Budião vai embora para o Rio de Janeiro. Ao retornar mais tarde como mestre de capoeira, ele se envolve com Miquelina
a ajudante no terreiro IVONE (Iléia Ferraz)
o especialista em ervas e plantas curadoras PAI JOÃO (Adalberto Silva), a auxilia nos rituais.

– núcleo de DOROTÉIA (Zenaide Pereira), que incorpora a IABA, entidade que tenta seduzir Pedro Archanjo:
o filho TADEU (Josias Amon), de quem supostamente Pedro Archanjo também é pai, mas diz ser apenas o padrinho. Depois de crescido, segue carreira no Direito, primeiro como auxiliar judiciário e depois como rábula
o EXÚ (Antônio Pitanga), que a acompanha enquanto incorpora a Iaba.

– núcleo de NILO ARGOLO (Oswaldo Loureiro), médico legista e renomado professor da Faculdade de Medicina de Salvador. Primo de Zabela. Ultraconservador, defende ideias racistas e é obcecado pela separação total entre brancos e negros:
a esposa AUGUSTA (Louise Cardoso), jovem e submissa
os filhos: LUÍSA (Júlia Lemmertz), apaixona-se pelo negro Damião, provocando a fúria do pai,
e ASTÉRIO (Daniel Dantas), estudante de Engenharia, colega de Damião
o professor FONTES (Emiliano Queiroz), seu braço-direito e puxa-saco na faculdade
o advogado RUY PASSARINHO (Rodrigo Santiago), seu escolhido para desposar Luísa, contra a vontade da jovem. É, no entanto, um homem mais liberal e compreensivo, discordando das ideias de segregação racial.

– núcleo de JERÔNIMO (Cláudio Marzo), homem de negócios de grande influência política. Chefe de família tradicional, mantém uma relação extraconjugal com Rosa de Oxalá, com quem tem uma filha:
a mulher MARIA AMÉLIA (Maria Isabel de Lizandra), que sempre fez vistas grossas e aceitou calada a infidelidade do marido, bem como a existência de uma filha dele fora do casamento
a filha com Rosa, MIMINHA, que resolve adotar, com o consentimento de Maria Amélia
as filhas com Maria Amélia: MARIETA (Thaís de Campos na segunda fase), mais receptiva a Miminha. Mais tarde, torna-se uma jovem de ideias feministas,
e TEREZA (Lizandra Souto na primeira fase), que, a princípio, rejeita a irmã bastarda
as tias de Maria Amélia: JOANA (Nicette Bruno) e CARLOTA (Mírian Pires), fofoqueiras e preconceituosas
o motorista BENEDITO (João Acaiabe)
a cozinheira (Marina Miranda).

– núcleo de CESARINA (Ângela Leal), dona do bordel da cidade e amiga de Pedro Archanjo:
a protegida ESTER (Gabriela Storace / Tânia Bôscoli), menina vendida pelo pai à cafetina, de quem se torna afilhada e recebe toda a criação para levar uma vida fora do bordel. Após o trauma de ser estuprada, é preparada por Cesarina para se tornar a sua substituta no comando do bordel
a amiga DALVINA (Solange Theodoro), sua fiel escudeira. Sente um certo ciúme de Ester.

– os delegados:
FRANCISCO MATA-NEGROS (Francisco Milani), o primeiro, racista, cruel e violento. Acaba morto por um negro
PEDRITO GORDO (Cláudio Mamberti), o segundo, ainda mais cruel e violento que Francisco. Estuprador de Ester. Deixa a cidade humilhado após a tentativa fracassada de invadir o terreiro de Magé Bassã
SARMENTO (Ivan Cândido), o terceiro, ligado à polícia política, persegue Ana Mercedes.

– outros personagens:
ZÉ ALMA GRANDE (Tony Tornado), negro que passou para o lado dos brancos, é o braço-direito de Francisco Mata-Negros e, depois, de Pedrito Gordo na repressão à cultura africana
JOÃO REIS (Mário Lago), juiz, amigo de Ruy Passarinho e liberal como ele. Dá a Tadeu a oportunidade de iniciar a carreira como rábula
FREI JACQUES (Gilles Gwizdek), padre de mente aberta e espírito ecumênico, acoberta o namoro entre Luísa e Damião
BONFANTI (Luiz Carlos Arutin), italiano, dono da gráfica. Antes de deixar o país vende a máquina de tipografia a Lídio Corró para a impressão dos livros de Pedro Archanjo
o contador de milagres (Lima Duarte), encomenda a primeira tela a Lídio Corró
o dono do bar (Othon Bastos) com quem Pedro Archanjo comenta sobre a mestiçagem e a derrocada do IV Reich, no início da história.

Envolvente adaptação

Belíssima e envolvente adaptação do romance de Jorge Amado que contou produção e direção de bom espetáculo. (“Memória da Telenovela Brasileira”, Ismael Fernandes)

Tenda dos Milagres foi vencedora, em 1986, do Prêmio Ondas, concedido pela Sociedade Espanhola de Rádio e Televisão de Barcelona. (“Almanaque da TV”, Bia Braune e Rixa)

Chica Xavier – constantemente relegada a papéis menores (empregadas ou escravas) – viveu um de seus melhores trabalhos na televisão, a mãe de santo Magé Bassã.

Resultado aquém

Esta foi a minissérie que Aguinaldo Silva mais gostou de escrever. Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, o autor revelou:
“Porque era uma minissérie sobre a história da resistência da cultura negra no Brasil. Esse é o tema do livro: a maneira como essa cultura sobreviveu a todas as pressões, inclusive ao racismo. (…) Escrevi a minissérie com muita paixão, porque, à medida em que escrevia, descobria que a história era sobre isso.”

No entanto, Aguinaldo reconheceu:
“Por problemas de produção e escalação de elenco, o resultado final ficou muito aquém do que a minissérie merecia. Tenho a impressão de que, se fizessem Tenda dos Milagres hoje, com poucas modificações no texto, mas com muitas modificações no elenco e na produção, seria uma obra muito importante e uma grande novidade.”

Produção

Os 30 capítulos foram gravados ao longo de 76 dias, com locações em Salvador e Cachoeira (BA) e cenas em estúdio no Rio de Janeiro. Foi um período de tempo relativamente curto para um projeto que apresentava muitas dificuldades, como grandes movimentações de pessoas, reconstituição do porto da capital baiana e minucioso levantamento arquitetônico em dois períodos (1913 e 1930), além de uma detalhada pesquisa de figurinos, costumes e rituais de candomblé.

A trilha sonora, produzida por Guto Graça Mello, contou com dez canções inéditas, além de músicas próprias do culto aos orixás. As músicas incidentais foram feitas por Dori Caymmi, Sérgio Saraceni e Aluísio Didier.

Jorge Amado

Embora Jorge Amado fosse um dos mais vendidos autores brasileiros, Tenda dos Milagres era até então uma obra pouco lida. Em agosto de 1985, enquanto a minissérie era exibida, a venda do livro aumentou cerca de dez vezes em comparação à média dos meses anteriores.

Jorge Amado foi autor mais adaptado para a televisão. Além de Tenda dos Milagres: Gabriela (1975 e 2012), Terras do Sem Fim (1981), Tieta (1989), Capitães de Areia (1989), Tereza Batista (1992), Tocaia Grande (1995), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998), Porto dos Milagres (2001 – adaptação dos romances Mar Morto e A Descoberta da América pelos Turcos), Pastores da Noite (2002) e alguns casos especiais inspirados em sua obra.

01. MILAGRES DO POVO – Caetano Veloso (tema de abertura)
02. LIVRE – Beth Bruno (tema de Ana Mercedes)
03. OLHOS DE XANGÔ (AFOXÉ) – Moraes Moreira
04. É D’OXUM – MPB 4 (tema geral)
05. ELOIÁ – Dudu Moraes (tema de Sabina e Budião)
06. FLOR DA BAHIA – Nana Caymmi (tema de Damião e Luísa)
07. OIÁ – Danilo Caymmi
08. AMOR DE MATAR – Tânia Alves (tema de Dorotéia/Iaba)
09. AFOXÉ – Dorival Caymmi
10. MALUCO PRA TE VER – Walter Queiroz

Produção musical: Guto Graça Mello

Tema de abertura: MILAGRES DO POVO – Caetano Veloso

Quem é ateu
E viu milagres como eu
Sabe que os Deuses sem Deus
Não cessam de brotar
Nem cansam de esperar e o coração
Que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão
Não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória
E paira para além da história

Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar
Obatalá guia
Mamãe oxum chora
Lágrimalegria
Pétala de Iemanjá
Iansã-oiá ria
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia

Obá é no xaréu
Que brilha prata luz no céu
E o povo negro entendeu
Que o grande vencedor
Se ergue além da dor
Tudo chegou
Sobrevivente num navio
Quem descobriu o Brasil
Foi o negro que viu
A crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres
De fé no extremo ocidente

Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Obá

Quem é ateu?…

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